ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Embu das Artes perdeu nesta semana uma mulher de fibra, pessoa fundamental na luta em defesa das religiões afrobrasileiras e contra a intolerância religiosa. A líder comunitária Marcia Arndt, praticante do candomblé, morreu na terça-feira (14), aos 54 anos, de insuficiência respiratória agravada por infecção urinária, no Hospital Santa Clara (zona leste de São Paulo). Marcia, ativista dos direitos sociais, falava em “ajudar a construir uma cidade melhor”.
Determinada, Marcia, branca, teve atuação marcante na criação do Conselho Municipal dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana, por lei em 2016 (governo Chico Brito). “Ela era filha de Ogum, uma liderança que se denominava uma mulher negra, independente da cor de pele. Ajudou a construir e constituir o conselho consultivo. Era uma mulher de muita luta e garra pelas políticas públicas”, disse o amigo “pai” Jeferson de Nkosi ao VERBO.
Marcia foi candidata a vereadora de Embu também há quatro anos, pelo PHS, da coligação do candidato a prefeito Pedro Valdir, então vereador, a quem assessorou no destacado trabalho em favor das religiões afro. Durante o atual governo, ela reagiu e protestou contra a ameaça de expulsão de área cedida pela gestão anterior a título de concessão de uso às comunidades tradicionais no bairro do Ressaca (onde há uma cachoeira), no ano passado.
Marcia trabalhou depois em escola no bairro onde morava, no Santo Eduardo, amada pela crianças. Foi conselheira de Saúde e atualmente lutava pela criação do conselho LGBTQi+ (lésbicas, gays e outras orientações sexuais e de gênero). “Todo amor é bonito, feio é não amar. Aceitar é uma escolha, respeitar é um dever”, postou em rede social. “Ela ia casar a filha. Ia ser o primeiro casamento [entre mulheres] em Embu”, disse a amiga Halana Souza.
Várias lideranças expressaram pesar. “Vai fazer falta principalmente na luta pelos direitos dos povos tradicionais”, disse a ex-coordenadora da Igualdade Racial Marisa Araújo. Ela apoiava a pré-candidata a prefeita Rosângela Santos (PT). “A Marcia dizia que ia ajudar a construir uma cidade melhor”, disse a vereadora. Marcia foi sepultada no Cemitério do Jesuítas. Viúva, deixa os filhos Guilherme e Paula. “Ela sempre foi muito ativa”, resumiu Guilherme.