Com homenagem pataxó, morador de Taboão que morreu no metrô é enterrado sob revolta da família

Lourivaldo, 35, ao entrar no trem em estação lotada, foi prensado entre as portas do vagão e da plataforma; após morte, ViaMobilidade diz que instalará sensor em vãos

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Morador de Taboão, Lourivaldo (no detalhe), que morreu prensado entre portas do metrô Campo Limpo, é sepultado no Cemitério da Saudade | Marcelo Gonçalves/Folhapress

Lourivaldo Ferreira da Silva Nepomuceno, morador de Taboão da Serra que morreu após ficar prensado entre o trem e a porta de segurança da plataforma na estação Campo Limpo do metrô (zona sul de SP), foi enterrado na quinta-feira (8) no Cemitério da Saudade, na cidade. Familiares e amigos de Lourivaldo cobraram justiça durante o sepultamento. Parentes protestaram ainda contra o tratamento aos passageiros. A linha 5-Lilás registra superlotação durante a semana.

Lourivaldo morreu ao tentar entrar no trem, em meio a aglomeração de passageiros, na terça-feira (6). Ele, que tinha 35 anos, estava indo trabalhar. “Trabalhador não é gado para ser amassado em metrô. A gente pede pelo menos que vá trabalhar com dignidade e volte com segurança”, disse Caio Ferreira Freitas, primo da vítima, indignado. “Como está funcionando uma linha que acabou de deixar uma tragédia na nossa família? Por que o metrô não foi interditado?”, falou.

O fato foi às 8h05. Menos de duas horas após a morte de Lourivaldo, funcionários da linha 5-lilás fizeram a limpeza do local, mesmo antes da chegada da Polícia Científica para fazer a perícia. Concessionária da linha (privatizada), a ViaMobilidade alegou que tomou a medida com base em uma lei federal que determina o restabelecimento da circulação dos trens o mais rápido possível. Mas, de acordo com testemunhas, os trens já circulavam normalmente antes da limpeza.

Um segurança da ViaMobilidade disse à polícia que ouviu barulhos vindos da plataforma, por volta das 8h10. Mas, quando ele e outros agentes chegaram ao local, encontraram o passageiro sem sinais vitais. Lourivaldo estava caído nos trilhos, com ferimento na cabeça. O pai da vítima está inconformado. “Pra mim, não é um acidente. O metrô não podia circular nesse momento. Por que [a porta] fechou e acabou com o meu filho?”, questionou Lourivaldo dos Santos.

A concessionária declarou que o passageiro tentou entrar no trem mesmo após os avisos sonoros. Acrescentou que o trem só partiu da estação porque ambas as portas – do vagão e da plataforma – estavam fechadas, e o o sistema de sensores não indicaram falha. Mas o sensor em questão não é o de presença entre as duas portas. No entanto, após a morte do passageiro, a ViaMobilidade disse que vai instalar sensores nos vãos das plataformas até fevereiro de 2026.

Lourivaldo era indígena pataxó. Antes de enterrar o corpo, Gisele de Sousa, irmã da vítima, prestou uma homenagem a ele com um canto na língua da etnia à qual a família pertence. Ela e a mãe, Damares de Sousa, moram na aldeia de Barra Velha, em Porto Seguro, no sul da Bahia, e vieram ao velório em Taboão com ajuda da aldeia. Pai de três filhos (de, 4, 5 e 17 anos), Lourivaldo trabalhava como repositor de supermercado, dava aula de natação e estudava educação física.

Ele iria fazer 36 anos neste domingo (11), no Dia das Mães, e planejava fazer um churrasco para festejar com toda a família, que agora está chocada e de luto. “Ele era a alegria dessa família, conquistava a todos com seu jeito contagiante e alegre. Tinha um coração enorme, vivia pelos filhos e era um pai exemplar”, disse Caio. A ViaMobilidade disse que está em contato com o pai da vítima e se ofereceu para arcar com os custos do sepultamento e deslocamento da família.

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