Melhor ficar quieta, fechar os olhos, diz aliado de Aprígio a denunciante da vacina

Especial para o VERBO ONLINE

Buscarini, que sugeriu para Maryah não levar denúncia adiante porque era 'última tentativa', e Sandro, que falou a ela que era 'melhor ficar quieta' | Divulgação

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra

Retirada da Coordenadoria da Mulher de Taboão da Serra – para a qual tinha sido mandada após denunciar o desvio de doses anticovid-19 na UBS Santo Onofre -, a funcionária Maryah de Carvalho ficou quase um mês sem resposta sobre onde ia trabalhar e buscou auxílio de um membro do governo. Ela teve, porém, recomendação espantosa que evidencia a ação da gestão Aprígio (Podemos) para abafar o caso das vacinas – “ficar quieta”.

Após acusar funcionários de Alex Bodinho (PL) de desviar as vacinas, com a ciência do vereador, Maryah foi “escondida” na coordenadoria ao reclamar de ter sido “traída” pelo governo ao ser exposta como a denunciante por assessor de Aprígio, pastor Antonio Cerqueira. Depois, a coordenadora Gisele Moraes – cargo da primeira-dama e vereadora Luzia Aprígio (Podemos) – cumpriu a ordem do Executivo de dispensar (“se livrar”) a funcionária.

Mario de Freitas (Governo) também se esquivou e não recebeu Maryah. Não foi o único. “Fiquei a Deus dará. Fui jogada para um monte de funcionário, como se não tivesse importância. Eu estava quase todos os dias na prefeitura, para falar com o Cristiano [auxiliar do secretário Wagner Eckstein Junior], Freitas, [a ouvidora] Maria Amélia. Eu chegava na porta da prefeitura, parecia que eu tinha uma doença contagiosa”, relata Maryah.

“O Cristiano entrou em contato comigo: ‘O Junior falou que você tem que esperar ele falar com o senhor Aprígio’. Fiquei dez dias indo na prefeitura, ligando, mandando mensagem. [Falavam]: ‘Ah, Maryah, você tem que aguardar’, ‘não dá para atender agora’. Fiquei sem saber o que iam fazer comigo e tive que sair às pressas de Taboão”, diz, ao se sentir ameaçada. Enfim, ela foi recebida por Eckstein Junior, apenas 20 dias depois de deixar a coordenaria.

Maryah acabou transferida agora para o Cemitério da Saudade. Candidata a vereadora em 2020 pelo Patriota, na coligação de Aprígio, ela, porém, já tinha procurado o presidente municipal do partido, Sandro Komatsu. “Ele tentou me ajudar. Foi o único, o resto virou as costas para mim. A dona Luzia não me atende. Pedi ajuda para ela, [disse] ‘estou sofrendo ameaça, sendo perseguida’. Eu fiz o que pediram, reuni provas do desvio das vacinas”, diz.

Sandro levou o caso da filiada ao vice-prefeito José Vicente Buscarini (PSD). Segundo Maryah, no dia 15 de junho, ele disse, ao se referir à transferência dela para o cemitério: “Eu tinha falado sobre com o Buscarini. Realmente ele disse que seria a última tentativa”. “Ele falou: ‘Maryah, eu fui conversar com o Buscarini, e o Buscarini’ – porque tinham me transferido de novo – ‘falou que era a última tentativa de colocar você num lugar'”, comenta.

Segundo Maryah, Buscarini sugeriu que não era para a comissionada levar o caso do desvio das vacinas à frente senão seria exonerada. Sobre a fala do vice, ela respondeu a Sandro: “Entendi, eu saí como errada”. Sandro fez a recomendação que a deixou perplexa: “Melhor ficar quieta, Maryah. Porque ajudar eles não seja interessante”. Ela falou que já pensava em sair de Taboão. Ele reforçou: “Melhor mesmo fechar os olhos porque não querem ajuda”.

“Ele falou: ‘Fica quieta porque eles não querem saber da verdade’. A mensagem que eu tenho no meu celular é essa. Do Dr. Sandro”, confirma Maryah. Ela trabalhou poucos dias no cemitério ao ter que se afastar por problemas psiquiátricos após relegada pelo governo Aprígio ao ser exposta. “Ficava um carro preto todos os dias me esperando entrar no serviço. Tive que abandonar minha vida em Taboão e ir para um lugar ficar escondida”, conta.

OUTRO LADO
Procurado pelo VERBO, o advogado Sandro Komatsu alegou que “não lembro” de ter dito para Maryah “ficar quieta e fechar os olhos” sobre a denúncia do desvio de vacinas. Este portal também questionou o vice-prefeito – “Com o ‘parecer’ [de que seria a ‘última tentativa’ de transferência da comissionada], o senhor sugeriu que não era para a denunciante levar o caso do desvio das vacinas [à frente] senão seria exonerada?”. Buscarini preferiu o silêncio.

OUÇA MARYAH CONTAR QUE SANDRO DISSE PARA FICAR QUIETA SOBRE VACINAS APÓS CONTATAR O VICE

INDAGADO SOBRE SUGERIR PARA MARYAH NÃO LEVAR CASO DAS VACINAS ADIANTE, BUSCARINI CALA

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