Denis agonizou e morreu em casa noturna, mas Ney proibiu ronda e fechar bar

Especial para o VERBO ONLINE

Ordem de serviço com planejamento 'fictício' de patrulhamento, em que não tinha viaturas na região do bar onde Denis foi morto, por ordem de Ney | Divulgação

ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes

O guarda municipal e ex-secretário de Segurança de Embu das Artes Denis Viana foi morto no Nilsinho Shows, no Jardim Flórida, em Embu, às 3h30 da madrugada, mas o espaço não deveria estar aberto, já que lei municipal proíbe o funcionamento de bares após 23 horas. A casa noturna estava funcionando devido a ordem do prefeito e candidato à reeleição Ney Santos (Republicanos) para a Guarda Civil Municipal não fechar bares nem fazer rondas.

De acordo com integrantes do governo ouvidos pelo VERBO, Ney mandou a GCM não “incomodar” os bares para “agradar” os proprietários, para terem clientela às altas horas, durante o período eleitoral, de olho na reeleição. Ele foi além, determinou que as viaturas fiquem posicionadas próximo a comércios, não se desloquem, a não ser com autorização do comando, para fazer espécie de “guarda privada” dos estabelecimentos, em novo afago aos donos.

Uma “ordem de serviço” expedida em setembro (nº 222/2020) pelo comando da GCM para atuação “a partir do referido mês” lista locais para que cinco equipes realizem “estacionamentos diários”, diurnos e noturnos, sob alegação de implantar “ação com base nas estatísticas criminais do município”. Cada “viatura convencional” fica em determinados horários em pontos em cada região, enquanto apenas dois carros da Romu fazem as rondas.

A ordem lista locais com citação de alguns comércios e grupos empresariais, mas a menção não seria mera referência geográfica. “Se você olhar o documento, as viaturas estão paradas em postos de gasolina e empresas, fazendo segurança particular. Está assim ‘próximo’ a posto de gasolina tal, ‘próximo’ a empresa. Colocam ‘próximo’, só que não é ‘próximo’, é de frente e ao lado dos estabelecimentos e companhias. É descarado”, afirma uma fonte.

As viaturas “estacionadas” em “segurança particular” explicariam o não cumprimento da lei do fechamento de casas noturnas em horário não autorizado no município – lei 2029 aprovada em 2002 (governo Geraldo Cruz). “A Guarda não está atendendo mais nada, perturbação [do sossego], bar aberto, nada. Tudo para favorecer apoiadores do Ney. As viaturas estão literalmente 24 horas paradas”, diz um membro da Secretaria de Segurança.

A ordem de Ney para parar as rondas saltou os olhos com o caso Denis e contribuiu para o desfecho trágico. O ex-secretário foi morto após o segurança pessoal se envolver em briga com policiais militares. Na postagem de vídeo nas redes sociais em que Denis aparece caído, ferido gravemente, mas ainda com vida, conhecidos falam que Denis demorou a ser socorrido por conta de que a PM atendeu a ocorrência no bar, que a GCM não chegou ao local.

Denis só teria sido socorrido 40 minutos depois de ser ferido e foi levado ao Pronto-Socorro de Embu, a 6 km de distância, e não ao Hospital Geral do Pirajuçara, a 700 metros do bar. Com a morte do colega, os GCMs estão revoltados com a ordem de Ney de parar as rondas. O caso Denis expôs a “farsa” do planejamento contra o crime. Pela ordem de serviço, no horário do crime, a viatura da “equipe 2” e “equipe 1” da Romu deviam estar na área.

“Se não fosse essa ordem, não teria bar aberto de madrugada e teria viaturas fazendo ronda no horário próximo ao local para socorrer o Denis ao Hospital Pirajuçara, e ele possivelmente estaria vivo. No vídeo, só tinha PM no local. Porque as viaturas da Guarda estavam paradas e longe. Viaturas só saíram de ponto de parada quando descobriram que era o Denis. Mas aí era tarde demais”, disse o membro da pasta. Questionado, Ney silenciou.

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