RÔMULO FERREIRA
Reportagem do VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
Alunos do ensino médio da Escola Estadual Edgard Francisco, no Jardim Guaciara (região do Pirajuçara), em Taboão da Serra, realizaram na terça-feira (19) a 2ª Plenária da Consciência Negra. A participação massiva dos estudantes chamou a atenção para o evento que buscou dialogar sobre “a importância da educação nos micros contextos desiguais que delimitam as trajetórias existenciais e percursos escolares dos jovens pobres”.
A 2ª Plenária teve apresentação teatral, exposição da diversidade e beleza afro, sarau da diversidade, oficina “abayomi” e varal filosófico, sob a orientação do professor Alexandre Santos, um dos coordenadores, que há tempos incentiva os alunos a redescobrirem as realidades de pobreza, preconceito e falta de oportunidade. Dessa maneira, conhecendo de fato o “seu mundo”, a juventude passa a “reinventar sua existência” de maneira a encarar os desafios do cotidiano.
Santos, que é mestre em filosofia, coloca os alunos como os grandes protagonistas da atividade. Para ele, a participação efetiva dos jovens mostrou como buscam reinventar suas existências deflagradas pela pobreza, desigualdade de oportunidades e discursos discriminatórios em territórios vulneráveis frente as diferentes dimensões da violência. “Fomos surpreendidos com os incríveis modos que os jovens buscam reinventar suas existências”, conta o professor.
“Por vezes os dias acordam nublados, impedem o livre ‘esperançar’ dos novos dias. Desigualmente os jovens acordam em seus lares, por vezes, o cântico dos pássaros é substituído por tiros, confusões e pelas brutas intervenções policiais invadindo seus lares. Sem a gratuita condição em sonhar, em acordar algum dia, mesmo que na utópica expressividade dos sonhos por novos e pacíficos dias… coloridos! Aqui sonhamos desacordados”, escreve Santos, sobre a realidade da periferia.
“A escolha pela (re)existência é diária. Tanto por ser jovem sem perspectivas de um futuro mais humanizado, quanto por ser negro no Brasil. Ações, mesmo que reflexivas, são necessárias para o fortalecimento do protagonismo juvenil. Manifestos pelo reconhecimento e visibilidade juvenil da população negra se fazem necessários nos futuros dias”, conta o professor. Os alunos apresentaram uma peça teatral sobre o poema “Navio Negreiro”, de Castro Alves (1847-1871).
“Navio Negreiro” relata a situação extrema dos africanos que, em navios, saíam de suas terras em direção à América para serem propriedades de senhores e trabalharem sob regime de escravidão. “Foi uma experiência única, ficamos muito felizes em pegar esse livro. Na verdade, foi um desafio, mas a gente conseguiu demonstrar para vocês como foi, demonstrar uma história real para o público perceber aquela dor [dos refugiados negros]”, disse Giovanna Veira, 18, aluna do 3º ano.
O aluno do mesmo ano, Caio Prado, 17, que interpretou Castro Alves durante a peça, expressou a dificuldade que tinha antes da apresentação, mas comemora o sucesso da peça. “Eu fiquei em dúvida de como a gente iria representar um poema no português de Portugal antigo, porque a linguagem era muito complicada e o grande desafio realmente foi ser Castro Alves, porque eu tive que decorar o poema inteiro, o tempo da música e ainda tinha que agir como o autor”, conta.
“Eu fiquei com medo de acabar falhando em alguma coisa, só que nunca imaginei que estaria aqui nesse momento representando Castro Alves de uma forma que até eu gostei”, vibra Caio. Para Santos, a educação é primordial na construção de mentes conscientes. “Concluímos a partir dessas questões o quanto é importante realçar que o direito à educação é um direito humano”, enfatiza. O Edgard se destaca por atividades diferenciadas com alunos que concluem o ensino médio.