ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
O prefeito Aprígio (Podemos) indicou na quarta-feira (18) ter protocolado no Supremo Tribunal Federal pedido pela manutenção do abono de férias aos funcionários municipais de Taboão da Serra, mas não divulgou documento e gerou desconfiança entre servidores. Ao ir a Brasília com uma comitiva – inclusive com um secretário alheio aos temas anunciados na viagem -, Aprígio foi alvo de críticas pela vagareza e ainda “jogo de cena” pela “visita” à corte.
Em ação direta de inconstitucionalidade ajuizada pela Procuradoria-Geral do Estado, o Tribunal de Justiça extinguiu o abono por não atender “a nenhum interesse público e tampouco às exigências do serviço, retratando mero dispêndio público”. Aprígio teve, porém, 90 dias para regularizar o chamado “14º salário”, mas alegou que o prazo não era “razoável” e preferiu contestar, com recurso mal feito. No dia 12, o TJ rejeitou. Aprígio resolveu pegar avião.
Em vídeo que divulgou ante o STF, ao lado dos secretários Matheus Mota (Assuntos Jurídicos) e Eduardo Nóbrega (Manutenção) e da deputada federal Renata Abreu (Podemos), Aprígio diz que “estamos aqui discutindo sobre o 14º dos funcionários”. Depois, Mota fala: “Estamos aqui no STF, fazendo conversas para poder defender o 14º de todos os funcionários de Taboão da Serra. O recurso já foi protocolado. Nós estamos lutando por vocês, funcionários”.
Em texto encaminhado apenas a sites patrocinados pelo governo – e não ao VERBO -, a Secretaria de Comunicação afirma: “O prefeito Aprígio está nesta quarta-feira, 18/08, em Brasília e protocolou no Supremo Tribunal Federal (STF) a defesa do direito dos servidores públicos de Taboão da Serra ao abono de férias, mais conhecido como 14º salário”. Sobre o discurso de Mota, a pasta fala ainda: “Estamos aqui no STF […]. O recurso está protocolado”.
Porém, nem Aprígio nem a secretaria divulgaram o suposto documento. Indagada pela reportagem sobre o protocolo, com pedido de cópia, a pasta não respondeu. Servidores desconfiam. “Se protocolou, tem a via do prefeito”, questionou um funcionário, que também estranhou na comitiva, “fora da pauta”, o responsável pela zeladoria da cidade, postulante a deputado em 2022. “Não entendi bem o Nóbrega. Nem disfarça. Ridículo.”
Em março, Aprígio chegou a gravar um vídeo com um ofício na mão no Palácio dos Bandeirantes para dizer que tinha se reunido com o secretário de Desenvolvimento Regional para pedir vagas de UTI contra a covid-19, mas foi uma “farsa”. Na verdade, conforme revelou este portal, por “picuinha”, Aprígio nem tratou sobre a necessidade dos taboanenses, ele viu na sala o rival ex-prefeito Fernando Fernandes (PSDB), subsecretário da pasta, e foi embora.
Aprígio não convenceu sobre a “ida” ao STF, conforme anuncia. Indagado pela reportagem o que o prefeito com a comitiva foi fazer na corte, qual a efetividade da “visita”, um jurista de fora de Taboão, isento, foi categórico. “Excursão. Mesmo porque o recurso é protocolado eletronicamente, são mais de 5.500 municípios no país. ‘Fazendo conversas’, sem comentários. Subestimam a inteligência alheia”, disse, ao se referir à fala do secretário.
Aprígio também não foi poupado por se “mexer” só depois da eclosão de protesto generalizado do funcionalismo municipal, em grupos conforme a categoria, nesta semana, em reivindicação de reajuste salarial (dissídio) e direitos trabalhistas, além da manutenção do abono – nesta quinta (19), trabalhadores de pelo menos mais duas unidades de saúde fizeram manifestação, UBSs Suiná e Santo Onofre. “Sentiu a água bater na bunda”, criticou um servidor.