ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
Apontado como um dos três “prefeitos” de Taboão da Serra – responsáveis pelo governo Aprígio (Podemos) estar “perdido” -, o secretário Mario de Freitas (Governo) “enrolou” Maryah Carvalho, a ponto de a deixar sem salário, e chegou a inventar que foi ameaçado como “pretexto” para a funcionária ser exonerada. Ela é a denunciante do desvio de vacinas contra covid-19 na UBS Santo Onofre. Maryah já tinha sido coagida por Freitas meses atrás.
Maryah acusou funcionários de Alex Bodinho (PL) de desviar as vacinas, com a ciência do vereador, mas foi “traída” pela gestão ao ter denúncia vazada por um assessor do prefeito, pastor Cerqueira. Após denunciar, ela passou a ser rejeitada pela cúpula aprigista. No dia 26 de maio, chegou a ser informada que Freitas a receberia, mas o secretário não a atendeu. Após reportagens do VERBO, ele resolveu procurar Maryah, mas para a “pressionar”.
No dia 29 de julho, Maryah foi procurada pelo secretário. “A secretária Débora me ligou e falou: ‘O Mario de Freitas quer falar com você, não vai atender o seu advogado’. O meu advogado está tentando conversar lá, eu não tenho condições psicológicas nem para sair de casa. O meu salário foi suspenso. Isso porque estou de atestado. Estão querendo me forçar a ir falar com eles”, relatou. Questionado na ocasião sobre forçar Maryah, Freitas silenciou.
No dia 20 de agosto, Maryah se sentiu em condições de ir à prefeitura e perguntou se o secretário tinha como atender na semana seguinte. “Tem sim. Já estou falando com seu advogado a [sic] tempos”, disse Freitas. “Ele me informou que o senhor quer conversar comigo diretamente. O senhor pode marcar para quando?”, falou Maryah. Ironicamente, apesar de exigir falar com a funcionária, Freitas disse que ia avisar o advogado sobre a data.
Freitas só recebeu Maryah quase um mês depois, em 17 de setembro. Segundo Maryah, sob alegação de que não a conhecia, ele disse querer entender sobre o caso das vacinas e pediu para falar desde o início, onde trabalhava quando iniciou a campanha a vereadora, até chegar na denúncia do desvio as doses. Depois de ouvir o relato minucioso, ele disse que no dia 20 já teria resposta sobre a situação funcional de Maryah, que estava sem receber.
Freitas mentiu e não procurou Maryah. No dia 30, enganada, ela reagiu: “O senhor me pediu para ir até a prefeitura que iria resolver minha situação, cinco meses até falar com o senhor, e minha situação não mudou em nada. Posso entender que estou sendo feita de palhaça”. Ela citou que seis pessoas, como a vereadora e primeira-dama Luzia Aprígio (Podemos) e Junior Eckstein, secretário e genro de Aprígio, “prejudicaram e muito minha vida”.
Maryah falou com funcionária do RH. “Meu último salário foi 64 reais e ela teve a coragem de me dizer que trabalhei dois dias no cemitério. Eu tenho como provar que entrei lá em 16 de junho e fiquei até 23 de julho. Desde então estou sem salário e com laudo psiquiatra. Parabéns, estão manipulando bastante para me prejudicar”, disse. Freitas alegou que estava falando com o advogado “o que foi combinado”. “Ele tem as informações”, encerrou.
Maryah desmentiu Freitas e entendeu a “tática” do governo. “Conversei com meu advogado, o senhor não responde as mensagens dele, não me dá uma posição sobre o meu salário que deixaram de pagar. Ligo no RH a Elisângela me fala que vou ser exonerada por abandono, meu holerite vem dizendo 30 faltas novamente não justificadas. O senhor me chamou para conversar para saber por que tudo chegou na situação que está”, reclamou.
“Eu fui o mais educada possível para responder e falar tudo que o senhor queria. Vejo que o senhor também, como todos aí, está fazendo pouco caso da situação que me colocaram depois que o pastor me expôs. […] Meu laudo consta que tudo que adquiri foi depois da denúncia que fiz, para ajudar ‘seu’ Aprígio e a dona Luzia. Desde então, não tenho recebido nenhum suporte de vocês e ainda me corta o direito de receber”, acrescentou Maryah.
Inusitadamente, Freitas falou para o advogado de Maryah que a funcionária faltou com a verdade e o ameaçou. “Ela mentiu para nós. E está me ameaçando”, escreveu ao profissional. No último dia 5, após tomar conhecimento da fala do secretário, Maryah refutou. “Eu ameaçando o senhor onde? […] Eu menti para vocês? Tudo que eu falei eu provo. Vou provar tudo que eu falei. Agora quero saber quando eu ameacei o senhor ou menti”, disse.
Freitas disse que estava em Brasília e ia retornar apenas na quinta-feira (7). “Podemos marcar assim que possível”, disse, em possível novo “chá de cadeira”. No dia seguinte (6), Maryah informou que tinha trocado de defensor. “Em breve outro advogado irá entrar em contato”, disse. E mostrou mensagens que enviou ao assessor do prefeito Romeu Brito e a Luzia para provar que não mentira. Freitas voltou a apelar. “Isso é uma ameaça?”, disse.
“Nunca foi”, rebateu de novo Maryah. “Estou entendo assim”, insistiu Freitas. Ela, indignada, mandou uma mensagem de voz: “Falar que eu o ameacei, o senhor tem que provar, o senhor tem que ter uma mensagem, um áudio, [ou] uma ligação minha. Eu nem ligo para o senhor. […] E o senhor vem falar agora que menti? As 233 doses que foram desviadas é mentira?”. Ele desconversou: “Apresenta seu novo advogado para continuar as tratativas”.
No entanto, na quinta-feira dia 14, Aprígio exonerou a denunciante do desvio das vacinas. Na segunda-feira (18), Maryah enviou mensagem a Freitas. “Já recebi o comunicado da minha exoneração. Só mostrou que este governo não respeita as pessoas que o ajudam. E que o senhor Aprígio está rodeado de pessoas que fazem mal à população e não cumprem com a palavra. Parabéns, o senhor superou o que eu pensava sobre política”, protestou.
Ao VERBO, Maryah disse que Freitas usou a alegação de ameaça como tentativa de intimidação e pretexto para ser demitida. “Mesmo porque minha exoneração veio em seguida”, declarou. Este portal o questionou: “Qual foi a ameaça que Maryah fez ao senhor? O senhor também a acusou de mentir. Em que ela faltou com a verdade?”. Ele calou. Nesta quinta, Freitas – que também emprega filho no governo – recebeu o título de “Cidadão Taboanense”.
OUÇA ÁUDIO EM QUE MARYAH DIZ A FREITAS QUE RECHAÇA FALA DO SECRETÁRIO DE QUE O AMEAÇOU
MENSAGENS ENTRE FREITAS E MARYAH; APÓS ELE INVENTAR QUE FOI AMEAÇADO, ELA FOI DEMITIDA