ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
A Câmara de Vereadores aprovou na terça-feira (5) a escolha de 15 pessoas para receber o título de “Cidadão Taboanense”, sob critério “duvidoso” e justificativas até “bizarras”. Entre as figuras que serão homenageadas estão o prefeito e o vice de Embu das Artes, Ney Santos (Republicanos) e Hugo Prado (MDB), o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) e quatro secretários de Aprígio (Podemos), um processado e dois parentes do prefeito.
Os 13 vereadores indicaram um homenageado, cada, enquanto o colegiado escolheu mais dois agraciados. O vereador Gallo (Republicanos) indicou Ney. Ao contrário da maioria dos colegas, ele não justificou publicamente a indicação – ele é do mesmo partido do governante embuense. Já o vereador enfermeiro Rodney (PSD) escolheu Hugo, sob justificativa “bisonha”. “Já foi pacoteiro de um dos supermercados da nossa cidade”, argumentou.
Ney foi alvo de investigação do Gaeco (Ministério Público) e teve a prisão decretada, em 2016, denunciado por associação a facção criminosa, lavagem de dinheiro e tráfico de drogas. Ele obteve habeas corpus no Supremo Tribunal Federal e escapou de ser preso. Ele é réu por corrupção na compra de uniforme escolar, ainda antes de assumir. No ano passado, foi cassado por usar a prefeitura para autopromoção. Os processos ainda correm.
Sem “serviço prestado” a Taboão, Ney teria uma identificação – em parte dos 60 dias foragido, ele se escondeu na cidade. À frente da prefeitura, é alvo de críticas por má gestão, como atraso no pagamento a bolsistas e repasse a creches e mortes em série sob denúncia de negligência na saúde. Hugo também é responsabilizado, além de ser réu igualmente na licitação fraudulenta de uniforme escolar – segundo a Polícia Federal, ele recebeu propina.
Nome do colegiado, Alckmin era o governador quando Taboão ganhou equipamentos como AME, Poupatempo, Bom Prato e a Etec, mas é criticado por não cumprir a promessa de trazer o metrô até a cidade. Governistas, os 13 vereadores o escolheram em “afago” a Aprígio – Alckmin disputará o governo do Estado contra o PSDB, do qual o prefeito é opositor. Em 2015, seis vereadores que seguem na Casa repudiaram a reorganização escolar de Alckmin.
O outro escolhido dos 13 vereadores é o secretário de Governo. Além de empregar o filho na atual gestão com aumento de 50%, Mario de Freitas é réu em ação pública movida pela própria prefeitura, acusado de improbidade administrativa, por autorizar o pagamento de R$ 436.554,00 a uma agência de publicidade sem concorrência, em 2010. Se condenado, terá de restituir aos cofres municipais, com outros dois processados, quase R$ 5 milhões.
Outro secretário que receberá o título é Valdemar Aprígio, irmão do prefeito – em 2020, ele foi candidato a vereador, mas em Embu, e teve 881 votos, um “fiasco” pelo sobrenome que carrega. Ele chefia a pasta de Obras, mas o governo Aprígio ainda não terminou nenhum equipamento iniciado na gestão anterior, como postos de saúde e Complexo da Mulher, inclusive paralisou a obra da UBS Laguna. Ele foi indicado por Érica Franquini (PSDB).
Genro de Aprígio, Junior Eckstein (Administração) é outro indicado. Em janeiro, principal “chancelador” das nomeações, ele emplacou como diretor na pasta um réu por participação em esquema criminoso que recrutava médicos sem registro. No mês passado, ele foi apontado como o “linguarudo” que fez Aprígio romper com o vice Buscarini (PSD). Ele foi indicado por Anderson Nóbrega (MDB), um dos vereadores com mais cargos no governo.
O quarto secretário agraciado com o título é o irmão de Anderson, Eduardo Nóbrega. Pré-candidato a deputado estadual em 2022, o secretário de Manutenção estaria usando o expediente – e até a estrutura – da pasta para viabilizar o projeto eleitoral. Em apenas uma das ocasiões, ele se reuniu com um vereador de Santo André, 70 quilômetros distante. Ele é alvo de críticas de aprigistas descontentes pelo prefeito “entregar” o governo ao aliado.
Outras indicações também são inusitadas. Luzia Aprígio (Podemos) escolheu uma das filhas, Soraia da Silva. Sandro Ayres (PTB) homenageou o pai, Sandrino Maciel. Assim, políticos, empresários, atletas e parentes receberão o título. Indicada por André Egydio (Podemos), a deputada federal Renata Abreu (Podemos) também receberá – a prima Tatiana Abreu é diretora do Ser (serviço de reabilitação). A entrega do título deve ocorrer no próximo dia 21.
CONFIRA AS FIGURAS ESCOLHIDAS PARA RECEBER O TÍTULO DE ‘CIDADÃO TABOANENSE’
Vereador Carlinhos do Leme (PSDB) – Thiago Ventura, humorista
Vereador Gallo (Republicanos) – Ney Santos, prefeito Embu das Artes
Vereadora Joice Silva (PTB) – Alexandre Nascimento Manoel Aroza, empresário
Vereadora Érica Franquini (PSDB) – Valdemar Aprígio, secretário de Obras
Vereador Sandro Ayres (PTB) – Sandrino Gladimir Maciel, pai do parlamentar
Vereadora Luzia Aprígio (Podemos) – Soraia Lourdes da Silva, filha da parlamentar
Vereador Anderson Nóbrega (MDB) – Wagner Eckstein Junior, genro de Aprígio e secretário de Administração
Vereador Wanderley Bressan (PSDB) – Cris Souza, técnica do Taboão da Serra (futsal feminino)
Vereador Nezito (Republicanos) – Elizeu Teixeira Filho, jornalista do “SP Repórter”
Vereador Ronaldo Onishi (DC) – Arnaldo Tonnani Junior, empresário
Vereador Alex Bodinho (PL) – Eduardo Nóbrega, secretário de Manutenção
Vereador André Egydio (Podemos) – Renata Abreu, deputada federal
Vereador enfermeiro Rodney (PSD) – Hugo Prado, vice-prefeito de Embu das Artes
Colegiado de vereadores – Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo, e Mário de Freitas, secretário de Governo
CORREÇÃO – Diferentemente do noticiado, Tatiana Abreu, diretora do Ser (serviço de reabilitação), é prima da deputada federal Renata Abreu (Podemos), informação já retificada na reportagem.
