ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
A líder comunitária e militante do Partido dos Trabalhadores Idália Lima morreu neste sábado (7) aos 56 anos, em Taboão da Serra. Moradora do Suiná (Pirajuçara), ela teve um mal súbito, foi socorrida, mas não resistiu. Baiana do sertão (Ipirá) que chegou a São Paulo adolescente, Idália, embora de personalidade forte e sem papas na língua em torno de convicções, era conhecida por ser solidária e leal e pela aguçada visão – crítica – sobre articulações políticas.
Maria Idália Lima da Silva militava no PT desde a fundação, em 1980. “Eu sou das antigas, sou uma velha petista, comecei na zona leste [de SP]. Quando conheci o partido eu tinha 15 anos de idade, nem votar eu podia. Não foi através de corruptos, enganadores e mentirosos. Foi através de um cara que nunca foi sujo e vai ser sujado, chama Eduardo Matarazzo Suplicy [hoje vereador da capital]. Eu me apaixonei pela ideologia, caráter e dignidade dele”, dizia.
Idália sempre participava das lutas sociais em favor dos mais pobres, sem buscar holofotes, nos bastidores. “Foi através do Suplicy que eu conheci também as lutas. Eu gosto das lutas, de ir para cima. Fico quietinha porque moro em Taboão da Serra”, falava. Mais recentemente, ela participou de manifestação contra o aumento da tarifa do transporte municipal, em 2020. “É um aumento abusivo o da passagem do circular, de R$ 3,80 para R$ 4,30”, disse.
Idália não era “teórica”. “Estou no Circular. Na carroça! Se paga caro para andar apertada, porque o nosso circular é uma verdadeira carroça. Deveria fazer uma mobilização em cima disso. Fechar tudo aqui”, disse em fevereiro de 2021, após participar de ato do MST pela saúde, conduzida pelo ex-petista Paulo Félix. “Ele tem pegada, é bom para mobilizar. Não adianta falar dele, para onde vai, se é para cá, para lá, mas ele é o cara. Tem o meu respeito”, disse.
Idália foi candidata a vereadora em 2020, mas teve apenas 88 votos. Ela sempre se dedicou em “promover” o nome de um petista graúdo, o deputado federal Carlos Zarattini, quem recebia em casa para reuniões políticas com moradores. “Já são duas campanhas que busco voto para ele”, contou. Sem apoio, ela brigou com Zarattini, mas fez as pazes. “Tento largar dele, mas ele não me larga, quando penso que não, está me chamando no portão”, contou.
Idália não estava satisfeita, porém, com o PT de Taboão, pelo alinhamento automático ao governo Aprígio (Podemos). Dizia que o partido “calou” diante da má gestão municipal, principalmente na saúde, após ter defendido a população no passado. “A situação de abandono em Taboão está complicada. Para mim não é novidade nenhuma, Aprígio não é político, é empreendedor. Não passa de pau mandado nas mãos das raposas que estão com ele”, disparou, franca.
Membro da executiva que não fechava os olhos para “questões internas”, Idália não escondia estar aflita com a própria “sobrevivência” do PT. Avaliava que o partido, com cargos no governo de outro grupo político, se enfraquecia, inclusive para ajudar a eleger “companheiros” na esfera estadual. “O PT é um partido abraçado pela periferia. E Taboão é uma cidade periférica. Mas aqui o PT não cresce. Não tem justificativa, alguma coisa está errada”, advertia.
“Vou ser a loba solitária. Quem sabe mudamos este PT de Taboão. É meu sonho mostrar que se pode fazer política decente”, disse Idália no ano passado. Porém, nos últimos meses, ela já estava “desgostosa” com a sigla. “São muitos anos de militância para nada, 40 anos jogados fora. Vou continuar participando dos movimentos, fiz isso a vida inteira. Mas fiz minhas reflexões, juntei as ‘pecinhas'”, falou. A amigos, ela confidenciou que ia mudar de partido.
O PT de Taboão divulgou nota de pesar pela morte de Idália. “O Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores de Taboão da Serra lamenta profundamente a triste notícia do falecimento da companheira militante e dirigente da Comissão Executiva do PT Taboão Maria Idalia de Lima. A militância petista de Taboão expressa as condolências aos familiares, colocando-se à disposição”, publicou em rede social, entre várias manifestações de luto de amigos.
Taboão perdeu uma cidadã genuína, uma “voz” necessária pela autenticidade e franqueza – ainda mais na política -, dona de casa que, quando não estava na luta social, preparava refeições para vender para ajudar na renda do lar. Idália tinha chorado a morte da mãe no mês passado – mesmo com muita dificuldade, sem ajuda do partido, ela regressou à Bahia para estar com dona Augusta ainda em vida. Mãe, Idália, mulher de fibra, deixa quatro filhos.