ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
O colapso da saúde de Taboão da Serra, com a morte de mais de dez pacientes à espera de um leito de UTI em apenas um fim de semana, no início deste mês, mereceu registro do maior canal de notícias do mundo, a CNN Internacional, para ilustrar o caos no Brasil e como o país virou um risco planetário na pandemia. A reportagem tem como manchete “Sem vacinas, sem liderança, sem fim à vista. Como o Brasil se tornou uma ameaça global”.
O quadro desolador de Taboão abre a reportagem, levada ao ar no sábado (20). O correspondente Matt Rivers traz o depoimento da moradora Pamela Rivippi, cuja avó morreu de covid-19 na UPA Akira Tada. O repórter conta que a jovem, que mostra fotos da saudosa idosa no celular, só consegue olhar para as imagens, já que assistir a vídeos da avó dói demais. “O mundo não merecia minha avó, ela era boa demais”, diz Pamela, na tradução do jornalista.
A reportagem mostra em seguida a porta da UPA tomada de pacientes à espera de atendimento e familiares. O correspondente informa que a avó de Pamela, internada “neste pequeno hospital da Grande São Paulo” no dia 3 de março, morreu apenas dois dias depois, e a UPA sucumbiu à alta de casos da covid-19 – colapsou. A imagem mostra um parente de paciente sentado no chão do lado de fora, mão no rosto, em expressão de sofrimento.
A supervisora técnica da Secretaria de Saúde, Maria Dolores da Silva, identificada como “médica do hospital público”, é entrevistada e se emociona. “A gente pensa naquela família que…”, diz Dolores, que para de falar, com a voz embargada e cabeça baixa. “…Que está sofrendo”, continua. O repórter narra todo o depoimento: “A médica que trabalha neste hospital diz que pensa nas famílias que estão sofrendo e não consegue dormir. É inacreditável”.
Após imagem de profissional de saúde ao chamar pacientes à espera de atendimento sentados em cadeiras do lado de fora do Akira Tada – que passou a funcionar de “porta fechada” (só recebe doentes encaminhados) -, o correspondente da CNN aparece e fala diretamente aos telespectadores/internautas, com a UPA ao fundo, para relatar a tragédia de mais de dez mortos na unidade – em plena região metropolitana da capital mais rica do país.
“Este hospital não tem condições de tratar os pacientes em estado grave. Esses pacientes normalmente seriam transferidos para outros hospitais, mas neste momento não há para onde ir. Então, em vez de ser transferidos, estão morrendo”, relata o jornalista. Com a imagem de paciente intubado, diz: “Em apenas cinco dias da semana passada, 12 pacientes morreram esperando por vagas em outros hospitais, segundo a administração do hospital”.
A CNN volta ao caso da avó de Pamela e mostra a jovem falando com o repórter em rua do Jardim Beatriz, a cinco minutos da UPA. “A avó de Pamela era um deles [12 pacientes mortos na UPA]. Ela acha que se ela tivesse sido transferida e tratada em uma UTI teria sobrevivido. Mas agora o acesso a UTI é praticamente impossível”, completa o repórter em trecho sobre Taboão, que dura 1 minuto e 8 segundos – do total de 3 minutos e 15 da reportagem.
Desde apenas o trágico primeiro fim de semana de março – do dia 5 até esta segunda (22) -, o Akira teve a morte de 24 pacientes por covid – 15 à espera de vaga de UTI (nove já chegaram em estado grave e morreram em horas, não entraram na espera por remoção). É metade do que a UPA teve durante 2020 inteiro até 20 de janeiro, 48 óbitos – o que evidencia a demora da gestão Aprígio (Podemos) em notar a alta de internações e buscar leitos intensivos.
> Veja reportagem da CNN Internacional que mostra colapso em Taboão da Serra
(assista até 1 minuto e 8 segundos, com tradução neste texto do Verbo) – clique aqui
> Tradução Adriana Wills/Verbo