ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
Antes de ser demitido do cargo de secretário de Segurança de Taboão da Serra após agredir uma mulher indefesa com um soco, Rodrigo Falcão apontou uma arma para um funcionário da prefeitura dentro da Secretaria de Manutenção, na Usina, em novo episódio de abuso de poder e arbitrariedade do então auxiliar do prefeito Aprígio (Podemos). No dia 19 passado, Falcão foi exonerado da chefia da pasta. Ele ameaçou o servidor no início deste mês.
Falcão foi flagrado ao sacar a arma para o servidor público por câmera de segurança da própria Usina. A filmagem mostra o então secretário chegar em um carro claro e parar na entrada. No banco do passageiro, ele desce e após entrar o veículo em que estava e um outro, preto, logo atrás, além de mais dois em seguida, ele tenta baixar a cancela. Como não consegue, decide fechar o portão. O funcionário chega, desce do carro e reabre ao precisar sair.
Quando o servidor entra de volta no carro, Falcão surge, vai para a frente do veículo e saca uma pistola contra o funcionário já ao volante. O então secretário fala algo e sinaliza para o motorista descer, mas aparentemente não é atendido. Ele guarda a arma, vai para o lado do condutor, fala como aos gritos e abre a porta do carro. Com o funcionário já do lado de fora, esbraveja. O servidor ouve, reage sem se exaltar e não entra na “pilha” de Falcão.
O vídeo começou a viralizar na prefeitura e na cidade na sexta-feira (21), quando o VERBO o recebeu de fonte do governo. Este portal localizou e falou com o servidor, que vai identificar por como é conhecido, Falamansa – para evitar eventual nova violência de Falcão. Ele explicou o que chamou de “imprevisto”. O fato foi em 1º de outubro, sábado, mas, segundo ele, era um dia de trabalho, a serviço da Justiça Eleitoral – era véspera do 1º turno das eleições.
“Ao sair, vi o portão fechado, estranhei, naquele horário sempre está aberto, e era hora dos carros saírem, logo cedo. Aguardei um pouco. Vi que não tinha porteiro, desci e abri o portão. Quando entrei no carro, ele falou ‘é, depois que você sair desce e fecha o portão'”, contou Falamansa. Ele discordou. “Achei um desaforo. Falei ‘sempre teve porteiro ali, se todo mundo que for entrar e sair tiver que descer do carro para abrir e fechar ninguém trabalha'”, disse.
“Ele falou ‘então você não vai sair’ e entrou na frente do carro. Foi a hora que ele sacou a arma e apontou para mim. Ele queria que eu descesse para fechar o portão. Falei que não. A gente estava indo trabalhar, tinha um monte de carro para sair, tinha mais de 20 que ia sair aquele hora. A gente ia tudo trabalhar no cartório, na véspera da eleição”, detalhou o servidor. Falamansa não conhecia o então secretário municipal. “Achei que era porteiro”, comentou.
“Eu pensei ‘quem é esse cara?’, ‘que ridículo’. Desci do carro e falei ‘o que está acontecendo, está louco, apontando a arma para mim?’ Ele falou uma coisas, falou que não tinha porteiro, não tinha GCM [guarda municipal]. Eu falei ‘não tenho nada a ver com isso, estou indo trabalhar, como você vem puxar revólver para mim, está louco?'”, relatou ainda o funcionário municipal. “Aí ele falou ‘pode ir que eu fecho o portão’. Vi que ele estava meio perturbado”, disse.
“Pelo vídeo você vê que ele já chega perturbado, desce do carro ‘causando’, brigando, atrapalhando todo mundo”, falou Falamansa, sobre as imagens que viu logo depois. Ele reprovou o ato de Falcão. “Ele estava errado, lógico. Ele não tinha direito de fazer isso, até porque não tinha motivo nenhum. Eu estava saindo para trabalhar, carro oficial da prefeitura, todo adesivado. É lamentável. Mas vi que não se trata de pessoa normal, ele tem problema”, afirmou.
Falamansa, que condenou a atitude do secretário ainda mais pelas circunstâncias, disse que Falcão abusou da autoridade. “Com certeza. Está filmado, para todo mundo ver. Eu estava trabalhando”, disse. Ele contou que em 18 anos de prefeitura nunca tinha passado pela situação de ter arma apontada para si no ambiente profissional e ficou surpreso. “Ah é, quem não fica, né? A gente não está esperando, e no próprio ambiente de trabalho”, lamentou.
Falamansa disse, porém, que depois soube que Falcão é delegado e também tomou conhecimento de que o então secretário já tinha se voltado contra outros servidores na prefeitura, inclusive atacou e agrediu até fisicamente. “Não foi só comigo não. Depois fui procurar ver e soube que ele já teve muitas desavenças. Mas é um delegado, né? Isso quem tem que ver é a Corregedoria [da Polícia Civil]. O vídeo, não fui eu que enviei, mas está rodando”, falou.
O servidor não relatou o caso ao superior hierárquico. “Não, até porque ele [Falcão] era o secretário do prefeito. Ele [chefe] ficou sabendo pelo próprio pessoal [colegas]. Todo mundo viu. Durante a semana, o diretor veio falar comigo para saber o que houve. E contei”, disse. Ele não levou o caso ao prefeito. “Vou reclamar para ele do secretário dele? Ele sabe com quem está lidando. E ainda mais depois que fiquei sabendo que ele [Falcão] fez coisa pior”, declarou.
Falamansa tem o apelido pela calma em falar e por ser pacífico. “Ah, é? Na medida do possível”, disse, rindo. “Ele [Falcão] é digno de dó, coitado. Precisa de um tratamento. Tem que procurar um terapeuta, psicólogo. É alterado desnecessariamente. Delegado, além de estudo, precisa ter preparo psicológico, senão a pessoa pode fazer mal para ela ou para alguém. Mas não quero o mal dele, não. Que ele procure ajuda e seja uma pessoa melhor”, finalizou.
OUTRO LADO
Questionado sobre a necessidade de ter apontado uma arma de fogo ao motorista da prefeitura, Falcão respondeu “combustíveis”. Indagado por que, foi evasivo. “Porque sim”, disse. Este portal perguntou ao prefeito que providência tomou, se “abriu sindicância para apurar a conduta do então secretário”. Apesar de ser responsável pela integridade dos servidores municipais, Aprígio de novo silenciou. Ele é acusado de “omisso” sobre as arbitrariedades de Falcão.
VEJA VÍDEO EM QUE FALCÃO, ENTÃO SECRETÁRIO, APONTA ARMA PARA SERVIDOR DA PREFEITURA NA USINA