ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Com o prefeito Ney Santos (Republicanos) por trás, como o “arquiteto” do “golpe” na Câmara de Embu das Artes, os vereadores aliados – com Gerson Olegário (Avante) e Betinho (PSD) à frente – aprovaram na sessão nesta quarta-feira (6) um requerimento que abre caminho para enterrar a apuração na Comissão de Ética e “salvar” o presidente Renato Oliveira (MDB) da cassação. Os governistas dissidentes denunciaram a intervenção “branca” de Ney na Casa.
Índio Silva (Republicanos), um dos quatro governistas que romperam com Ney, revelou o início da armação em curso. Ele mostrou que, para tirar o opositor Abidan Henrique (PSB) da comissão, Olegário, vice-presidente da Câmara, indicou como substituto Alexandre Campos (PTB), no dia 21. Já no dia 25 nomeou Betinho em substituição a Campos. Mas apenas no dia 30 deu entrada na Casa – teria aguardado Ney “cooptar” Campos, mas o vereador não se curvou.
“Documento assinado, não tem como passar borracha. O por quê dessa mudança? O presidente deixou claro que quem não deve não teme”, disse Índio, ao questionar a manobra se Renato disse que não praticou injúria racial – ele também foi ao Rio de carro oficial. “O Alexandre Campos já tinha participado da comissão, já tinha tomado posse. O que mais me causa estranheza é que tiveram do dia 25 ao dia 30 para dar entrada na Câmara. Ninguém deu”, falou.
“Por que querem mexer na Comissão de Ética? Qual o medo deles? Nada contra ninguém. Só que vamos fazer as coisas bem feitas. O funcionário da acusação, o Izaac, já foi mandado embora. Agora querem mexer os pauzinhos aqui. Não tem pauzinho! […] Assunto presidente Renato Oliveira é ‘pau'”, cravou Índio. Ele falou que a Globo e a CNN foram à casa do presidente da comissão, Gideon Santos (Republicanos). “Dê ciência de tudo que está acontecendo.”
Índio alertou os colegas sobre responderem na Justiça pelo erro de Renato. “Estão entrando em uma bola dividida que não é de vocês. Quem foi para o Rio não fui eu nem vocês. Quando declarei que seria a favor da cassação do presidente, tive retaliações, quem trabalha comigo foi mandado embora. É dele [Ney] a prefeitura, né? Eu não arredo o pé. Quero ver se os vereadores que disseram ‘estou com você’ vão estar junto ou voltar atrás na palavra”, disse.
Olegário, tido como o ardiloso que enganou os dissidentes e atraiu três vereadores para Ney em troca de “benesses”, tentou justificar a troca de membro da comissão. “A prerrogativa é minha. Assinei no dia 21 a indicação do vereador que ele [Índio] citou. No dia 25, tive informações jurídicas para poder indicar outro vereador à Comissão de Ética. Estou tranquilo. A gente está acompanhando a lei”, disse, ao contrário da fala, visivelmente nervoso pela manobra.
Betinho explicitou a armação ensejada com a indicação de Olegário para integrar a comissão, após Campos já ter sido escolhido, mas aceitou ser “testa-de-ferro” e apresentou o requerimento para alterar o colegiado. “Só quero entender que chegou um e-mail para eu participar, como vai funcionar”, disse, sem convencer sobre o “pretexto”. Ao se dar conta do ato grave de abrir caminho para sepultar a apuração, ele justificou várias vezes não ser contra a comissão.
Renato acudiu o aliado e simulou não saber o propósito do ato a fundo, apesar de a iniciativa ter sido planejada no “núcleo duro” do governo, do qual faz parte. “O que entendi do requerimento é pedir para que se analise a condução e a formação da comissão. […] Esta comissão [passível de ser mudada] julga o meu caso hoje, mas vai julgar qualquer outro até a formação da nova”, disse, ao buscar transparecer normalidade para disfarçar a gestação do “golpe”.
Bobilel Castilho (PSC) foi racional para não expôr os que aderiram à manobra, para trocar dissidentes por aliados de Ney na comissão. “Quando vejo um requerimento desse, eu me envergonho. Há cinco anos a comissão é a mesma. Quer dizer que todos os projetos votados estavam errados?”, disse. Depois, citou o motivo da investida. “Quando a comissão investiga a denúncia de um crime, querem mudar. Viram que as coisas iam ficar sérias, está errado?”, falou.
“Parece que tem pessoas acima da lei, acima de todos”, advertiu Bobilel, ao mirar Ney. “Mas acima de Deus não é! Aqui também não tem bobo. Pedimos ao vice-presidente justificar a troca. Não justificou. Já têm uma semana as ameaças de que vão destituir a comissão. Quem paga o nosso salário são vocês [população], prestem a atenção na ditadura nesta cidade! Estão tirando de nós o direito de investigar! Na pressão, goela abaixo, aqui não!”, disparou.
Campos afirmou que a Comissão de Ética “foi constituída de forma legal, e o trabalho está sendo feito”. “Eu só espero que não rasguem o regimento desta Casa. Será a maior vergonha da história desta cidade, e todos vamos fazer parte disso”, afirmou. Gideon, à frente do colegiado, disse que os governistas “vão ser apontados na rua” por “rasgarem o regimento”. Adalto Batista (PSDB) disse que a apuração está adiantada. “Vai mudar agora por quê? Está errado”, disse.
Renato dissimulou de novo. “O requerimento não trata de mudança da comissão, mas de pedido de análise. Quem decide qualquer modificação é o plenário”, disse, ao admitir a “estratégia”, com Ney com maioria de novo na Câmara. O requerimento foi aprovado por 8 votos a 7. Os advogados da Casa apresentarão na próxima sessão parecer pela alteração ou não da Comissão de Ética – o diretor-jurídico é cargo de Renato e a procuradora, alinhada à gestão Ney.