Pastor diz para votar ‘na direita’, mas fiel rejeita; padre indica Bolsonaro ‘armado’

Especial para o VERBO ONLINE

Tempo da Universal no Santa Tereza onde pastor disse para votar 'na direita', mas fiel não atendeu; padre Gian, bolsonarista, posa com caneca | Verbo/Divulgação

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes

Um pastor da Igreja Universal do Reino de Deus disse para os fiéis votarem “na direita”, mas uma frequentadora rejeitou, e um padre indicou aos católicos o voto no presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) com apologia ao armamento, sem ser questionado por superiores. Bolsonaro e o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disputam o segundo turno da eleição à presidência neste domingo (30). Os dois líderes religiosos são da região.

O pastor José (sobrenome não informado), do templo da Universal no Jardim Santa Tereza, em Embu das Artes, indicou o voto em Bolsonaro, mesmo não nominalmente, segundo a fiel. “Na reunião [culto], ele falou sobre a política. Falou assim: ‘Praticamente, não sou muito de política. Eu não vou dizer em quem vocês vão votar. Mas vocês têm que votar para a direita. A esquerda é do mal, e a direita é do bem'”, relata ela – que terá o nome preservado.

No entanto, a fiel não escondeu ter ficado contrariada e foi falar com o religioso após a pregação. “Depois da reunião, eu falei: ‘Olha, pastor, eu vou falar uma coisa para o senhor. O senhor estava conversando a respeito de presidente, mas eu já vou deixar ciente para o senhor: a gente tem a escolha da gente, não é [não se deve dizer] para votar em um ou outro, é o direito nosso escolher. E já tenho a minha preferência”, disse a evangélica, idosa, semialfabetizada.

Ao falar sobre a postura, louvável, a fiel reforçou a convicção. “Eu falei: ‘Pastor José, nós [fiéis] não podemos dizer a vocês que vamos votar naquele’. Ele balançou a cabeça e falou: ‘Está bom’. A gente nunca vai pelo pastor, vai por Deus. Ele tem o Espírito Santo para nos dirigir, mas cada um sabe o que faz. Acho que não estou fazendo nada errado. Vou por mim. E ninguém vai saber em quem votei. O importante é que quem ganhe faça as coisas”, afirmou.

No catolicismo, o padre Gian Ruzzi fez um vídeo ainda no primeiro turno para indicar voto em Bolsonaro. “Quem me conhece sabe que nos mais de dez anos de padre eu nunca fiz propaganda político-partidária. Porém, o papa Bento 16 nos disse que em situações extremas em que a fé e a moral estão em grande risco os pastores da Igreja não devem se omitir em denunciar e apoiar aquelas pessoas que estão contra este movimento anti-cristão”, disse.

“Eu não quero fazer uma grande defesa de Bolsonaro. Mas o Lula prometeu perseguir os cristãos, tirar as armas, censurar a imprensa, legalizar o aborto, legalizar as drogas. […] Eu gostaria de indicar a todos – é apenas uma indicação, evidentemente – […] Bolsonaro para presidente”, falou Ruzzi, da Paróquia Todos os Santos em Embu, em setembro. O padre desfiou, porém, “fake news”, o plano de governo de Lula não defende as propostas que listou.

Identificado como um padre da ala ultraconservadora da Igreja Católica, Ruzzi tem um posicionamento político conhecido, de extrema direita. Ele chamou a atenção, porém, por conta de outra publicação. Ele postou no Instagram uma foto com uma caneca com desenho dele apontando uma arma de fogo, com a legenda de que uma amiga produziu o item para “ajudar na compra dos bancos da paróquia” e o pedido “compre sua caneca opressora!”

OUTRO LADO
Procurado na igreja da Universal no Santa Tereza, o pastor José estava no templo – onde mora -, mas não atendeu o VERBO. Ele foi avisado por uma auxiliar via WhatsApp de que era procurado pelo repórter. “Quando ele ver a mensagem, vai descer”, disse a jovem. Mas o religioso não apareceu, mesmo sem saber o assunto. Ele teria evitado falar com a imprensa. “Fecharam a porta”, disse outro membro, sobre o acesso às dependências do pastor.

Este portal também foi à paróquia no Jardim Santa Emília, onde o padre atua. Ruzzi não estava. Ele ia chegar à igreja para celebrar, mas a secretária disse que Ruzzi não atende sem agendar, mesmo antes ou depois da missa. Questionado sobre o sacerdote posar de caneca com a própria imagem ao apontar uma arma de fogo, o padre Rodrigo da Silva, assessor de imprensa da Diocese de Campo Limpo (Igreja Católica na região), ficou em silêncio.

A Igreja Católica é contrária ao armamento. No ano passado, no dia de Nossa Senhora Aparecida (12 de outubro), na missa solene no Santuário Nacional, o arcebispo dom Orlando Brandes pregou que “para ser pátria amada não pode ser pátria armada”. Diferente de Ruzzi, um outro padre da diocese rejeitou as manifestações do colega. “Complicado. Eu sou totalmente contrário a arma e sobretudo à reflexão do facínora que ‘governa’ este país”, disse à reportagem.

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