ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
Uma moradora de Taboão da Serra denunciou na quinta-feira (23) intolerância e homofobia contra a filha, de 4 anos, ao procurar atendimento no Pronto-Socorro Infantil, no Trianon. Daniela Campos afirma que uma médica do PSI disse que a criança, por usar chupeta, tem “sério risco de ser homossexual”. A menina é autista e sofre de convulsões, perda de consciência, salivação e lacrimação excessiva. O caso foi noticiado pelo blog “Bar & Lanches Taboão”.
Daniela conta que levou L. e outro filho ao PSI na terça-feira (21). “A primeira médica fez os procedimentos, pediu raio-X, e disse para eu levar as crianças à colega [do consultório] ao lado, que ia almoçar”, relata. A outra pediatra disse que o menino estava com dor de ouvido. “Eu falei ‘não’, disse que a suspeita era de sinusite. Ela estava bastante confusa, perdida nas fichas”, diz. Após conferir a radiografia, a médica constatou que se tratava mesmo de sinusite.
No atendimento ao irmão, L. ficou agitada, começou a chutar e quis morder a mãe. “A médica perguntou se ela era assim em casa. Eu disse: ‘Daí pra pior. Ela é autista’. Ela pediu que eu sentasse a L. na maca e disse: ‘Tira a chupeta dela’. Falei que se tirasse ela ia ficar mais nervosa, a chupeta ainda acalma ela”, conta Daniela. “Você não tem controle da sua filha?”, criticou a médica. A mãe tirou a chupeta da criança para a médica examinar a garganta, e recolocou.
A médica questionou, ainda segundo a mãe da menina. “A senhora tem consciência do que a chupeta pode causar na vida da sua filha?”, disse. “No máximo os dentes ficam tortos”, respondeu Daniela. “Não”, contestou a pediatra. “Você sabia, mãe, que uma criança com mais de 2 anos que chupa chupeta tem o sério risco de ser homossexual por conta da chupeta?”, sentenciou. “Eu olhei para ela, assustada. Fiquei desnorteada”, conta a moradora, sobre a fala.
A médica foi além, segundo Daniela. “[Ela falou:] ‘E te digo mais: a senhora está ensinando para a sua filha a prática do sexo oral precoce. Você quer que sua criança seja homossexual?’”, relata. A pediatra ainda abordou Daniela sobre crença. “[Ela perguntou:] ‘Você é espírita, de que religião você é? Porque para entender e aceitar uma criança autista tem que ter muita fé'”, lembra ainda. “Fé é o que não me falta, amo minha filha do jeito que ela é”, respondeu a mãe.
Daniela também citou remédios que L. não pode tomar. “Ela vai tomar ‘Amoxilina’”, determinou a médica. A mãe disse que o medicamento “não faz efeito” para a filha, inclusive “não tem em lugar nenhum”. “Você vai atrás do remédio, não sou eu quem tem de ir”, retrucou a pediatra, segundo Daniela. Após a mãe dizer que ia reclamar da prescrição à neurologista que acompanha L., a pediatra mudou para “Cefalexina”. “Com grosseria daquelas”, diz a moradora.
A menina ficou internada no PSI da terça à noite até quarta-feira de manhã, quando a mãe foi à Delegacia da Mulher de Taboão registrar queixa. “A pessoa que me atendeu disse que não faria boletim de ocorrência, que o que a médica fez não é crime, nem de intolerância ou homofobia, e qie eu procurasse advogado para abrir processo cível”, conta. Ela reforçou o relato, mas “ele disse que não é crime”. Com L. nos braços, ainda febril, a mãe foi embora indignada.
Daniela relatou o atendimento em vídeo postado em rede social. Ao blog, ela afirmou que a médica se chama Lucia Cristina Rabelo Nahuz – que não foi encontrada para se manifestar. Após a consulta, Daniela procurou a secretária-adjunta de Saúde, Thamires May. “Ela disse que ia pedir o afastamento da médica, me instruiu sobre os trâmites que teria de fazer. Pediu desculpas”, conta. “Isso não vai ficar impune. Saí de lá [do PSI] com o coração estraçalhado”, diz.
VEJA POSTAGEM EM QUE A MORADORA DANIELA CAMPOS DENUNCIA MÉDICA DO PS INFANTIL DE TABOÃO