ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
O prefeito Aprígio (Podemos) admitiu pela primeira vez que se recusou a participar de reunião no governo de São Paulo com a presença de Fernando Fernandes (PSDB) e mentiu ao dizer que o Estado não liberou UTI para Taboão da Serra após o encontro do qual “correu” ou “fugiu”. Ele fez as afirmações nesta sexta-feira (11) em entrevista que convocou para rebater críticas do ex-prefeito – para a qual não chamou o VERBO, com medo de ser questionado.
O episódio, revelado com exclusividade por este portal, fez um ano na quinta-feira. Aprígio foi no dia 10 de março ao Palácio do Governo pedir leitos de UTI para Taboão, somente após pressionado com a morte de 11 pacientes na UPA Akira Tada naquele fim de semana. Apesar de internados agonizarem, ele foi embora ao ver Fernando e depois gravou um vídeo para dizer – mentir – que se reunira com o secretário Marco Vinholi (Desenvolvimento Regional).
Aprígio contou que se negou mesmo a participar da reunião, mas com base em suposições, reveladoras de que pôs a “picuinha” com Fernando acima da necessidade dramática dos pacientes na UPA com covid-19, mesmo com os internados à beira da morte. “Pedimos para o Cross [central de regulação] 27 vagas no mês. Simplesmente não mandaram uma. A impressão que eu tinha é que eles estavam forçando a situação para eu ir lá falar com ele”, disse.
“Eu fui. Eu pedi, sim, uma reunião com o Marco Vinholi. O que dizem as pessoas: negaram muita vagas para cá. Quando chegamos lá, quem está na minha frente? O cara que é o meu adversário, que há dois meses tinha saído daqui [encerrado o mandato], dizendo que era o salvador da pátria em Embu… em Taboão, que não ia deixar mais faltar vaga no Cross para Taboão. E todo mundo sabe, eu sinto que o que ele fez foi me prejudicar”, disse Aprígio.
“Simplesmente, eu disse: ‘Esse cara não vai resolver o meu problema’. Se resolvesse, durante aquele mês ele tinha conseguido algumas vagas. Pelo menos uma. A minha impressão é que ele estava lá atrapalhando a liberação de vagas. Foi essa a minha impressão. Eu falei: ‘Com esse eu não vou sentar'”, explicou, ainda sob “achismo”. Mas Aprígio ia dialogar com Vinholi, e Fernando, se incumbido à tarefa, teria de executar o que fosse acordado entre as partes.
Depois, Aprígio minimizou não ter ficado na sala de Vinholi com Fernando presente ao dizer que pessoas que o acompanhavam permaneceram. “Eu não participei da reunião com ele, mas o meu corpo técnico ficou, participando até o final da reunião. E foi [sic] feito vários pedidos”, disse. Ele estava, porém, com o secretário Mario de Freitas (Governo) e o marido da deputada federal Renata Abreu (Podemos), Gabriel Melo, que não são da área da saúde.
Aprígio alegou que o pleito apresentado pela equipe foi “aprovado” por Fernando, mas que o auxiliar de Vinholi não cumpriu, segundo ele. “Foi aprovado por ele, que se diz o bom. Foi aprovado por ele, que ia atender todos os pedidos de Taboão da Serra [por UTI]. Me diga um que ele atendeu. Aí eu pergunto para ele: você atendeu um pedido de Taboão? É mentira, é só para criar fantasia, estorinha, não tem o que fazer e fica inventando isso”, disse o prefeito.
Aprígio mentiu, por desinformação ou mesmo má-fé. Após cobrança deste portal, a prefeitura passou a enviar à imprensa boletim das internações por covid-19 na UPA Akira Tada. Um dia depois da reunião de que o prefeito não participou, em 11 de março, o governo do prefeito informou: “[…] conseguimos a liberação de mais uma (01) transferência hoje, totalizando 15 nos últimos dois dias”. Ou seja, só no dia 10, Taboão recebeu 14 vagas de UTI.
No dia seguinte (12), o governo divulgou: “[…] conseguimos a liberação de mais uma (01) transferência, totalizando 16 nos últimos dois dias”. Ou seja, um dia depois, Taboão recebeu do Estado mais um leito. No mesmo dia, soltou outro boletim, à noite: “Conseguimos hoje uma transferência para leitos de UTI através da Central de Regulação e Ofertas de Serviços de Saúde (Cross), de responsabilidade do governo do Estado, totalizando 17 nos últimos dois dias”.
Portanto, ao contrário da fala evasiva e “vazia” de Aprígio de que Fernando não “atendeu” nenhum pedido de UTI, Taboão recebeu 17 vagas em 48 horas. Em dias seguintes, continuou a receber. No dia 14, a prefeitura reconheceu que Taboão obteve outros três leitos através do Cross, “totalizando 20 transferências para o município nos últimos dias”. No vídeo que irritou Aprígio, Fernando contou que “estava lá [reunião] com a intenção de ajudar Taboão”.
BOLETINS DO PRÓPRIO GOVERNO MOSTRAM LIBERAÇÃO DE UTIs DESDE 10/3/2021 E DESMENTEM APRÍGIO