ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
O Conselho de Saúde da Taboão da Serra expulsou no último dia 28 o presidente Ledivan Lopes, mas com base em apenas uma “denúncia” e sem provas, e feita pela secretária-adjunta Thamires May (Saúde). Curiosamente, o governo Aprígio (Podemos) escondeu que a acusação que motivou a apuração partiu de Thamires. O conselho destituiu o dirigente por 12 votos, porém a maioria dos votantes era comissionado ou alinhado à administração.
Na 43ª reunião do conselho, a Comissão de Ética, constituída para apurar a “denúncia” em “desfavor” de Lopes, apresentou parecer sobre o caso – o VERBO presenciou. O relator Edson Jerônimo citou as alegações e revelou o registro de um BO contra o presidente. “Chegaram à comissão narrativas que foram lavradas em boletim de ocorrência, desrespeitando totalmente a dignidade da mulher, a vítima conselheira Thamires”, discorreu.
Jerônimo alegou não poder repetir a suposta fala de Lopes – em prejuízo, porém, ao entendimento sobre a alegada evidência. “Como cidadão e pai de família, não me sinto confortável em reproduzir as palavras que o acusado dirigiu à vítima”, disse, ao se limitar a classificar como “ofensas machistas e sexistas” ao citar que foram ditas em “oficina de discussão do PPA” (Plano Plunianual) e reforçar “que estão narradas neste boletim de ocorrência”.
Ele acusou que “o representado, sempre em voz alta, em tom de ameaça, usou as prerrogativas de presidente em reuniões ordinárias, extraordinárias, tentando fazer entender que goza de comando dos votos dos conselheiros, afrontando o livre direito de cada conselheiro de votar pela sua consciência”. Ele, porém, divagou que “o comentário que circula entre as pessoas é: ‘para ele ter algo em benefício individual, e não pelo objetivo coletivo”.
Contudo, o relator se manifestou pela punição máxima ao dirigente. “A Comissão de Ética, em razão das acusações somadas em cada individualidade dos conselheiros denunciantes, refere-se a uma conduta absolutamente incompatível com os princípios definidos pelo Conselho de Saúde. No meu voto faço integrar o parecer para recomendar a expulsão do afastado, o conselheiro Ledivan Lopes Seabra, dos nossos quadros”, disse Jerônimo.
Ele citou que foram três denunciantes, Edna Trindade, Alair Rabelo e Thamires. Em informe à imprensa, o governo Aprígio mentiu e disse que só Edna tinha feito a denúncia, alheia, portanto, à acusação da adjunta. “A Comissão de Ética […] acolheu na quarta-feira, 25/8, denúncia protocolada pela conselheira Edna Trindade […]. Edna acusa Ledivan de ‘conduta incompatível com a imagem e reputação, com ameaças de destituição de membros”, disse.
Não teria sido por acaso que Edna não respondeu a este portal. No dia 31 de agosto, procurada, ela foi efusiva: “Bom diaaa”. Indagada “Por que apresentou a denúncia?”, calou. Edna teria se prestado ao papel para não expôr que Thamires era a denunciante e não evidenciar o interesse da Secretaria de Saúde de afastar Lopes. Edna é representante dos trabalhadores, mas é aliada da vereadora Luzia Aprígio (Podemos), mulher do prefeito.
O relator não fez menção à denúncia de Edna de que Lopes fazia “ameaças de destituição de membros”. Ao final, a reportagem procurou Jerônimo, mas não pôde questionar, entre outros pontos, sobre a alegada motivação de Edna não ter sido considerada por conta de que foi atrapalhada por dois “seguranças”. Diante de caso “obscuro”, Thamires resolveu acionar os guardas municipais à paisana para tentar intimidar e tolher o trabalho do VERBO.
Ao conversar posteriormente com a reportagem, porém, Jerônimo falou sobre o processo e citou a alegada motivação. “Ele [Lopes] simplesmente chegou e falou: ‘Vou enfiar gostoso em você na prestação de contas’. Falou para a Thamires”, disse. Este portal questionou se havia prova, um áudio. Ele admitiu que pediu a expulsão sem ter prova material. “Sem tem áudio, não sei responder. O que chegou para nós foi a parte ofendida e o boletim”, disse.
Questionado sobre o simples BO não ser prova, Jerônimo reconheceu que cabe a Thamires provar, mas, “se tinha mais pessoas que ouviram, está dentro do ônus da prova” – usou o condicional. Antes, ele falou que na reunião “até um membro do conselho falou [que ouviu a fala]”. “Inclusive estava do lado dele, defendeu o senhor Lopes em todas as reuniões. No dia que recepcionamos [a denúncia], ele mesmo reconheceu [a fala]”, afirmou o relator.
A afirmação é falaciosa – a reportagem gravou a reunião. Apesar de ter feito menção – em discurso de renúncia do conselho -, o conselheiro disse que não ouviu e revelou que foi induzido. “Eu tomei conhecimento de uma coisa dentro desta Comissão de Ética, que só por esse motivo, pela forma que foi expressada… Eu não ouvi, mas se eu tivesse ouvido eu não teria nenhum pingo de vergonha, pela minha família, de dizer ‘eu ouvi'”, declarou.
Apesar da manobra do governo Aprígio de atribuir a denúncia contra o presidente a Edna – para não gerar suspeição, pela conselheira não ser representante do governo no órgão nem comissionada -, Jerônimo admitiu que Lopes virou alvo da “apuração” devido à investida de Thamires. “Se ele não tivesse falado isso, a Comissão de Ética não ia recepcionar [a denúncia]”, disse o relator, ainda ao sustentar acusação sem prova – ele é livre-nomeado.
OUTRO LADO
Lopes rechaçou a acusação de Thamires de que fez a fala de conotação sexual. À reportagem, ele contou que desconhecia a “denúncia” e só soube ao receber a documentação enviada pela comissão. Apontou ser vítimas de represália por fiscalizar a ações e contratos da Secretaria da Saúde. “Quem me conhece sabe que eu não uso e nunca me dirigi a ninguém com esses termos, e recebo uma acusação dessa? Ela vai reponder por isso”, afirmou.