ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
A Secretaria de Saúde de Taboão da Serra concedeu nesta terça-feira (9) entrevista em que admitiu que mais internados na UPA irão morrer à espera de UTI se o Estado não disponibilizar leitos. A secretária-adjunta Thamires May mostrou fichas de pacientes que morreram sem acesso a UTI e reafirmou que começou a pedir vagas no dia 3 de março, mas desconversou sobre ter dito que já em 28 de fevereiro doentes precisavam de transferência.
O governo Aprígio (Podemos) reuniu a imprensa regional e nacional após o sistema de saúde municipal entrar em colapso, com a morte de 11 pacientes que estavam no Akira Tada de sexta até segunda-feira. Taboão se tornou a primeira cidade da Grande São Paulo a registrar mortes de doentes de covid-19 à espera de UTI desde o início da pandemia. A secretaria informou que nesta terça-feira a UPA tinha 50 internados e 12 estavam intubados.
Thamires mostrou prontuários de 27 pacientes e disse que a prefeitura pediu vagas de UTI ao Estado, via central de regulação de leitos, a todos os internados, mas sem sucesso. “Essas são as fichas das 27 solicitações que fizemos para o Cross desde 3 de março. Onze delas [pessoas], infelizmente, vieram a óbito. Todas as devolutivas foram de rejeição às vagas. O governo do Estado alega superlotação de leitos e não poder absorver a demanda”, disse.
Contudo, a adjunta disse no sábado (6) em um grupo da secretaria em rede social que “temos paciente esperando transferência desde 28 de fevereiro”, ao se referir a 11 internados, apurou o VERBO. Este portal questionou Thamires sobre afirmar que começou a solicitar vaga no dia 3 se três dias depois falou que desde o dia 28 a UPA estava com 11 pacientes que precisavam ser transferidos, e por que demorou três dias para pedir as remoções.
Thamires alegou que “talvez não tenha sido clara” e desconversou sobre a fala reservada. “Nossas solicitações ao Cross são diárias. No dia 28 tínhamos 11 pessoas [intubadas]. Na terça chegamos a 18, e esse número só começou a cair por conta dos óbitos, foram 27 solicitações não respondidas. A partir do dia 3 de março que não houve mais nenhuma liberação. No dia 28 havia 11 esperando, mas o Cross ainda estava disponibilizando vagas”, afirmou.
Este portal questionou: “Não foi isso que a senhora disse”. Thamires foi evasiva. “Eu não dei entrevista no sábado”, disse. Ao voltar a ouvir da reportagem que tinha feito a fala em um grupo da secretaria, ela voltou a se esquivar. “Eu não tenho conhecimento dessa informação, até porque a gente não divulga dados disso no grupo da secretaria”, falou. Thamires fez parte da Saúde do governo Ney Santos (Republicanos) e sonegava informações.
O governo Aprígio anunciou a criação de 30 novos leitos para covid-19, na quinta-feira (4), apenas após o colapso da rede municipal, mas nenhum de alta complexidade. Com Taboão sem uma vaga de UTI disponível, Thamires admitiu que a UPA pode ter mais mortes em questão de horas, após dizer na semana passada, no anúncio de simples vagas de enfermaria, que a pasta faria o necessário para evitar novas vítimas, e 11 internados morreram.
“O risco [de novas mortes] é a quantidade de pacientes que temos grave e entubados aguardando no Cross. O município tem um limite de comprometimento e atendimento. Nós temos respiradores, conseguimos estabilizar o paciente, mas ele precisa de um suporte maior. Um paciente intubado provavelmente precisa fazer hemodiálise e não temos esse procedimento dentro do município. É um procedimento de alta complexidade”, disse a adjunta.
Indagada ainda se Taboão terá novas mortes se não tiver a liberação de vagas, Thamires disse: “Infelizmente, sim”. Ela disse, porém, que nesta terça-feira, após o colapso na rede, a prefeitura conseguiu a transferência de quatro pacientes pelo Estado. “Depois da repercussão na imprensa, conseguimos quatro vagas, duas para o Hospital das Clínicas e duas para Guarulhos”, falou. Porém, o governo Aprígio escondeu o caos desde a semana passada.
O Estado disse, em nota, que não negou vagas e desde o dia 3 transferiu 144 pacientes de Taboão. O coordenador da Vigilância Epidemiológica rebateu. “Absolutamente, não é verdadeiro. Não tivemos nenhuma vaga para covid concedida”, disse Milton Parron. Ele mostrou a proporção de mortes em outras cidades para minimizar o quadro em Taboão. “A impressão é que apenas aqui está morrendo gente”, disse. Apesar do colapso, Aprígio não apareceu.