ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Morreu na madrugada deste domingo (20), aos 86 anos, vítima da covid-19, o artista plástico Olavo Camps, um dos grandes nomes do cenário artístico de Embu das Artes. Nascido em Tietê (SP), ele era expositor, desde a década de 1970, da Feira de Artes e Artesanato da cidade, onde fixou raízes. Olavo estava internado desde o dia 9 de dezembro no hospital de campanha do Vazame. Antes, chegou a ser atendido no Pronto-Socorro Central.
A amiga Marilene Brum, que vende lanches na feira, foi quem soube que Olavo estava se sentindo mal, depois de o artista não aparecer para expor, no dia 5 deste mês, e o auxiliou na internação. “Eu notei que ele mandou montar a banca e não veio, no sábado, e no domingo também não apareceu. Liguei no celular. Liguei, liguei, liguei. Depois de muita insistência, ele atendeu, falando palavras desencontradas, e disse que não estava passando bem”, contou.
No domingo (6), Marilene chamou o Samu, que levou Olavo ao PS. Ele teria ouvido que “não era nada” e voltou para casa. Na segunda (7), a amiga voltou a telefonar. “Ele estava pior. Liguei de novo para a ambulância, levaram para o PS, internaram, fizeram exame. Após sair o resultado, positivo para covid, transferiram para o Vazame. Todos os dias eu ia conversar com a médica ou ela ligava para mim. Nesta madrugada [de domingo], ele faleceu”, disse.
Muito versátil e com a “brasilidade” no traço e na alma, Olavo José Ferraz de Arruda Campos era pintor do estilo naif, ceramista, fazia tapeçaria e bordados, e foi professor de pintura em cursos da Secretaria Municipal de Cultura. Ele tinha a vocação de professor e gostava de compartilhar os saberes artísticos adquiridos. Camps, como gostava de assinar as obras, ganhou o primeiro lugar em arte naif no 28º Salão de Artes Plásticas de Embu, em 2012.
Olavo participou de todas as edições do “Revelando São Paulo”, festival do governo do Estado que reúne artistas populares dos municípios paulistas. A última exposição coletiva de que participou foi em fevereiro no Museu do Sol, em Penápolis (SP). Ele, poliglota, que expunha as obras todos os fins de semana na feira de Embu, tem trabalhos espalhados por diversos países, em expressão da cultura brasileira. Também cantava no Coral das Artes.
O poeta, designer e também pintor Renato Gonda, colega de feira em Embu, prestou uma homenagem a Olavo em 2008, a partir de uma obra do “imenso artista” – como o definia -, uma ressignificação da bandeira do Brasil. “Olavo […] cria, recria e procria nossa brasilidade, ao parir flores e frutos e borboletas e casarios e bandeiras… Ao parir novos brasis, a cada novo brasão que eterniza em suas pinturas, Lar Doce Lar. Doce patriotismo artesanal”, redigiu.
“1968… 69 início da Feira, e movimento artístico do Embu a todo vapor. Olavo é fisgado. Trabalhava em banco. Optou pelo banco da Feira. Bom pra nós. Quarenta anos cantando e encantando com imagens e voz. Ah! – Ele também canta no Coral das Artes. Ingenuidade artesanal. Primitivismo naive. Encantamento e folclore, indo às raízes de nossa cultura, com linguagem de chão e terra. Com linhagem de amor e alma”, continuou o poeta.
Em poesia concretista como síntese do artista amigo, Gonda expessou: “OLAVO é lava que lava e leva e eleva a arte e canta e encanta e encampa os campos CAMPS”. Marilene disse que Olavo vai fazer muita falta. “Ele era meu cliente, de água, refrigerante, mas era um amigo, no momento que ele mais precisou eu o ajudei. Ele era uma pessoa honesta, digna, nesta pandemia ajudou as pessoas. O legado [a marca] que deixa é a alegria”, disse.