Após reunir ‘gatos pingados’ para ouvir Ney, Doda se irrita e ameaça até quem compareceu sozinho

RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Embu das Artes

Em reflexo da “falta de escrúpulos” e de “ingratidão”, segundo pessoas que “abandonou”, o vereador Doda Pinheiro (sem partido, expulso do PT) reuniu no sábado (29) apenas cerca de 50 pessoas em reunião política para ouvir o prefeito Ney Santos (Republicanos) e se irritou com o fiasco do evento com “um punhado de gatos pingados”, definiu um aliado do governo. Ele mandou mensagem em tom de ameaça, inclusive aos apoiadores que foram “sozinhos”.

Doda não disfarçou o constrangimento e decepção de reunir tão poucas pessoas na “prestação de contas” de Ney, considerada no meio político, porém, campanha antecipada – o prefeito pretende concorrer à reeleição em outubro. Vereador em segundo mandato, líder de Ney na Câmara e com benesses à altura do posto, inclusive “empregados” na prefeitura que poderiam levar outros moradores, Doda deveria ter reunido ao menos quatro vezes mais pessoas.

“Ele é vereador e faz reunião com 50 pessoas. Que vergonha”, disse o aliado do governo. A reunião de Didi, ex-vereador há sete anos, teve mais de 200 pessoas. Concorrente de Doda, Rogério Tifú reuniu número três vezes maior. “Quem tem pessoas na prefeitura tem como levar mais gente. Ele tem três assessores na Câmara, 25 a 30 cargos na prefeitura, contando a frente de trabalho. Trinta levando dez apoiadores dá 300 pessoas”, calculou.

Doda trocou mensagens no “grupo dele”, de apoiadores, em uma rede social, às quais o VERBO teve acesso. Ele fez breve agradecimento “protocolar” aos que foram à reunião, para logo “dar” o recado. “Gente, muito obrigado pela bela rrunião [reunião] que fizemos hoje. Parabenizo especialmente os que se comprometeram e levaram seu pessoal. Aos que foram sozinhos, repensem sua participação neste grupo, os que não foram mais ainda”, disparou.

“Ele fala até para quem foi e não levou ninguém. Agora imagina quem não foi – teve gente que não foi. Quem vai só é para repensar. Para quem não vai, é ‘meter marcha’, não ficar no grupo. Olha o tom de ameaça”, disse uma pessoa próxima. Ainda na reprimenda, Doda frisa que “estamos em um momento importante, de decisão futura deste grupo, não sou eu que vou falar que você vai permanecer neste grupo, suas ações, atitudes e decisões que irão dizer”.

Doda se preocupou em manter a “carreira” política, sem qualquer menção a compromisso com a população. “Eu NÃO posso correr o risco de ficar de fora da Câmara e deixar os que se comprometem na mão, por irresponsabilidades de algumas pessoas”, apelou, em nova estocada nos apoiadores. “O povo está desanimado. Mas não pode considerar que o pessoal está insatisfeito com ele. Ele tem que falar que é irresponsabilidade”, reagiu um correligionário.

“Deus abençoe a todos e ilumine minhas decisões”, finalizou Doda, indicando que será ele sim que dirá quem vai ficar no grupo. Ney tentou minimizar o fracasso do aliado. “Agradeço de coração ao vereador Doda Pinheiro que mesmo debaixo de garoa reuniu diversos amigos para compartilharmos as boas notícias da nossa cidade”, escreveu. Após virar notícia por decisões polêmicas, Doda não fala com o VERBO, não responde a contatos e bloqueou a rede social.

Apesar do “projeto” de se perpetuar na Câmara, Doda tem um obstáculo intransponível. Teve as contas reprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado como presidente da Câmara em 2014 e também em 2013. Ou seja, Doda teve a gestão administrativa e financeira julgada com graves irregularidades pelo órgão técnico do Estado nos dois anos em que presidiu o Legislativo embuense. Pela dupla “façanha”, é enquadrado na lei da “ficha-suja” e está inelegível.

“Ele está com conta rejeitada, ainda está colocando a faca no pescoço no grupo”, disse um “ameaçado”. Apesar da “empáfia”, Doda é acusado por ex-assessores de ficar com parte do salário dos funcionários e de “apadrinhados” na prefeitura. “Na verdade, ele virou um sem caráter”, afirmou um ex-aliado. “Como você é ingrato hein, Doda. Cuidado com o dia de amanhã”, advertiu uma moradora ao comentar reportagem sobre o vereador ter atacado o ex-partido.