ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
O prefeito Aprígio (Podemos) anunciou a reabertura da UBS Clementino nesta segunda-feira (16) após três meses com o equipamento abandonado, sem qualquer funcionamento, e fortes críticas da população. Com a inutilidade de um serviço básico e essencial por tanto tempo, um profissional da prefeitura chegou a lamentar a decisão ao dizer que Aprígio vai ficar marcado como o único prefeito da história de Taboão a fechar um posto de saúde.
Aprígio anunciou o fechamento da UBS Clementino em 4 de março ao determinar que o posto passasse a ser um pronto-atendimento da covid-19, em um prédio visto como inadequado para o serviço pretendido, tanto que com apenas seis leitos, em decisão tomada às pressas e sem melhor estudo – em espaço não utilizado e em outro lugar, ele se recusou a abrir um hospital de campanha, que tinha atacado no governo Fernando Fernandes (PSDB).
Aprígio efetivou o fechamento da UBS em 15 de março sem consultar a comunidade local e ainda “passou por cima” da representação da população, o Conselho Municipal de Saúde, sob inusitada alegação de que “era caráter de urgência, não deu tempo de chamar”, conforme revelou o presidente Ledivan Lopes – a Secretaria de Saúde é controlada por gestores que eram do governo Ney Santos, de Embu das Artes, marcada pela falta de transparência.
Ao impor o fechamento da UBS na “calada da noite”, Aprígio não foi poupado pelos moradores e lideranças da região, que fizeram uma manifestação em frente à unidade. “Fizemos a mobilização porque fomos pegos de surpresa pelo prefeito Aprígio. […] Fomos ao posto, alguns funcionários sabiam, outros não, os que sabiam não podiam falar, foi passado como ‘segredo de Estado’, para ninguém saber”, protestou o ex-vereador Moreira.
“Já que o prefeito não atende a população em seu gabinete, não restava outra alternativa senão protestar. O Clementino é um dos bairros mais antigos da cidade, lutamos quase 20 anos para vir esta UBS e, do nada, querem tirá-la do povo. A UBS Clementino é um das bem avaliadas. Não se deve fechar um equipamento para abrir um serviço público. Ele tem que ampliar a rede”, reagiu Moreira. A UBS foi construída em 2016, no governo Fernando.
Diante da revolta popular, o governo deu “uma atenção” a moradores que foram à prefeitura no dia 9 de março entregar abaixo-assinado contra o fechamento da UBS, nas palavras do grupo, em tom de ironia. Mas não Aprígio. O vice-prefeito Buscarini (PSD) que recebeu a comissão e na recepção, em postura de politização da saúde. “Ele nos recebeu na porta. Tive que jurar de pé junto que o Moreira não estava junto”, conta a moradora Fernanda Ferreira.
Aprígio manteve a UBS fechada, com o atendimento do PA, a cargo da Associação Prius, em contrato de três meses, até junho – suspeito pelo valor “exorbitante”. Mas, de forma nebulosa, com a covid-19 em explosão na cidade, encerrou antes do previsto, em 12 de maio – menos um mês antes, a Polícia Federal tinha desvendado fraudes de outra empresa contratada em Embu na gestão de parte de figuras que hoje comandam a Saúde de Taboão.
O PA fechou marcado por denúncias sobre o próprio atendimento, como juntar pacientes com covid-19 com não infectados e aglomerar pessoas com suspeita da doença. Uma idosa relatou que, apesar de não estar se sentindo bem, o médico da empresa quis que fosse para casa com a justificativa de que faltava espaço na unidade. Um familiar também revelou que um parente ficou em observação “por dias” sem ter cuidados básicos de higiene.
Na sexta-feira (13), em vídeo, ao lado de Aprígio ao anunciar a reabertura da UBS, o secretário José Alberto Tarifa (Saúde) disse que o PA da Covid atendeu “mais de 14 mil pacientes”, para sustentar que “o custo do nosso atendimento aqui foi muito inferior ao [do] hospital de campanha que tínhamos anteriormente”. “Isso mostra uma seriedade no trabalho, mostra responsabilide com os recursos públicos”, afirmou, sem apresentar qualquer valor.
Na verdade, Aprígio contratou a Prius por R$ 3.510.925,62, R$ 585.154,27 por leito. O hospital de campanha custou R$ 8.912.455,94, com 60 leitos, R$ 148.540,93 por leito, quatro vezes menos e por período maior, cinco meses. Há dois meses, ao aguardar professores para teste de covid diante do posto, um educador falou ao VERBO: “O Aprígio vai ficar marcado como o único prefeito da história de Taboão que fechou uma UBS. Paciência, eu não faria”.
“Depois de fechar a UBS na ‘calada da noite’ e gastar R$ 3,5 milhões no atendimento à covid – que não foi à altura da necessidade dos taboanenses, deixou a unidade praticamente dois meses sem utilização nenhuma -, o prefeito tinha que ceder à pressão popular. Não é que está reabrindo, ele não tem alternativa. Só espero que agora abra com qualidade, que tenha bastante médicos para atender a população, como tinha antigamente”, diz Moreira.
OUÇA O EX-VEREADOR MOREIRA SOBRE REABERTURA DA UBS CLEMENTINO APÓS ‘PRESSÃO’ DA POPULAÇÃO
VEJA DOCUMENTO DE MORADORES CONTRA FECHAMENTO DE UBS; VICE ATENDEU NA PORTA DA PREFEITURA
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