ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Itapecerica da Serra
A Autarquia de Saúde de Itapecerica da Serra manteve nesta quarta-feira (11) a decisão de sonegar parte dos dados dos óbitos por covid-19 na cidade, na presença do prefeito Francisco Nakano (PL), durante entrevista coletiva sobre os sete meses de governo. Nakano ficou passivo e só “assistiu” à falta de transparência do órgão da sua gestão. A técnica da autarquia também demonstrou não acompanhar nem o boletim emitido pelo serviço que coordena.
Após a coordenadora-técnica da autarquia Wanessa Geroma realizar uma longa e arrastada apresentação – de quase uma hora – do quadro da covid-19 e dos atendimentos no município, o VERBO questionou o prefeito sobre o governo passar a se recusar a divulgar os números absolutos de óbitos pela doença por sexo e faixa etária – até maio, a gestão atendeu este portal. Nakano passou a palavra a Wanessa, que se esquivou e sonegou os dados.
“A informação que o senhor recebe é a mesma que todos os outros munícipes, todas as outras pessoas que têm interesse recebem. Em tempos em tempos são apresentados os números e gráficos. Epidemiologicamente, até para preservação das famílias das pessoas acometidas, preservamos alguns dados que realmente não fazem diferença”, disse Wanessa. Ela citou ter informado ao VERBO antes, mas omitiu ter parado e ainda disse enviar.
A reportagem reafirmou que a autarquia passou a omitir os números absolutos – “o governo Nakano até maio deste ano informou os dados. Só que demaio para cá, por motivo que desconheço, preferiu sonegar”. Wanessa insistiu em fazer uma afirmação falsa. “Isso em momento nenhum foi negado, tivemos a oportunidade de expor a toda a população. Infelizmente, eu não trouxe hoje. Trazemos aquilo que é relevante”, disse, em ato falho.
Na verdade, a autarquia se limita a divulgar percentuais. Solicitada de novo a informar, Wanessa fez fala inusitada. “O número absoluto, ele é dinâmico. Hoje são 410 [óbitos]. Quando terminarmos aqui podem ser 411, 412”, disse. Diante de pedido para enviar até a 410ª vítima, ela se recusou. “Tem informações que se privam a profissionais de saúde e de interesse da nossa Vigilância Epidemiológica. Pessoas que não são técnicas não terão acesso”, disse.
A reportagem questionou se a técnica ia disponibilizar ou não os números absolutos a este portal. “O senhor vai receber aquilo que todos vão ter acesso”, disse Wanessa. Instada a responder objetivamente, se “sim ou não”, ela repetiu a ladainha e foi novamente evasiva. “O senhor vai receber aquilo que todos irão receber, igualmente. Aquilo que pode ser divulgado à população, todos vocês terão acesso. Como sempre tiveram”, disse, de forma falaciosa.
Nakano se incomodou. “A partir do momento que me expus a convidá-los e trazer meu ‘staff’, estamos querendo mostrar transparência do nosso governo. Em momento nenhum queremos esconder dados, números. Queremos jogar com vocês com muita seriedadade”, disse, ao contrário da prática. Ao final, um secretário falou com este portal reservadamente, disse achar a pergunta “pertinente” e não entender a decisão de sonegar dados básicos.
Além da falta de trasparência, a coordenadora “conseguiu” passar um dado subnotificado das mortes por covid-19, segundo o próprio boletim da autarquia. Wanessa citou 409 óbitos, quando o informe do órgão relatava 410. Questionada pela reportagem sobre o conflito, ela se saiu com esta: “Os números são dinâmicos, eles mudam a cada momento”. Acontece que a autaquia registrava 410 vítimas havia seis dias (até ontem) – desde o dia 5.
OUÇA COLETIVA QUANDO A AUTARQUIA REAFIRMA DECISÃO DE SONEGAR DADOS ABSOLUTOS DA COVID