ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
O prefeito Ney Santos (Republicanos), de Embu das Artes, réu e que chegou a ter a prisão decretada pela Justiça por associação a facção criminosa, tráfico de drogas e lavagem de dinheiro, usou as redes sociais na quinta-feira (22) para ameaçar o governador e candidato à reeleição Rodrigo Garcia (PSDB). Ele falou em “revelar detalhes” do que o irmão do tucano, Marco Aurélio Garcia, teria feito, de acordo com ele, “a pedido” do chefe do Palácio dos Bandeirantes.
Ney fez a ameaça após Garcia exibir propaganda eleitoral de que o adversário Tarcísio de Freitas (Republicanos) é aliado do prefeito e da irmã Ely Santos (Republicanos), acusados de ligação com o PCC (Primeiro Comando da Capital). Em publicação no Instagram, Ney disse que era “parceiro” de Garcia. “Enquanto éramos parceiros e mantínhamos intenso contato no palácio do governo e em outros lugares estava tudo bem! Ou já se esqueceu?”, indagou.
“Por que não olha para dentro de sua própria casa, como, por exemplo, para seu irmão Marco Aurelio Garcia, que deve muita explicação à polícia e ao povo paulista, ou o senhor que eu esponha [sic] detalhes do que ele fez ao seu pedido e ainda esta [sic] fazendo nesse exato momento? Pense bem antes de falar de minha irmã. Tenha respeito, você sabe muito bem que ela acaba de sobreviver a uma tragédia na cidade de Itapecerica da Serra”, disse Ney.
O desabamento do auditório em uma empesa na terça-feira (20) deixou nove pessoas mortas – todos funcionários – e 31 feridas. Ely disse ter se ferido, mas não figurou na lista de atingidos. Com o candidato a deputado estadual Jones Donizette, ela fazia reunião dentro da companhia para pedir voto aos empregados quando o chão ruiu. Ney explora politicamente o acidente com a irmã como “vítima”. O Ministério Público Eleitoral investiga possível crime eleitoral.
O irmão do governador foi condenado por lavagem de dinheiro sob a acusação de integrar a máfia do ISS (Imposto sobre Serviços). Denunciado pelo Ministério Público, o grupo de fiscais da Fazenda da Prefeitura de São Paulo foi denunciado por cobrar propinas de empreiteiras. Garcia foi questionado sobre o caso no debate entre os candidatos a governador realizado por TV Cultura, UOL (cujo jornalista fez a pergunta) e “Folha de S. Paulo”, no último dia 13.
“Ninguém é responsável por ninguém. Somos responsáveis pelos nossos atos. Se fez algo de errado, ele que pague. Respondo pelos meus atos, e tenho o maior orgulho de durante 27 anos trabalhar no serviço público, ser secretário em várias oportunidades, ser deputado estadual, deputado federal, presidente da Assembleia, vice-governador e hoje governador e nunca ter respondido a sequer um processo de improbidade administrativa”, respondeu Garcia.
Ney já foi preso duas vezes, em 1999, aos 19 anos, por receptação e formação de quadrilha, e em 2003, por assalto a carro-forte. Ficou dois anos preso até ser absolvido em segunda instância. Ele entrou no ramo de combustíveis em 2005. “Havia a necessidade de se lavar o dinheiro, tentar legalizar esse numerário. Isso era feito através dos mais variados estabelecimentos, a maioria postos de gasolina”, disse o procurador-geral de Justiça, Mário Sarrubbo.
Em 2016, Ney foi denunciado pelo Gaeco (MP) por associação a organização criminosa (PCC) e lavagem de dinheiro para o tráfico de drogas, na operação Xibalba (submundo de “senhores malignos”, na mitologia maia). Conhecido pelos promotores como “Ney Gordo”, ele teve a prisão decretada e ficou foragido. Já Ely, denunciada como “laranja” do irmão na quadrilha, chegou a ficar presa. Mas obtiveram habeas corpus. O processo parou na segunda instância.
O prefeito virou uma arma de Garcia contra Tarcísio. A campanha do tucano mostra vídeo de Ney em encontro com Tarcísio em que o candidato do Republicanos diz que vão “trabalhar juntos” – após exibir que os irmãos são acusados de elo com o PCC. “É com esses aliados que Tarcísio vai combater o crime organizado?”, questiona a propaganda do PSDB. Tarcísio culpa a Justiça pelo aliado não ter sido punido e afirma não “compactuar com o crime organizado”.
Sem fazer nenhuma revelação concreta e com histórico de ataques a opositores e até a aliados, Ney mirou Garcia como “bravata”, preocupado com o desempenho de Ely nas urnas, avaliam lideranças da região. Após ter o “projeto” de ser ele o candidato a federal frustrado ao ficar inelegível por justamente usar recurso da facção na campanha a prefeito em 2016, ele busca a todo custo eleger a irmã. A campanha de Garcia não se manifestou sobre a ameaça.
POSTAGEM DE NEY SANTOS COM AMEAÇA AO GOVERNADOR E CANDIDATO À REELEIÇÃO ROGRIGO GARCIA
PROPAGANDA ELEITORAL DO CANDIDATO A GOVERNADOR RODRIGO GARCIA SOBRE TARCÍSIO COM NEY E ELY
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