ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
A secretária-adjunta de Saúde de Embu das Artes, Maria Serrano, contraiu covid-19 e está internada no hospital de campanha do Vazame, desde o último domingo (9). Antes de o governo Ney Santos (Republicanos) confirmar a internação de Serrano, o VERBO recebeu uma denúncia de que a adjunta está tendo atendimento “VIP”, com enfermeira que dá assistência exclusiva à integrante do primeiro escalão e deixa o posto onde trabalha – no Samu.
Os secretários Raul Bueno (Saúde) e Alexandre Santos (Comunicação) foram questionados pela reportagem sobre que sintomas Serrano teve, mas alegaram não saber informar. Raul disse apenas que a adjunta “teve sintomas, passou no médico e fez exame”. “Essas informações, não tenho. E creio que devem ser perguntadas a ela, quando de alta”, disse, mesmo em se tratando de uma secretária. “Como não sei de nenhum paciente que se encontra lá.”
Apesar de Serrano integrar o secretariado e ocupar um leito em hospital reservado a munícipes de Embu, a gestão Ney não fez qualquer comunicado público e só passou a divulgar diante da cobrança de lideranças comunitárias após a informação “vazar”, o que foi visto como suspeito. Em um grupo de mensagens de texto, uma moradora desejou “ótima recuperação”, mas lamentou “saber que os munícipes não têm o mesmo tratamento diferenciado”.
Uma outra moradora reforçou que o governo está fazendo do Vazame um hospital particular para atender aliados. “Cadeia para quem tira da minoria para priorizar os parceiros”, disse. Raul ignorou e postou um vídeo de exaltação ao governo no combate à pandemia. Ele foi, porém, questionado por uma terceira munícipe. “Poderia falar sobre os ‘boatos’ de privilégios no Vazame? Seria sobre paciente estar em um quarto só para ele. [Ter] Escolta”, disse.
O secretário perguntou qual era a paciente. A moradora disse se tratar de Serrano e questionou sobre “estar com celular, receber visitas, [estar internada] com ar-condicionado”. Raul demonstrou irritação e pediu “respeito”. “Privilégio? Ela tem um bom convênio particular, poderia estar numa boa suíte de um bom hospital particular e optou por ser cuidada em Embu, demonstrando que confia na qualidade do atendimento que temos”, declarou.
“Está num quarto como outros, na ala próxima a UTI, por recomendação médica. Lá todos os quartos são iguais […]. Aliás, fiscalização do Estado esteve em nossa UTI e disse ser a melhor entre todas que visitaram na região”, disse ainda Raul, ao pedir “que respeitemos esse duro momento que a Maria está passando”. Antes, porém, o secretário resolveu atacar a moradora ao dizer que tinha “posição de oposição cega a tudo do atual governo”.
A moradora rebateu. “Cega seria se não perguntasse o lado do governo. Até porque temos os mesmos direitos. Que bom que ela tem convênio e pode estar em um bom lugar. Aqui muitos sem convênios morrem esperando uma vaga”, disse. Raul se retirou da conversa. Uma quarta cidadã protestou: “O que sabemos é que tem privilégios sim! Tem casos de suspeita do vírus, aguardando vaga na UPA! Por que já não envia para o centro de combate?”
“Não é à toa que impediram a entrada da vereadora para fiscalizar as denúncias neste equipamento”, completou a moradora, sobre o episódio há quase dois meses em que Rosângela Santos (PT) foi barrada de entrar pelo assessor de Ney e pré-candidato a vereador Renato Oliveira (MDB). “Para não pegar em flagra a unidade pública sendo usada como rede privada, criam baderna na porta”, disse a que pediu “cadeia” para quem tira vaga de munícipes.
Apesar de o secretário negar atendimento especial a Serrano, uma fonte ligada ao governo procurou o VERBO para denunciar “privilégio” na internação da adjunta. “A senhora Maria Serrano está internada no hospital do Vazame, está pedindo sigilo total, não quer que seja exposta, está com covid. E está tendo exclusividade lá, com enfermeira 24 horas só para ela. Inclusive, a enfermeira é a do Samu de Embu das Artes, a coordenadora-geral Denise”, disse.
“Está como acompanhante e não está comparecendo ao trabalho, está deixando o serviço dela para estar lá. E poderia ser qualquer outra enfermeira, por que tem que ser ela? Por que ela [Serrano] tem esse privilégio? Será que os pais de família, moradores têm assistência 24 horas como ela está tendo? Estão fazendo tudo por baixo do pano, deve ter coisa errada. E está errado mesmo, tem que ser igual para todos. Mas infelizmente não é”, finalizou.
Questionado, Raul preferiu primeiro atacar o VERBO com a mesma fala contra as moradoras, de que este portal faz “oposição cega” ao governo, quando apenas perguntou os sintomas de Serrano e apresentou a denúncia. Depois, ele disse, apesar de ignorar os sintomas, que “a Maria está num quadro já – a gente tem informações – de bastante evolução para melhora e está sendo atendida como qualquer outra pessoa”. A reportagem não localizou Denise.