ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
O ex-governador de São Paulo Luiz Antônio Fleury Filho morreu nesta terça-feira (15), na capital paulista, em casa, aos 73 anos. Ele sofreu complicações após transplante de fígado e faleceu de insuficiência cardíaca. Nascido em São José do Rio Preto (SP), Fleury foi policial militar, nos anos 1960 e 1970, e promotor de Justiça, a partir de 1974. Em 1987, ele foi nomeado secretário estadual de Segurança, até meados de 1990, no governo Orestes Quércia (então PDMB).
Lançado à sucessão estadual pelo “padrinho político”, Quércia, Fleury acabou eleito governador de São Paulo – após ficar em segundo no primeiro turno, venceu com 51,77% dos votos, contra 48,23% de Paulo Maluf (então PDS). Ele governou o Estado de 1991 a 1994, e teve a gestão marcada pelo que ficou conhecido como massacre do Carandiru. Em 1992, a invasão da Polícia Militar à Casa de Detenção, durante rebelião, resultou na morte de 111 presos.
Durante a operação no presídio, na zona norte da capital (já extinto), Fleury estava no interior e disse que não deu a ordem para a PM entrar. No julgamento dos PMs denunciados no caso, ele disse que a ação foi necessária e legítima, mas não foi nem investigado – foi ouvido como testemunha. Fleury é citado na música “Diário de um Detento”, do Racionais, que o responsabiliza pelo massacre. Na região, ele inaugurou a delegacia central de Embu das Artes.
Fleury é lembrado também por incentivar a partipação dos paulistas na gestão dos recursos do então recém-criado SUS. “O governo Fleury deixou um legado para a saúde pública, um legado jurídico-institucional. Criamos o Conselho Estadual de Saúde, criamos a Comissão Intergestora. O primeiro código de saúde foi desenvolvido em São Paulo naquele período”, disse o médico Carmino de Souza, que foi secretário estadual de Saúde de Fleury em 1993 e 1994.
O vice-presidente eleito e ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB), que era adversário político de Fleury à época, também ressaltou que o ex-governador “estimulou a participação”. “Eu até não participei do seu governo, mas ele criou o Conselho de Desenvolvimento do Estado, em que participavam trabalhadores, empresários, sociedade civil [em geral]. Ele procurou abrir mais o governo à participação da sociedade”, destacou, ao chegar ao velório.
Fleury foi o governador que recebeu a seleção brasileira de futebol tetracampeã (Copa do Mundo nos Estados Unidos) no Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi (zona sul de SP), em 29 de julho de 1994 – o repórter do VERBO acompanhou na ocasião. A sede do governo paulista foi invadida por cerca de 3 mil pessoas que queriam ver os ídosos. Dezesseis jogadores e o auxiliar técnico Zagallo estiveram presentes e tiveram almoço oferecido por Fleury.
Após ser governador, Fleury foi eleito deputado federal por dois mandatos (1999-2002 e 2003-2006). Desde 2010 ele estava afastado da política. Velado na capital, ele será cremado na região, no Cemitério Valle dos Reis, em Taboão da Serra. O governador Rodrigo Garcia (PSDB), também nascido em Rio Preto, disse que Fleury “sempre valorizou a força do interior”. O governador eleito Tarcísio de Freitas (Republicanos) prestou condolências à família e amigos de Fleury.
O ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT) também expressou pêsames. “Fomos colegas governadores, ele de SP e eu do CE. No episódio do sequestro de Dom Aloísio Lorscheider [arcebispo de Fortaleza, durante rebelião de presos], Fleury nos ajudou enviando uma equipe da polícia de SP especializada em libertação de reféns”, publicou. À época, Fleury despontava como nome a presidente da República em 1994. Mas, com o massacre do Carandiru, viu o sonho acabar.