Vereadores aprovam leis ‘inúteis’ e legislam em causa própria ao batizar espaços

Especial para o VERBO ONLINE

Onishi, Luzia, Anderson e Rodney, que aprovaram rebatizar praça, campo, parque e viela, os dois últimos com nome de familiares | Leandro Barreira-CMTS

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra

Vereadores de Taboão da Serra aprovaram na sessão na terça-feira (30) pelo menos quatro projetos que não melhoram em nada a vida da população, e ainda legislaram em causa própria, para exaltar a família. Alheios à função de fiscalizar, os parlamentares batizaram parque, praça, campo e viela com nomes de parentes, amigos e políticos. Um chegou a recolher assinaturas por apoio à iniciativa e obteve míseras adesões, mas insistiu.

Projeto que mais chamou a atenção, a viela F, no Jardim Saporito, ganhou o nome de rua Vicente Ferrer de Oliveira, pai do autor, o vereador enfermeiro Rodney (PSD). Ele justificou rebatizar a via com um abaixo-assinado com apenas cinco assinaturas. Em outubro, ele deu o título de “Cidadão Taboanense” ao vice-prefeito de Embu das Artes, Hugo Prado (MDB), “amigo”, sob justificativa de que “já foi pacoteiro de um supermercado da nossa cidade”.

Localizado no Jardim Record, o campo do Botafogo, que recebeu gramado sintético no fim do ano passado durante o governo Fernando Fernandes (PSDB), passa a chamar “Campo Caboré”, em homenagem ao ex-sindicalista e ex-vereador Valmir Bandeira. Mais conhecido pelo apelido, “Caboré” morreu no ano passado. Sem mandato desde 2005, ele apoiava o hoje prefeito Aprígio (Podemos). A proponente é a primeira-dama Luzia Aprígio (Podemos).

A praça Canadá (ou “L”), no Jardim Maria Rosa, foi rebatizada de praça Dra. Márcia Regina Amaro Corrêa, advogada de Taboão que morreu em maio deste ano, de covid-19. Autor da homenagem, o vereador Ronaldo Onishi (DC), que é advogado, justificou que a moradora Márcia Regina era “muito quista pelos moradores [do] local, sempre trazendo com recursos próprios a tradicional ‘Festa do Dia das Crianças’ com recreação destinada aos munícipes”.

O vereador Anderson Nóbrega (MDB) evocou, segundo ele, a “luta” do pai pela criação do espaço de convivência e lazer no Parque Pinheiros, mas sem poder homenagear Olívio Nóbrega Filho, que é vivo – inclusive é o secretário de Esportes da gestão Aprígio -, deu o nome do avô ao Parque da Família. O local deixa de ter a elogiada denominação e passa a se chamar Parque Olívio Nóbrega – que já é homenageado com nome de rua no bairro.

O autor reconheceu que a iniciativa gera críticas da população, mas “teimou”. “Em 2015 veio o Parque do Inocoop, mas veio uma injustiça muito grande e meu irmão [então vereador Eduardo Nóbrega] foi impedido pelo ex-prefeito [Fernando Fernandes], que solicitou que ele não fizesse essa homenagem ao meu avô […]. Vão falar mal? Vão falar mal, mas é minha função como vereador também dar nome de rua, nome de praça”, argumentou Anderson.

Também foi aprovado o único projeto que estava na pauta, o que cria a escola municipal de artes, de autoria de Wanderley Bressan (PSDB). Mas o equipamento já está sendo construído desde 2020 e já teve até nome aprovado, Marília Mendonça, também sob críticas – Bressan está encerrando os três meses de mandato como suplente do vereador Marcos Paulo (PSDB), que voltou hoje dos Estados Unidos. Aprígio pode sancionar ou vetar os projetos.

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