RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Com a decisão do governo Ney Santos (Republicanos) de exigir do morador que não tem comprovante de residência no nome uma declaração com reconhecimento em cartório – pago -, além de não vacinar nas unidades básicas de saúde, Embu das Artes despencou mais 12 posições em dois dias e passou a figurar entre os 30 últimos municípios, dos 645 do Estado, no ranking da imunização contra a covid-19, divulgado pelo governo paulista.
Na terça-feira (19), Embu foi notícia de redes de TV, como o SBT, e sites, como o G1 e o UOL, depois que a influenciadora digital Alessandra Vespa divulgou a burocracia. “Moro em Embu há dois anos. Como as contas da casa estão no nome do Igor [namorado], levamos: RG meu e do Igor, comprovante de residência, uma entrega do correio em meu nome em casa, declaração de união estável que fizemos ano passado. Me negaram vacina”, disse.
A influenciadora foi obrigada a perder tempo e dinheiro – R$ 7 – para provar que reside em Embu. “Disseram que precisaria de uma declaração de residência feita com firma reconhecida em cartório e que só assim poderia voltar. […] Não estava acreditando nessa burocracia tão burra e atrasada. Eu tive que ir até o cartório e pagar por um papel. Descobri que aquelas centenas [de pessoas] não fazem isso e desistem da vacina”, disse Alessandra, 31.
Numa rede social, uma mulher questionou como o “excelentíssimo prefeito” ia fazer com o “povo das comunidades e invasões” se não possui comprovante de endereço de Embu. Ney disse: “É só apresentar o cartão do SUS, comprovando que passa nas unidades de UBS de Embu das Artes”. No entanto, a secretária Thais Miana (Saúde) indicou um caminho ainda mais burocrático no caso de falta de comprovante de residência no nome do morador.
“A gente dá como opção que ele compareça até uma unidade básica de saúde para que a gente possa fazer uma visita domiciliar”, disse Thais ao “SBT Brasil”. A outra alternativa é a dispendiosa. “Ou então que a pessoa compareça em um cartório para que faça uma autodeclaração e assim reconheça firma para que a gente tenha um documento que seja válido”, completou. A reportagem alertou que criar obstáculos pode desestimular a vacinação.
Na terça-feira, quando do “desabafo” da moradora, Embu era o 605º colocado no ranking entre os 645 municípios paulistas, com 41,7% da população geral vacinada com a primeira dose contra a covid-19. Nesta quinta-feira, passou a ocupar o 617º lugar, com 43,8% dos habitantes contemplados, ou 121.224 (115.365 com a primeira dose e 5.859 com a vacina em dose única) – apenas 1 ponto percentual por dia, em evidência de imunização muito lenta.
Quanto à segunda dose, Embu tem desempenho ainda pior – é o último na região. Completaram a imunização 23.862 moradores, apenas 8,62% da população – atrás de São Lourenço da Serra (15,34%), Juquitiba (14,62%), Cotia (11,80%), Embu-Guaçu (11,73%), Taboão da Serra (11,14%), Vargem Grande Paulista (10,32%) e Itapecerica da Serra (10,12%). Ney só vacina em quatro postos, para ter “visibilidade”, em vez das 16 UBSs, perto da casa dos munícipes.
Para Alessandra, a burocracia não seria por acaso. “Embu tem uma das menores taxas de vacinação da região metropolitana, mas liberaram vacinação para 30+, dizendo estar à frente na vacinação. O fato de não conseguirem vacinar direito os 70/60/50/40 anos faz com que sobre vacina e eles consigam abrir mais faixas etárias. No fim das contas é uma campanha falha e despreparada”, disse. Ela reagendou e só poderá se vacinar na semana que vem.
EMBU CAI DO 605º PARA 617º LUGAR NA VACINAÇÃO ANTI-COVID EM 1ª DOSE/ÚNICA E É O ÚLTIMO NA 2ª
REPORTAGEM DO SBT SOBRE EXIGÊNCIA DA GESTÃO NEY DE COMPROVANTE DE RESIDÊNCIA EM CARTÓRIO