ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Além de procurar um imóvel para as crianças e jovens com deficiência retomarem as aulas só depois de ouvir a reclamação generalizada de pais contra a falta de estrutura e abandono da Escola Armando Vidigal, o governo Ney Santos (Republicanos) disse ter uma alternativa para acolher os alunos, mas mentiu ao ocultar a condição inóspita do local – em rede nacional. Ao SBT, o secretário Pedro Angelo (Educação) afirmou que o espaço é “semiacabado”.
No último dia 14, o SBT esteve na escola para estudantes com deficiência da cidade, no Jardim São Marcos, e relatou o sucateamento da unidade. “Buraco no chão, piso descolando e rachaduras na parede. O vídeo foi gravado em outubro do ano passado pela mãe de uma aluna e mostra a situação de uma das salas de aula”, diz a reportagem, ao apontar que a prefeitura até iniciou a reforma, mas interrompeu, e deixou cinco das 11 salas comprometidas.
A escola tem 107 alunos e antes da pandemia 94 estudavam presencialmente, relata a TV. “Com a chegada da covid-19, o local foi temporariamente fechado. As aulas presenciais voltaram em agosto do ano passado. Mas por conta de uma reforma os pais tiveram uma surpresa: apenas 36 alunos puderam frequentar a escola”, diz. “Não tem estrutura a escola para receber as crianças: as salas todas quebradas, os móveis enferrujados”, aponta a mãe Fran Torres.
A reportagem diz que “as obras, que deveriam terminar neste início de ano, não têm previsão de serem concluídas”. Segundo ainda a TV, o secretário “afirmou que as obras foram paralisadas por divergência de valores” e “não há previsão para retomada”, mas “a prefeitura busca um novo local para atender os estudantes”. Ele alegou, porém, dificuldade para encontrar ao dizer que o espaço “tem que ter no mínimo dez salas de aula com acessibilidade”.
Contudo, Pedro Angelo disse ter encontrado um local para receber os alunos provisoriamente. “Já recentemente, tivemos as tratativas com um imóvel que está semiacabado, com a possibilidade de manter o atendimento das crianças com apostilas e acompanhamento dos professores e da equipe de profissionais, fonoaudiólogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais, para atendimento durante a execução da obra lá no Armando Vidigal”, responde ao SBT.
O imóvel fica na mesma região da escola, mas não é como descrito por Pedro Angelo. “Após desmarcar uma visita a um instituto, o secretário disse que era para esperar por ele em um galpão residencial particular que seria possível espaço de atendimento para nossos filhos. Chegando lá, vimos que este espaço está totalmente cru. É uma garagem na parte de baixo e um andar que tem só piso rústico e colunas, mais nada”, diz Carmem Ribeiro, mãe de aluna.
“Eu falei: ‘Pedro, é inviável. Qual o tempo para reformar este espaço?’ Ele falou: ‘Então, o proprietário falou que um mês’. Eu falei: ‘Não, não existe [não confere]. Vai ter que dividir as salas, fazer cozinha semi-industrial, banheiros adaptados’. Então, [dizer que é um] espaço semiacabado é mentira. A reportagem deveria ter ido conhecer lá”, critica Carmem. “É um espaço que precisa de muita coisa. É 90 dias ou mais para esperar [adaptação]”, reprova Fran.
Como o governo passou a alegar que depende de recurso federal para retomar as obras na escola, as mães “pegaram no pulo” o secretário. “Além de a reforma demorar mais de um mês, eu disse para o Pedro que requer um custo muito alto. Eu falei: ‘Por que você não pega esse valor que pretende investir aqui e não investe lá no Armando Vidigal? Lá já tem toda a adaptação [aos alunos atendidos], está mais fácil que aqui e já é um espaço público'”, relata Carmem.
Fran faz coro a Carmem. “Se precisa gastar muito dinheiro ali, que gaste no Armando! A escola já tem algumas coisas que dá para entrar. Se eles querem de verdade que as crianças voltem [a frequentar a escola], né? Porque não é isso que a gente está vendo. Está bem difícil”, afirma. Pedro Angelo teria desistido do galpão. Após verificarem que outro espaço da prefeitura “está pior” que o Armando, os pais, sem opção, decidiram ficar mesmo na escola, sob condições.
“Após eu perguntar, o secretário disse que não tem risco de cair. Mas eu falei: ‘Você precisa passar o número da autorização assinada pelo engenheiro civil, para termos garantia. E as salas que não dá para usar, você fecha, e dê uma organizada na escola, coloque outro piso'”, conta Carmem. A escola passará por readaptações, mas não deverá abrigar todos os alunos. “Veja a gravidade. Tem quatro salas interditadas e uma caiu”, lembra, sobre o “descaso”.
VEJA REPORTAGEM DO SBT SOBRE A ESCOLA ARMANDO VIDIGAL, SEM ESTRUTURA E COM OBRA ABANDONADA