Coordenadoria de Aprígio desabriga vítima de estupro e a põe junto a 2º agressor

Especial para o VERBO ONLINE

Coordenadoria da Mulher; Gisele não levou vítima de estupro para exame e a desacolheu após denunciar irregularidades no CPA, dizem denunciantes | Verbo/PMTS

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra

Uma mulher de 19 anos que sofreu estupro foi orientada a procurar a Coordenadoria dos Direitos da Mulher da Prefeitura de Taboão da Serra, mas a responsável pelo órgão levou a jovem para um parque quando tinha dito que a conduziria para fazer exames para constatar a violência sexual, e depois tirou a vítima do abrigo de uma ONG e a mandou a outro serviço onde estava um homem que a agrediu, relatam denunciantes que procuraram o VERBO.

A jovem – cujo nome não será revelado por este portal – foi estuprada pelo próprio pai em abril e fugiu de casa, em Suzano (Grande SP), conforme relata. Ela veio morar em Taboão na casa de uma amiga. Como já fazia tratamento psiquiátrico, além de machucada devido ao abuso, ela passou na UBS local. Encaminhada, no fim de maio, ela foi à coordenadoria e foi atendida, e registrou BO de estupro. Mas já não mais morava de favor e estava sem onde ficar.

Titular da coordenadoria, Gisele Almeida pediu vaga para a jovem no Centro Provisório de Acolhimento (CPA), gerido pela ONG Sementes do Amanhã em convênio com a prefeitura. Ela conseguiu o abrigo apenas para pernoite. Segundo a denúncia, Gisele falou que no dia seguinte ia levar a menina para fazer exame no hospital de referência sobre violência sexual, o Pérola Byington, em São Paulo, e ver um lugar apropriado para uma vítima de abuso ficar.

Gisele foi ao CPA buscar a jovem, que até se despediu dos técnicos. Mas, horas depois, a coordenadora ligou para o abrigo para pedir para acolher de novo a vítima. Uma funcionária olhou a rede social de Gisele e viu que a menina tinha estado em um parque, o Francisco Rizzo, em Embu das Artes. A jovem confirmou que não fez o exame. “Não, e estou me acabando em hemorragia'”, disse. “A menina foi ao [PS] Antena sangrando horrores”, diz uma denunciante.

Depois, Gisele buscou a jovem de novo no CPA com a alegação de a levar para um abrigo no ABC, mas a conduziu à Coordenadoria da Diversidade Sexual de Taboão. A coordenadora Simone Moreira e Joel Bezerra, o Pai Joel, do órgão, ficaram de encontrar uma vaga. “Falaram que iam ajudar a menina. Não ajudaram”, diz a denunciante. De volta ao CPA, ela foi agredida por um acolhido que seria usuário de drogas. “O cara deu uma cabeçada nela”, acrescenta.

Devido à agressão, o homem foi tirado do abrigo e mandado para o Centro Pop, serviço da prefeitura que acolhe moradores em situação de rua. Porém, a jovem teve alívio momentâneo. Ela teria sido “marcada”. Dias depois, Gisele voltou mais uma vez ao CPA para dizer que ela não ia ficar mais no local, diz a denunciante. “Teve uma reunião na ONG para oprimir a menina, a Gisele falou para ela que ia ser desacolhida, que ela não era do município”, afirma.

A jovem – já com ordem judicial contra o abusador, o pai – foi enviada para o Centro Pop, justamente onde estava o homem que a agrediu. “Isso não justifica [sobre a vítima não ser de Taboão], a prefeitura pegou o caso para atender. E como pega uma mulher que tem medida protetiva e manda para junto do agressor? A coordenadoria, em vez de acolher, jogou essa mulher literamente nos braços de quem pode cometer um feminicídio”, acusa a denunciante.

Uma outra denunciante reforça o relato. “A Coordenadoria da Mulher deixou a desejar desde o começo. Ela sofreu um abuso e, se recorreu à coordenadoria, acreditou que pudessem dar o suporte no que precisava, e não deram. Por exemplo? Ao invés de a menina ter feito exame sexológico no Pérola Byington, levaram ela para um evento no Embu. Evento político. Aí a deixaram de novo no CPA para buscar um abrigo. Moral da história: não fizeram nada disso”, diz.

A pessoa diz que a coordenadoria pôs a jovem na rua – o Centro Pop, além de receber o agressor da vítima, só acolhe as pessoas para pernoite. “Ficavam rodando com a menina. Aí numa bela hora, na semana passada, desacolheram a menina [do CPA] porque não é munícipe. Mas ela passou pela coordenadoria, estava estabelecida no CPA, tinha cartão da UBS Jardim América. Só por que ela não vota [em Taboão]? Estou ‘puta’ porque a desacolheram”, protesta.

Dias antes, porém, a jovem denunciou negligência no atendimento no CPA. Relatou que a ONG não dava absorvente e as mulheres eram obrigadas a usar papel higiênico, apesar de “assar e doer ao fazer xixi”; que os acolhidos ficaram meses sem mistura, comendo arroz e feijão; que o abrigo está cheio de barata e rato; que é um “depósito humano” com pessoas com mais de um ano no local que não são transferidas; e que a diretora grita e destrata os assistidos.

A primeira denunciante não tem dúvida de que a jovem foi tirada do CPA por ter acusado as irregularidades. “Como falou sobre o horror de coisas que acontecem lá dentro, deram uma bronca nela e falaram ‘você vai ser desacolhida'”, diz. Gisele teria desabrigado a menina por um motivo simples, ter “carta-branca”. “É super protegida do ‘seu’ Aprígio, ela se intitula a assistente social particular do prefeito. E antes ela era funcionária da ONG, entendeu?”, observa.

Ouvida pelo VERBO, a jovem confirmou as irregularidades no CPA e o relato sobre a negligência da coordenadoria. “Não tinha absorvente para as mulheres. Pedi, não tinha. Usei papel, mas assava, doía. Tinha dias que não tinha cardápio, teve tempo que faltou mistura. Um senhor passou uma noite sem conseguir dormir de dor”, conta. “Tenho direito a denúncia. Sabe por que resolveram me tirar [do CPA]? Porque abri a boca sobre tanta coisa errada”, afirma.

OUTRO LADO
Procurado, o presidente da Sementes do Amanhã negou irregularidades. “É uma denúncia mentirosa, não procede, o senhor pode vir conhecer o nosso trabalho”, disse Diego Odakura. Ele confirmou, porém, que a jovem foi desabrigada pela coordenadoria, que poderia ter ficado no CPA por muito mais tempo. “Ela não foi desabrigada pela nossa instituição. A pessoa em situação de rua pode ficar até 6 meses, até se reestruturar para voltar à vida normal”, disse.

Simone disse que a denúncia “não corresponde com a realidade dos fatos”. Questionada em que não corresponderia, ela calou. Pai Joel disse que atendeu a jovem porque “se declarou homem trans”, e tentou “conseguir vaga na cidade de origem, e ela recusou”. A jovem questionou: “Como querem me mandar para Suzano se o autor [do estupro] é de lá?”. Indagado, Aprígio ignorou. Procurada na coordenadoria, Gisele não estava e não retornou ao pedido de contato.

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