Itapecerica tem quase 1.200 curados da covid; Jones volta a falar mal da cidade

Especial para o VERBO ONLINE

Em horário de expediente, Jones posta na 3ª que Embu tem 2.648 casos, quando no dia anterior ele próprio divulgava 2.690; Itapecerica tem 101 óbitos | Verbo

ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Itapecerica da Serra

Itapecerica da Serra chegou a quatro dias sem registrar mortes pela covid-19, neste sábado (22), e tem 1.397 casos. Passou a ter 1.172 curados do novo coronavírus, nesta sexta (21), quando o balanço é fechado – na semana passada, eram 1.141. Itapecerica notificou a última morte, a 101ª, na terça (18). Na data, o pré-candidato a prefeito Jones Donizette (Avante) atacou o município ao divulgar número de mortes inflado – e ainda com cálculo errado.

Com o único objetivo de explorar politicamente uma doença grave, para se beneficiar eleitoralmente, ao estilo “quanto pior, melhor”, Jones fez a postagem em rede social para comparar Itapecerica e Embu das Artes, onde é secretário. Ele disse que Itapecerica, com 175 mil moradores, teria o maior índice de mortes, “cerca de 0,84 mortos para cada 100 mil pessoas” – em sinal de não saber fazer conta acerca da mortalidade sobre a população.

Em tom panfletário, Jones passou a dizer que, “se comparado com a cidade vizinha, Embu das Artes, que tem 0,47 de mortos para cada 100 mil habitantes, é notável a diferença. Itapecerica totaliza 1.342 infectados e 149 mortos, já Embu tem 2.648 infectados e 136 mortos” – guarde esse dado. Curiosamente, para o cálculo, ele usou a população de Itapecerica oficial (175.693), mas de Embu (que é 273.726), não, inflou para mais de 289 mil para o índice baixar.

Jones disse que a suposta “baixa capacidade de medidas de isolamento social” que Itapecerica “aplicou no combate do coronavírus, somado [sic] a escassa oferta de serviço de saúde, contribuiu com o alto número de óbitos registrado, se comparado [sic] outra cidade, como Embu”. Porém, Itapecerica chegou a ter 67% de isolamento, já Embu teve no máximo 63% e só recentemente passou a ter taxas melhores, muito semelhantes ao vizinho.

O pré-candidato disse ainda que, “de acordo com o site do governo do Estado, foram registrados 149 óbitos por covid-19”, até terça-feira, “mas os boletins divulgados pela Autarquia da Saúde de Itapecerica da Serra apontam apenas 100 óbitos confirmados”, naquela data, e chegou a comentar que a prefeitura foi “questionada”, mas “não soube explicar o porquê da divergência de informações”. A fala sobre questionamento é duplamente falsa.

No início de junho, no dia 9, Jones já tinha usado o expediente de manipular os dados, em vista das eleições, ao dizer em um site que lançou que, àquela altura, Itapecerica tinha a maior taxa de letalidade da região, e já tinha sido contestado. “Absurdo”, reagiu a superintendente da Autarquia Municipal de Saúde, Michele Sales. “Ao contrário da matéria, temos, atualmente, 42 óbitos, e não 62 apontados erroneamente”, completou a gestora.

Depois, Michele apresentou ao VERBO explicação da Vigilância Epidemiológica da autarquia de que as pessoas que vieram a óbito em Itapecerica em número além do divulgado em boletim municipal “não são moradores, mas atendidos” na cidade – a notificação ocorre conforme o domicílio da vítima. Procurada pela reportagem após a nova postagem de Jones, a prefeitura negou ter sido “questionada” oficialmente por ele ou mesmo por morador.

“No comitê de crise, não fomos questionados. Isto posso afirmar”, disse o secretário Claudio Sivestre Jr. (Assuntos Jurídicos), ao reforçar o esclarecimento da autarquia de que a contabilização feita pelo governo estadual é global. “Para o Estado, a conta é única. Para nós, o HGIS notifica apenas os óbitos que têm endereço residencial de Itapecerica”, frisou, ao se referir ao Hospital Geral de Itapecerica, que é referência de atendimento a outras cidades.

O HGIS acabou virando porta de entrada também para moradores de Embu, embora o munícipio tenha como unidade pública de referência o Hospital Geral do Pirajuçara, por conta da deficiência generalizada da saúde de Embu, ao contrário da “marquetagem” de Jones. Em apenas três anos, pelo menos seis pacientes morreram sob negligência após atendimento em unidades de Embu, entre elas dois bebês e uma criança de um ano de vida.

Um dos mais próximos correligionários do governo Ney Santos (Republicanos), Bruno Nascimento, morreu de covid-19 após ter de procurar o HGIS. Há um mês, um paciente chamou a UPA de Embu de “lixo” após sair sem qualquer exame apesar da suspeita de estar com a doença. O próprio Jones, que disse ter se contaminado, buscou diagnóstico pago em cidade vizinha – e ainda fez propaganda da clínica – por falta de teste na saúde de Embu.

Além de junho, Jones falou mal de Itapecerica de novo há um mês. Em 23 de julho, ele tentou politizar a divulgação do quadro da covid-19 no munícipio, mas estava há três dias sem informar o boletim da doença atualizado na cidade pela qual devia trabalhar. Ele fica mais preocupado e ocupado em fazer campanha a prefeito na cidade vizinha com ataques ao governo local durante o expediente em Embu, como revelou o VERBO no ano passado.

A prudência recomenda confiar mais em um boletim divulgado diariamente, caso de Itapecerica, do que em um que chega a ficar cinco dias sem ser atualizado, o de Embu, a cargo de Jones. Mas desonestidade pouca é bobagem. Além de fazer a postagem, de novo, em horário de expediente de secretário, Jones disse na terça que Embu “tem 2.648 infectados”. Ele mesmo divulgou no dia anterior, em boletim atualizado raro, que os casos eram 2.690.

> Colaborou a Redação do VERBO ONLINE
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