Gestão Ney nega dose aos sem comprovante e não vacina ‘direito’ para anunciar que ‘sai na frente’

Especial para o VERBO ONLINE

Ney e vice 'aparecem' no ginásio Dom José, um dos 4 pontos de vacinação, em vez das 16 UBSs; influencer de Embu relata ter tido vacinação negada | Reprodução

RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes

O governo Ney Santos (Republicanos) está negando vacina contra covid-19 às pessoas que não têm comprovante de endereço no próprio nome, mesmo residindo há anos em Embu das Artes. Com a burocracia, a gestão estaria deixando de vacinar moradores de mais idade e agendando para faixas etárias mais baixas com as doses que “sobram”. É um dos fatores que explicariam o fato de Embu apresentar um dos mais baixos índices de vacinação.

Embu é o 605º colocado entre os 645 municípios paulistas, com 41,7% da população geral vacinada com uma dose (balanço nesta segunda-feira às 4h) – figura entre os 40 últimos no ranking. A influenciadora digital Alessandra Vespa divulgou, em um perfil com mais de 21 mil seguidores no Instagram, que na sexta-feira (16) teve a vacina negada por problemas com o comprovante de endereço. Ela também postou no Twitter com grande repercussão.

“Agendei minha vacina pra sexta. Moro em Embu há dois anos. Como as contas da casa estão no nome do Igor [companheiro], levamos: RG meu e do Igor, comprovante de residência, uma entrega do correio em meu nome em casa, declaração de união estável que fizemos ano passado. Me negaram vacina”, disse Alessandra. “Disseram que precisaria de uma declaração de residência feita com firma reconhecida em cartório e que só assim poderia voltar.”

Alessandra disse que, “por acaso”, tem uma mídia de influencer e pôde “desabafar” a situação pelo canal. “Não estava acreditando nessa burocracia tão burra e atrasada. Esses stories tiveram uma repercussão tão grande que comecei a receber depoimentos absurdos piores. Vocês não têm noção do tanto de gente que passou por isso, foi humilhada e não voltou pra tomar vacina”, disse. Ela teve de pagar R$ 7 por declaração reconhecida em cartório.

“Eu tive que ir até o cartório e pagar por um papel. Descobri que aquelas centenas [de pessoas] não fazem isso e desistem da vacina”, relatou Alessandra, ao apontar que os motivos são muitos, como falta de informação, “de tempo para fazer esse rolê”, falta de orientação sobre como reagendar. Ela chamou atenção de que muitos idosos, que são prioridade, não foram vacinados. “Tem casos de 70/60 anos que ainda não tomaram a vacina. Desistiram.”

Ela também foi enfática em mencionar o público feminino como o mais penalizado, conforme os depoimentos. “Os maiores casos relatados são de mulheres: muitas donas de casa ou que trabalham fora, mas sem nenhum comprovante em seu nome. Não sabem como fazer para comprovar além de abrir o famoso barraco e, talvez, ter sorte. Eu recebi mais de 300 mensagens e não sou ninguém. Imaginem a % [porcentagem] real”, ressaltou.

Alessandra notou o marketing falacioso. “Embu das Artes tem uma das menores taxas de vacinação da região metropolitana, mas liberaram vacinação para 30+, dizendo estar à frente na vacinação. O fato de não conseguirem vacinar direito os 70/60/50/40 anos faz com que sobre vacina e eles consigam abrir mais faixas etárias. No fim das contas é uma campanha falha e despreparada. […] Quantas pessoas desistiram e não vão mais voltar”, lamentou.

Alessandra – que reagendou a vacinação “pra semana que vem” – teve o “desabafo” relatado em reportagens do G1 e do UOL nesta segunda sobre a burocracia em Embu. Porém, o VERBO noticia há meses que o município é um dos mais atrasados e ocupa as últimas posições no Estado – em 7 de abril, Embu era o 639º colocado (entre as 645 cidades paulistas); em 18 de maio, 618º; em 26 de maio, 607º; em 24 de junho, 568º; em 7 de julho, 608º lugar.

No mês passado, este portal informou também que moradores não conseguiram se vacinar por falha no sistema de agendamento da prefeitura – outro empecilho. Além do mais, em vez de utilizar as 16 UBSs da cidade, perto da casa dos moradores, Ney vacina em uma UBS e três “polos” para ter visibilidade e explorar politicamente a vacina – já que não poderia fazer “marketing” na porta das UBSs. Ele já disse ser candidato a deputado federal em 2022.

OUTRO LADO
O VERBO questionou a secretária de Saúde: “Por que o governo Ney abriu agenda para vacinar pessoas de 30 anos ou mais se Embu tem um dos mais baixos índices de vacinação e figura entre os 40 últimos municípios entre os 645 cidades paulistas? A gestão dificulta a vacinação dos moradores de mais idade e usa as doses não aplicadas para atingir faixas etárias mais baixas para passar a imagem de que ‘está na frente’?” Thais Miana não respondeu.

INFLUENCER DIZ QUE TEVE NEGADA VACINA POR EXIGÊNCIA DE COMPROVANTE DE ENDEREÇO EM SEU NOME

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