ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
O prefeito Ney Santos (Republicanos) encerrou nesta sexta-feira (10) o atendimento do hospital de campanha contra a covid-19 no parque Francisco Rizzo (centro) com a justificativa de que os casos e mortes pelo novo coronavírus diminuíram em Embu das Artes devido ao trabalho que comandou. No entanto, o governo registra – e esconde – alta de infectados e óbitos e fechou o centro com o fim do contrato, denunciado como superfaturado.
“Estamos encerrando as nossas atividades neste local por conta de todo o trabalho que fizemos. Em toda a região sudoeste, o município que tem menos mortes é aqui em Embu das Artes, o que tem o menor número de infectados é Embu das Artes por conta de várias ações que fizemos em prol da saúde da população, até porque quando iniciou-se essa pandemia não medimos esforços para tomar todas as medidas possíveis”, discursou Ney.
Ney disse que não gostaria de ter criado o equipamento, aberto em 23 de março. “Não estava nos nossos planos, nunca esteve, até porque o mundo não esperava essa grande pandemia. Mas tivemos que fazer algo diferente, não poderíamos ficar de braços cruzados, veio a ideia de construir o centro de combate, um espaço com 1.650 metros [quadrados] de construção, construído em cinco dias, com 50 leitos equipados para atender a população”, disse.
Ney disse que o centro em três meses e meio aberto atendeu 4.500 pacientes, e criticou adversários. “Se a gente não tivesse criado esse equipamento aonde teriam passado as mais de 4.500 pessoas? Por isso, a população aprova. Um deputado amigo meu me disse: ‘O trabalho que você fez não chegou só nos ouvidos da população de Embu, mas do Estado de São Paulo’. Obviamente, para os nossos adversários, quanto pior, melhor”, disse.
“Estamos com a consciência tranquila. Neste equipamento ficaram internadas mais de 650 pessoas, e 480 foram curadas, pelos profissionais que aqui trabalharam. Através do equipamento que criamos, pessoas que chegaram em ambulância, em maca, saíram daqui andando, com saúde”, disse Ney. Ele falou que a unidade “funcionou como tinha que funcionar”. Em abril, porém, uma paciente de 39 anos morreu com covid-19 após ser mandada para casa.
“Hoje digo [que é um dia de] felicidade porque não precisamos mais deixar esse equipamento aberto, por conta do trabalho que foi feito, e na nossa cidade tem caído cada vez mais a taxa de contaminados. Obviamente, a gente pede que as pessoas façam a sua parte também, tentem ficar ao máximo de tempo em casa, evitem todo tipo de aglomeração para que a taxa de letalidade, de infecção caia ao máximo possível”, disse Ney, em live em rede social.
O prefeito fez menção à contratação do serviço – com dispensa de licitação -, sem citar valores. “A locação desse equipamento, tudo que foi feito foi planejado para três meses, não foram três meses cerrados, mas conseguimos em menos de quatro meses cumprir o que planejamos, que é encerrar essa atividade”, afirmou Ney. Ele disse que 15 pacientes foram os últimos internados no local e foram transferidos para o hospital de campanha 2, no Vazame.
Contudo, o número de mortes por covid-19 em Embu é o segundo mais alto na região e continua aumentando, embora com menos velocidade. Em 1º de julho, os óbitos eram 92. Nesta sexta (10), 99. Proporcionalmente à população, Embu tem oficialmente taxa de mortalidade menor, de 36,2 por 100 mil habitantes, mas não detém a mais baixa taxa de infectados, com 550,6 – a de Itapecerica da Serra é de 487,8 casos por 100 mil habitantes.
No entanto, o governo Ney não tem transparência na apresentação do quadro de covid-19 em Embu – atrasa divulgação dos casos e mortes, não informa o perfil das vítimas e pode estar manipulando os registros. Conforme revelou o VERBO em reportagem no dia 19 de junho, a gestão divulgou ao público boletim de 23 de maio com 36 mortes confirmadas, mas informe interno da Secretaria Municipal da Saúde apontava 40 óbitos registrados.
Por outro lado, o governo divulgou boletim com 398 infectados, inflado, já que o informe da secretaria citava 329 casos. A manipulação de contabilizar menos óbitos e mais casos que os oficiais possibilita obter taxa de letalidade menor (9%) que a real (12,2%). Além disso, a gestão divulgou o último boletim na quarta-feira (8). Ontem, quando Ney alardeava números mais favoráveis, a população não tinha o informe atualizado para verificar os dados.
Com os casos e óbitos altos e em crescimento, Ney admitiu o fechamento do centro ao término do contrato, mas não esclareceu o custo ao final das atividades do local, como fez questão de anunciar os atendimentos. Conforme denunciou o morador João Paixão, Ney gastou R$ 1.950.000 pela locação da tenda e R$ 10.799.717,04 para pôr a mesma empresa que já gerencia os pronto-socorros, total de R$ 12.749.717,04, por três meses de funcionamento.
“Prefeito Ney Santos superfatura obra do hospital de campanha. […] Estamos gastando R$ 12 milhões só com a estrutura e a contratação de funcionários. Pasmem, a Secretaria de Saúde de Embu das Artes não gasta R$ 3.599.000,00 por mês com a folha de pagamento”, apontou Paixão. Para comparação, o centro no parque Rizzo custou quase três vezes mais que a unidade de Taboão da Serra, com contrato de R$ 9 milhões por seis meses.
Centro Médico Embuense de Combate ao Coronavírus – Unidade Vazame
Rua São Lucas, 92, Jardim Vazame, Embu das Artes