Médicos de Embu reclamam de falta de pagamento; ‘tem de enfiar a mão na cara de alguém para receber’

Diálogos dramáticos expõem profissionais dizerem que não farão mais plantão por conta de 'calote'; menino com dor não foi atendido por PS não ter sequer um pediatra

Especial para o VERBO ONLINE

Menino que geme de dor não é atendido no PS de Embu, sem pediatra; Hospital do Vazame (Complexo de Saúde), onde médico disse ser preciso ir às vias de fato para receber | Verbo

A rotina de pequeno número e até falta de médicos nos prontos-socorros municipais de Embu das Artes – como no recente caso da criança que mesmo aos gritos de dor não foi atendida no PS Infantil por conta de não ter nenhum pediatra, no dia 30 – tem “diagnóstico” revelador do “descaso” do governo Ney Santos (Republicanos). Troca de mensagens expõe a disposição de profissionais de abandonar plantões de atendimento aos pacientes por ficarem sem pagamento.

Os diálogos em um grupo (rede social) de médicos e com participação de funcionários da empresa gestora dos PSs de Embu – INCS (Instituto Nacional de Ciências de Saúde) – divulgados no início do mês, a que o VERBO teve acesso, mostram a situação dramática da gestão da saúde municipal, a ponto de um contratado sugerir ir às vias de fato para receber, em exposição de que os profissionais não comparecem ao trabalho por estarem desmotivados pelos atrasos.

Na troca de mensagens sobre o trabalho nas unidades em Embu, um médico fala não ter recebido pelos plantões realizados. “Ninguém entrou em contato comigo. Mais alguém foi ignorado? Ou só eu?”, diz. Em sinal de que a empresa teria pago só a alguns profissionais, um colega, possivelmente, diz: “Sairá hoje o pagamento de quem está faltando? Algum [sic] dos que estavam atrasados já receberam? Ou entraram em contato para cobrar alguma pendência [?]”.

Apenas parte dos médicos teria recebido, o que é questionado. “Qual será o critério utilizado pra pagar só alguns? Será que quem não recebeu merece menos que os outros?”, diz um contratado. Ele reforça: “Alguém mais não recebeu?” Colegas se manifestam. “Eu não recebi”, responde um. “Eu não respondi”, fala outro. Um terceiro dá a mesma resposta e indaga: “Será que cai hoje?”. Mais um profissional fala: “Eu não recebi. Também não me responderam no privado”.

Mais dois médicos falam também que estão sem receber. “Será que esqueceram? Alguma notícia?”, questiona um. Outros quatro colegas dizem “também não”. “Não”, responde mais um. Ele acrescenta ao se referir à empresa médica contratada – “quarteirização” do atendimento. “Inclusive, tem pessoas que não receberam desde o calote de outubro de 2021… quando ainda era Medplus”, comenta. “Nada ainda?? Será que cai hoje?”, cobra outro contratado.

Sem pagamento, mais um médico indaga: “Será que vai hoje o do restante?” Um profissional responde que não querer mais trabalhar em Embu. “Essas coisas só resolve assim! Fujam enquanto é tempo. Eu não voltei mais. Mas quero os de setembro”, diz, em possível referência a valores de três meses atrás não recebidos. Após outro perguntar sobre “alguma posição”, um colega diz, aparentemente não surpreso: “Provavelmente a mesma… sem explicação e sem previsão”.

Um médico, farto, reage. “Tendo em vista a falta de informação, transparência e posicionamento, estou passando todos meus plantões até o pagamento seja feito”, diz. Um colega orienta. “Entregando com 48hr de antecedência você não precisa arranjar alguém para te substituir. Só avisar a empresa”, fala. Outro aproveita para comentar sobre algumas empresas. “Mesmo à vista não dá para confiar. Só dá para aceitar se for pagamento antecipado”, alerta.

Ao indicar ter sido informado pela empresa, um médico volta a reclamar sobre apenas alguns terem sido pagos. “Qual o critério para os que receberam? São melhores dos que os outros?”, questiona. Uma funcionária da empresa, finalmente, dá uma resposta, no grupo, aos contratados. “Não, dr. De forma alguma, todos têm a mesma importância. E sim a intenção é que todos, sem exceções, estejam quitados o mais breve possível”, diz, sem apresentar, porém, prazo.

Um médico fica indignado, e chega a citar o local de trabalho, o Hospital Leito do Vazame (HLV) – que passou a ter o pomposo nome de “Complexo Municipal de Saúde”. “Gente, não adianta nada a gente ficar brigando aqui no grupo para receber o que é nossos direitos. Tem que ir pessoalmente lá no HLV enfiar a mão na cara de alguém pra conseguir receber. Esse povo caloteiro não tem vergonha na cara não, estão rindo da nossa cara com a gente brigando aqui”, reage.

O contratado fala em abandonar o atendimento nos PSs do município, sob gestão da INCS, e alertar colegas para não trabalhar “nesse lugar”. “Eu vou lá no HLV essa semana e vou levar polícia e advogado junto. E a gente precisa criar vergonha na cara e parar de pegar plantão nesse lugar e espalhar pra todos os médicos não pegarem plantão nesse lugar porque são caloteiros, e deixar essa empresa se fuder pra arrumar médico para colocar na escala”, protesta.

OUTRO LADO
O VERBO procurou o INCS para falar sobre a reclamação dos médicos de atraso no pagamento e aguarda posicionamento da empresa. Após várias queixas da população, só ontem Ney anunciou que a organização “está sendo notificada para que encerre sua prestação de serviços e se retire do nosso município”. Mas o INCS diz que a gestão Ney é que atrasa, segundo contratados. “Ele culpa a prefeitura de Embu sobre o não repasse de dinheiro”, diz uma funcionária.

VEJA PARTE DAS MENSAGENS DE MÉDICOS DOS PSs DE EMBU EM PROTESTO POR FALTA DE PAGAMENTO

Imagens: Reprodução

VEJA NOTA DA PREFEITURA DE EMBU SOBRE O ATENDIMENTO DA ORGANIZAÇÃO SOCIAL DE SAÚDE INCS
“A Prefeitura de Embu das Artes informa que a OSS Instituto Nacional de Ciências da Saúde (INCS), que atualmente gerencia a saúde no município de Embu das Artes, está sendo notificada para que encerre sua prestação de serviços e se retire do nosso município.
No entanto, apesar do atraso no atendimento, pois os médicos da referida empresa não assumiram o plantão, os serviços continuam normalmente. A Prefeitura assumiu o serviço e garantiu o atendimento médico para a população, inclusive, a escala já está completa em todos os equipamentos de saúde.
Os serviços prestados por esta organização social só estarão em atividade no período de transição para uma nova Organização Social que assumirá os serviços após processo de licitação.
A empresa citada além de ser notificada, poderá ficar inabilitada para prestar seus serviços em outros municípios, tendo em vista graves irregularidades contratuais ocorridas em Embu das Artes, principalmente na ausência de profissionais para atendimento de nossos pacientes.
Estamos ainda aplicando multas previstas no contrato que superarão o valor de R$ 15 milhões pela falta de médicos e insumos, prestação de serviços de má qualidade, apresentação de prestação de contas incompletas, entre outras irregularidades.
Nosso compromisso é com a população, temos trabalhado diuturnamente para entregarmos um bom serviço para nossos munícipes e não vamos aceitar que nosso povo seja prejudicado.
Já trocamos três vezes as OSS que administravam os serviços de saúde da cidade, e trocaremos quantas vezes forem necessárias, para que tenhamos um serviço digno do nosso povo.
Continuaremos fiscalizando todos os serviços prestados em nosso município, para que o povo seja tratado com respeito, e os recursos públicos sejam investidos com eficiência.”


comentários

  • Essa prefeitura aí é muito safada isso sim , não faz repasse é ainda culpa as OS .
    Não e a primeira vez e o povo paga tudo.

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