Obedientes a Ney em ‘negociata’, vereadores governistas aprovam conta de Chico

Especial para o VERBO ONLINE

Relator Índio, que deu parecer pela rejeição do relatório do TCE e a favor das contas de Chico, conforme "negociata" entre Ney e ex-prefeito | Reprodução/Verbo

RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes

Vereadores da base do governo Ney Santos (Republicanos) aprovaram nesta quarta-feira (4) as contas rejeitadas do ex-prefeito Chico Brito de 2016, “obedientes” à ordem do prefeito para consumar “negociata” com Chico. Ney fez acerto para trocar o voto dos governistas contra o parecer do Tribunal de Contas do Estado (TCE) pela reprovação das contas de Chico pelo apoio do ex-prefeito à sua reeleição neste ano – no “pacote”, Chico “entregou” o PSD para Ney.

O placar foi 12 a 3. Onze vereadores da situação – Índio Silva (Republicanos), o relator das contas, Doda Pinheiro (sem partido, expulso do PT), Bobilel Castilho (PSC), Ricardo Almeida (Republicanos), Gilson Oliveira (MDB), Carlinhos do Embu (PSC), Jefferson do Caminhão (PSDB), Gerson Olegário (PTC), Joãozinho da Farmácia (PL), Luiz do Depósito (MDB) e Daniboy (DEM) – e a opositora Dra. Bete (PTB) votaram contra o parecer do TCE e a favor da gestão de Chico.

Os demais oposicionistas, André Maestri (PTB), Edvânio Mendes (PT) e Rosângela Santos (PT), seguiram relatório do TCE e votaram contra as contas de Chico. O presidente Hugo Prado (PSB) só vota em empate. Júlio Campanha (Republicanos) faltou à sessão. A “negociata” entre o prefeito e o antecessor veio à tona após o VERBO revelar há um mês áudio em que Chico falava a Ney “tá feito, prefeito, palavra empenhada, palavra cumprida, […], ‘tamo junto'”.

Em sinal de conversa adiantada, na primeira sessão após o recesso, em 5 de fevereiro, os edis “obedientes” a Ney trocaram o relator das contas de Chico na Câmara, que era Doda, desafeto do ex-prefeito, e escolheram Índio, que foi cargo político na gestão Chico. Foi uma sinalização de cumprimento do acordo. No dia seguinte, Ney, com os governistas, ia selar a “negociata” ao receber Chico em casa em almoço – que acabou abortado após o “vazamento”.

Na sessão, que foi iniciada com 1 hora e 10 minutos de atraso, Edvânio frisou a revelação da “negociata” por este site e quis passar o áudio ao público. Hugo barrou. Ele expôs a contradição dos governistas, mas falou o que estava por trás. “Nos últimos três anos, os senhores falaram que Chico fez a pior administração. Então rejeitem a conta desse cidadão, ou vão demonstrar que o prefeitinho [Ney] manda em vocês para aprovar por um acordo político”, disse.

Índio chamou Edvânio de ingrato por ter feito parte do governo do ex-prefeito, “comendo do que o Chico dava ao senhor e hoje vem fazer discurso ‘hipóquita'” – tropeçou na palavra. Na verdade, Edvânio foi crítico a Chico. Índio assumiu ser “escudeiro” do aliado. “Não fui vereador no mandato do Chico, compus o governo e fui coordenador da campanha dele, não tenho vergonha, e hoje sou relator das contas dele, com muito prazer e orgulho”, disse, parcial.

Doda, que quis deixar o caminho livre ao “acordo” de Ney e declinou de ser relator, leu o relatório do TCE permeado de irregularidades sobre as contas de Chico, entre elas o gasto de 24,58% do orçamento em educação (mínimo é 25%), despesas com o Fundeb (fundo da educação básica) de 93,57% (deve ser 100%), não recolhimento dos encargos à previdência dos servidores, déficit orçamentário de 5,11% (despesas de R$ 25,4 milhões acima das receitas).

Apesar da apreciação “desfavorável à aprovação” com apontamento de várias falhas graves, Índio emitiu parecer pela rejeição do relatório do TCE. “Não tem desvio de verba pública, não tem furto, não tem nada que condene o antigo prefeito Chico Brito. […] São erros formais, passíveis de correção”, disse. Ele, que fez leitura rápida, de três folhas rasas, alegou que “analisei bem as contas, peguei o processo, li e reli”, mas chamou duas vezes o TCE de “TSE”.

“O relator me tocou profundamente, mas como vou pela razão não voto”, disse Edvânio, ao justificar que, após Chico se defender, o TCE apontou “o cancelamento injustificado de créditos na dívida ativa [impostos vencidos]”. Rosângela mirou o acordo Ney-Chico e ironizou que “Chico nos dois últimos anos fez mandato compartilhado com Ney”. “Tem secretários que foram denunciados por serem na época fantasmas”, disse, sobre Jones Donizette, presente à sessão.

“O Ney assumiu, falando mal da gestão passada, imaginando que não precisaria mais do Chico. Mas agora precisa para se eleger, para tirar sua rejeição, criando a taxa do lixo, o ‘Cartão Cidadão’, com aumento do IPTU, prejudicando as professoras. E traz aos vereadores da base para que aprovem as contas, que eles mesmos afirmavam que tinham desvio. Agora mudaram de ideia? É a velha política, a população está cansada de conchavos”, protestou Rosângela.

Favorável às contas, Dra. Bete cobrou coerência ao apontar que “90%” dos vereadores integraram a gestão passada e citou obras de Chico. “O tribunal vem e fiscaliza, mas manda para a gente porque não vive a realidade da cidade”, disse. O marido, Natinha (Podemos), era vice de Chico. Contrário ao parecer do TCE, Daniboy posou como coerente ao dizer que nas outras vezes votou pró-Chico. “Jamais fiquei criticando o passado dele, fez uma boa gestão”, disse.

Bobilel, crítico feroz de Chico, voltou a reprovar a gestão do ex-prefeito, mas anunciou rejeitar o parecer do TCE, ironicamente. “Eu votei duas rejeições [de contas de Chico], segui o parecer do relator, que era o Doda, e hoje vou seguir o parecer do Índio, que me convenceu”, disse. Ele negou que tenha sido mandado por Ney. Porém, os demais governistas, sem poder justificar o injustificável de ter atacado a gestão Chico e agora aprovar as contas, calaram.

Maestri foi categórico em dizer que o voto da base era “político”, apenas para viabilizar a aliança Ney-Chico. “Muitos não leram o que o tribunal aponta. […] E um monte de apontamentos de erros, o prefeito está cometendo. Um dos mais graves é o não repasse devido ao Embuprev”, disse. Ele indicou que os governistas votaram por ordem de Ney. “O meu filho, futuramente, vai saber que o pai dele foi uma vez vereador e não foi pau mandado de ninguém”, falou.

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