ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE
A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), instância máxima da Igreja Católica no país, divulgou na quinta-feira, dia 12, nota sobre a realidade atual do Brasil em que alerta para possível enfraquecimento do Estado democrático de direito frente ao que define como “delicado momento pelo qual passa o país”, em alusão aos casos de corrupção na Petrobras e à reprovação a políticas do governo Dilma Rousseff (PT) por parte de setores da população brasileira.
O texto foi aprovado na reunião do Conselho Permanente da conferência realizada de segunda a quarta-feira, dias 10 a 12. “O que nós devemos procurar fazer é estabelecer cada vez mais um diálogo entre as diversas instituições, entre os poderes constituídos, a sociedade, as entidades da sociedade civil”, afirmou o arcebispo de Aparecida (SP) e presidente da CNBB, cardeal Raymundo Damasceno Assis, em entrevista coletiva na sede da instituição, em Brasília.
Dom Damasceno ainda ressaltou a necessidade de preservar o Estado democrático de direito. “Depois de muitos anos difíceis pelos quais passamos durante o período do regime militar, creio que em nenhum momento deve ser quebrada essa ordem democrática”, salientou. Quanto às manifestações, o presidente da CNBB as considerou normais dentro do regime democrático para que as pessoas reivindiquem seus direitos e demonstrem sua insatisfação.
“Essas manifestações são legítimas contanto que transcorram no respeito ao patrimônio público e particular, às pessoas que participam. Mas na medida em que podem se transformar em manifestações de desrespeito à ordem pública, ao patrimônio público, às pessoas, evidentemente que isso cria um clima de intranquilidade, de insegurança e de violência que não contribuem em nada para a manutenção do Estado de direito, democrático”, enfatizou.
O secretário-geral da CNBB, dom Leonardo Steiner, falou da importância dos posicionamentos diferentes mostrados nas ruas. “A reação que sentimos também é que as manifestações de rua são de discordância, muitas vezes ideológica, o que é normal e, diria, inclusive, necessária e democrática”, considerou. Na reunião, os bispos deram continuidade à preparação para a 53ª Assembleia Geral da CNBB, em que a realidade do país deverá ser mais debatida.
Leia na íntegra a nota da CNBB sobre a realidade atual do Brasil:
“Pratica a justiça todos os dias de tua vida e
não sigas os caminhos da iniquidade” (Tb 4, 5)
O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunido em Brasília-DF, nos dias 10 a 12 de março de 2015, manifesta sua preocupação diante do delicado momento pelo qual passa o País. O escândalo da corrupção na Petrobras, as recentes medidas de ajuste fiscal adotadas pelo Governo, o aumento da inflação, a crise na relação entre os três Poderes da República e diversas manifestações de insatisfação da população são alguns sinais de uma situação crítica que, negada ou mal administrada, poderá enfraquecer o Estado Democrático de Direito, conquistado com muita luta e sofrimento.
Esta situação clama por medidas urgentes. Qualquer resposta, no entanto, que atenda ao mercado e aos interesses partidários antes que às necessidades do povo, especialmente dos mais pobres, nega a ética e desvia-se do caminho da justiça. Cobrar essa resposta é direito da população, desde que se preserve a ordem democrática e se respeitem as Instituições da comunidade política.
As denúncias de corrupção na gestão do patrimônio público exigem rigorosa apuração dos fatos e responsabilização, perante a lei, de corruptos e corruptores. Enquanto a moralidade pública for olhada com desprezo ou considerada empecilho à busca do poder e do dinheiro, estaremos longe de uma solução para a crise vivida no Brasil. A solução passa também pelo fim do fisiologismo político que alimenta a cobiça insaciável de agentes públicos, comprometidos sobretudo com interesses privados. Urge, ainda, uma reforma política que renove em suas entranhas o sistema em vigor e reoriente a política para sua missão originária de serviço ao bem comum.
Comuns em épocas de crise, as manifestações populares são um direito democrático que deve ser assegurado a todos pelo Estado. O que se espera é que sejam pacíficas. “Nada justifica a violência, a destruição do patrimônio público e privado, o desrespeito e a agressão a pessoas e Instituições, o cerceamento à liberdade de ir e vir, de pensar e agir diferente, que devem ser repudiados com veemência. Quando isso ocorre, negam-se os valores inerentes às manifestações, instalando-se uma incoerência corrosiva, que leva ao seu descrédito” (Nota da CNBB 2013).
Nesta hora delicada e exigente, a CNBB conclama as Instituições e a sociedade brasileira ao diálogo que supera os radicalismos e impede o ódio e a divisão. Na livre manifestação do pensamento, no respeito ao pluralismo e às legítimas diferenças, orientado pela verdade e a justiça, este momento poderá contribuir para a paz social e o fortalecimento das Instituições Democráticas.
Deus, que acompanha seu povo e o assiste em suas necessidades, abençoe o Brasil e dê a todos força e sabedoria para contribuir para a justiça e a paz. Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, interceda pelo povo brasileiro.
Brasília, 12 de março de 2015.
Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida (SP)
Presidente da CNBB
Dom José Belisário da Silva, OFM
Arcebispo de São Luís (MA)
Vice-presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich Steiner, OFM
Bispo-auxiliar de Brasília
Secretário-geral da CNBB