Ney paga R$ 1,5 milhão de cachê no ‘Carnanejo’, e deixa PSs sem médico e atrasa escola para deficiente

Alardeado como comemoração ao aniversário de Embu, festival acontecerá de 17 a 21 de fevereiro; só com os artistas famosos, prefeitura vai gastar R$ 1.415.000,00

Especial para o VERBO ONLINE

Ney anuncia shows com sertanejos em Embu; além de PSs sem médicos, pais de crianças com deficiência denunciam atraso na reforma da Escola Armando Vidigal | Divulgação

O governo Ney Santos (Republicanos) vai realizar um festival com vários nomes famosos da música sertaneja durante o Carnaval, o “Carnanejo”, com pagamento de cachê de quase um milhão e meio de reais, enquanto oferta atendimento precário à população em muitos serviços públicos essenciais, principalmente na saúde e educação, como a falta de médicos nos prontos-socorros e a não conclusão de reforma de escola para crianças com deficiência.

No fim de dezembro, conforme o VERBO mostrou, um menino de 7 anos não foi atendido em Embu das Artes mesmo ao gemer de dor no abdômen. “Não tinha médico na pediatria. Minha prima pediu na recepção que chamasse mesmo um clínico. Disseram que não teria como. Um PS infantil [Centro] não ter médico é um absurdo, e me fez relembrar vários episódios de descaso”, relatou a mãe Danielle Alves, que só conseguiu atendimento ao garoto em outro município. 

Não foi um caso pontual. Em mensagem e áudio divulgados no início do ano, a secretária-adjunta Vanessa da Silva (Saúde) admitiu o mesmo problema na UPA Santo Eduardo. “Estamos sem o médico das 22:00 hs e os médicos da pediatria não vão atender normalmente. Preciso de um médico de referência da empresa médica (que atenda pediatria e porta)”, escreveu. “Já tem criança aguardando atendimento e não tem nenhum pediatra para atender”, falou.

Segundo funcionários, porém, “o médico não comparece por falta de pagamento”, por Ney não fazer repasses de recursos previstos em contrato à gestora dos PSs. O fato, porém, é só mais um “sintoma” do quadro de “UTI” da saúde local, marcada por escassez de remédios e insumos, calote no pagamento de salários e rescisões a cada troca (“suspeita”) de gestora, corrupção milionária na contratação da AMG (R$ 40 milhões) e morte de pelo menos dez pacientes por negligência.

Na educação, Ney abandonou a reforma da tradicional biblioteca central de Embu e deixou o prédio em ruínas. A placa da obra, que ainda resiste, revela o descaso. Com previsão de término em janeiro de 2022, a recuperação do espaço, entre outros dois equipamentos, era para estar finalizada há mais de um ano, ao custo de mais de meio milhão de reais (R$ 527.752,70) – com recurso também federal, o prefeito deverá ser investigado sobre o que fez com o dinheiro.

Ney se mostra “desumano” até com os mais frágeis. No ano passado, ele não reformou a escola Armando Vidigal, no Jardim São Marcos, e deu “boas-vindas” aos alunos com deficiência na volta às aulas com o prédio totalmente comprometido. “Tenho medo de minha filha ir e cair a parede em cima dela”, disse o morador Raimundo de Azevedo, aflito. No fim de 2021, com o colégio já sucateado, o Executivo, após pressão dos pais, prometeu recuperar o espaço. Não cumpriu.

Após muita luta das famílias, o governo – que chegou a alegar falta de verba – comprometeu-se, enfim, a revitalizar a escola para o início do ano letivo neste ano. Mas o colégio ainda está em reforma. “O secretário havia prometido entregar no dia 6, hoje, quando voltam as aulas. Infelizmente, a obra não está concluída. O secretário pediu mais prazo, e novo prazo é 27 de fevereiro”, criticou o vereador Abidan Henrique (PSB), em vídeo, ao lado de pais de “PCDs”, na segunda.

“A gente precisa da sua ajuda [dos moradores] para cobrar a prefeitura para terminar a obra. Porque não é a primeira vez que eles pedem mais tempo. E é engraçado, a prefeitura está gastando quase 2 milhões de reais num show, o ‘Carnanejo’, com artistas de fora vindo se apresentar na cidade, quando a gente está precisando de recurso para terminar as obras da nossa cidade. A gente está indignado”, afirmou o vereador, sob palmas de um menino com deficiência.

O festival, alardeado como comemoração ao aniversário de Embu (64 anos), acontecerá de 17 a 21 de fevereiro, gratuito, no Parque Francisco Rizzo (Centro). Entre as atrações, estão Felipe Araújo, Eduardo Costa, Gian e Giovani, Edson e Hudson, Fernando e Sorocaba, e Barões da Pisadinha. Só com os artistas anunciados, fora outros, o governo Ney vai gastar R$ 1.415.000,00. A administração ainda terá gasto com montagem de palco e toda a estrutura para promover o evento.

Detalhadamente, dos cofres municipais, Ney gastará R$ 230.000,00 com Felipe Araújo (RAF Produções Artísticas); R$ 280 mil com Eduardo Costa (EC13 Produções Eireli); R$ 330.000,00 com Gian e Giovani, Edson e Hudson (Live Talentos Agenciamento, Produção e Publicidade); R$ 245.000,00 com Fernando e Sorocaba José Carlos de Assis Produções Artísticas); R$ 330.000,00 com Os Barões da Pisadinha (Os Barões da Pisadinha Produção Musical), uma “fábula” para um município pobre.

Ney ainda contratou os sertanejos por “inexigibilidade de licitação”, sem processo de busca por melhor preço, sob alegação de os shows serem “exclusivos” e sem “concorrência”. Por outro lado, enquanto privilegia atrações de fora e caras, o Executivo destinou ao fomento à cultura local – aos artistas da cidade – apenas R$ 35.000,00 para o ano inteiro. “Pão e circo. Em Embu das Artes só circo. O pão acabou há anos”, criticou um pai de criança com deficiência do município.

OUTRO LADO
O prefeito se manifestou após a publicação da reportagem – ele vinha se negando a responder aos contatos do VERBO, como ao ser questionado sobre ter abandonado a reforma da biblioteca central, no dia 28 de dezembro, e acerca da falta de pediatra para o menino que gritava de dor, em 4 de janeiro. Agora, ele se pronunciou, mas se limitou a ser agressivo. “Ô jornaleco de bosta, muito obrigado pela informação. Jornaleco carniceiro”, disse Ney, em dois breves áudios.

* reportagem atualizada para inclusão da declaração de Ney Santos

OUÇA A RESPOSTA DE NEY SOBRE PAGAR CACHÊ MILIONÁRIO A ARTISTAS FAMOSOS E OFERTAR SERVIÇOS PRECÁRIOS À POPULAÇÃO

VEJA GASTOS DA PREFEITURA DE EMBU DAS ARTES COM ARTISTAS PARA ‘CARNANEJO’

Imagem: Reprodução

comentários

  • Ney Santos não pagou os profissionais da saúde dentre enfermagem e administrativo também e mandou muitos funcionários embora porque revindicaram e não pagou nenhuma recisão até agora de bosta é o governo dele gente suja sem respeito golpistas isso sim e tenho provas

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