‘Perverso’, Ney demite da frente de trabalho mãe que perdeu filho após ir à UPA

Especial para o VERBO ONLINE

Com Hugo, Ney toma sorvete para 'relembrar' infância, após ter mandado embora mãe do menino de 11 anos que morreu após ir à UPA de Embu | Divulgação

ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes

O prefeito Ney Santos (Republicanos) demitiu no dia 23 de setembro da frente de trabalho a mãe de Luan, mesmo depois de Carla Gaspar ver o filho de 11 anos morrer após ser atendido na UPA de Embu das Artes, unidade da prefeitura, em ato “perverso”. O vice-prefeito Hugo Prado (MDB) chegou a gravar um vídeo em que disse querer a punição dos médicos que atenderam a criança, mas agora a fala se revela um “teatro” com a perseguição à família.

Na frente de trabalho – que paga R$ 1 mil por mês e uma cesta básica como auxílio aos moradores desempregados -, a mãe de Luan ainda tinha mais de dois meses de bolsa, mas foi surpreendida com ordem do prefeito após cobrar punição aos responsáveis pela morte do filho. “A ‘lindeza’ do Ney Santos fez o favor de me dispensar. Ele quebrou a regra do meu contrato, que vencia em dezembro, e me mandou embora antes”, conta Carla, indignada.

Carla telefonou para a prefeitura e reclamou o pagamento até o fim da bolsa, mas foi destratada. “Fui mandada embora, e ninguém me ligou, ninguém me deu satisfação. Eu liguei lá, fui maltratada, eles falaram que quando quisessem podiam quebrar o contrato e não iam me pagar o resto dos meus meses. Eu falei: ‘Mas eu contava com esse dinheiro’. Eles falaram: ‘Não podemos fazer nada’. Esse Ney Santos ‘tirou’ com a minha cara”, protesta.

Luan morreu no dia 21 de agosto de apendicite após ter diagnóstico errado ao ser atendido por três médicos da UPA Santo Eduardo. A moradora não tem dúvida do motivo de ter sido mandada embora – ela ainda teria sido lesada ao receber. “Porque estou movendo processo contra os médicos de Embu [que atenderam o filho]. Inclusive o Ney Santos não pagou todo o meu dinheiro. Só pagou metade do que eu tinha para receber”, revolta-se.

Carla acusa perseguição do prefeito por não ter se calado diante da negligência da UPA que matou Luan – ela expôs o caso na internet. “Já virou pessoal. Já não basta ter perdido meu filho e agora perder também o emprego? Aí eu viro para você [repórter] e pergunto: ‘Para que esse tipo de atitude? Ele acha que pelo fato de eu estar cobrando justiça em uma rede social estou errada?’ Pois agora que vou continuar cobrando mesmo”, avisa.

A mãe de Luan aponta que Ney demonstra ser um moleque. “Usou da infantilidade para me atingir. Agiu de má fé, né?”, declara. Ela ressalta que só quer justiça para o filho e que o caso não caia no esquecimento, e indica que foi alvo de uma postura covarde e cruel do prefeito quando mais dependia de todo auxílio. “Não faço questão pelo dinheiro, não. Só não tinha necessidade de fazer o que fez justo no momento em que eu mais precisava”, diz.

Para a defesa dos pais de Luan, Ney foi perverso. “A antecipação imotivada da rescisão da senhora Carla, por telefone, foi outro crime praticado contra a dignidade humana. Vivemos em Embu um período sombrio. O contrato da AMG [gestora dos prontos-socorros, inclusive a UPA], apesar de investigada junto com agentes políticos por fraude milionária e desvio de recursos públicos, foi renovado”, reprova o advogado Marco Aurélio do Carmo.

“Raul Bueno – condenado por improbidade administrativa -, que era o secretário de Saúde na contratação da AMG e foi pego em casa tentando frustrar a operação da Polícia Federal, permanece empregado como secretário, enquanto uma digna trabalhadora, negra, pobre, bolsista de programa social da prefeitura, foi ‘dispensada’ por retaliação por se indignar após perder o filho por negligência. É uma perversidade sem precedentes”, frisa Carmo.

OUTRO LADO
O VERBO procurou o prefeito. “Por que o senhor mandou embora, dispensou da frente de trabalho a moradora Carla Gaspar, mãe do menino que morreu após ter diagnóstico errado na UPA sob gestão da empresa que contratou? Carla diz que o senhor foi ‘infantil’ com a atitude. Para o advogado da família, ao dispensar a mãe após chorar a morte do filho por negligência, o senhor foi perverso. Para sua manifestação”, disse. Ney ficou em silêncio.

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> Colaborou a Redação do VERBO ONLINE

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