Robert Francis Prevost foi eleito nesta quinta-feira (8) papa, o primeiro americano da história, quando a fumaça branca saiu da chaminé da Capela Sistina no segundo dia do conclave. Ele é natural de Chicago, mas viveu mais de 20 anos no Peru. O sucessor de Francisco escolheu o nome de Leão 14, que evoca as bases tradicionais da Igreja Católica e também um histórico de preocupações sociais. Nascido em 14 de setembro de 1955, ele tem 69 anos, em perspectiva de longo papado.
Prevost é um “religioso”, designação católica para membros de uma congregação (comunidade de clérigos). Antes formado em matemática, ele iniciou na Igreja em 1978 e três anos depois fez os votos solenes (definitivos) de frade na Ordem de Santo Agostinho (OSA), um dos ramos mais antigos do catolicismo (século 13), inspirado na vida e escritos do monge que dá nome à ordem, que une espiritualidade profunda com dedicação à educação e serviço social.
Ele foi ordenado padre em 1982, aos 26 anos. Foi ser missionário no Peru, onde ficou 13 anos. Em 2014 tornou-se administrador da Diocese de Chiclayo, no Peru, e no ano seguinte foi nomeado bispo local, por Francisco. Ficou até janeiro de 2023, quando Francisco o chamou ao Vaticano para chefiar o Dicastério para os Bispos, que analisa para o papa a escolha de bispos. No cargo, foi nomeado cardeal, que exereceu por apenas 2 anos antes de virar papa, algo raro na Igreja.
Por isso, Prevost não aparecia nas listas de favorito a papa, mas surgiu entre os candidatos dos Estados Unidos com chance, fator importante. Apenas o segundo não europeu à frente da Igreja, é considerado uma opção de meio-termo, um progressista moderado, atento aos pobres e periféricos, mas conservador na doutrina. No primeiro discurso, Leão 14 pregou a união e a continuidade do legado do papa Francisco, mas sem a simpatia do antecessor por assuntos de comportamento.
No entanto, em acento ao “batismo” do novo papa, Prevost escolheu uma identidade com forte simbolismo. Leão 13, o último pontífice (de 1878 até a morte, em 1903) a adotar o nome, foi o papa que publicou, em 1891, a encíclica “Rerum Novarum” (“Sobre as Coisas Novas”). Com o emblemático documento, o então papa estabeleceu a doutrina social da Igreja, ao se preocupar, à época, com o operariado e os desempregados. É o tom que se espera do pontificado de Leão 14.
No olhar para “além da sacristia”, dos temas internos da Igreja, Prevost deve ser um papa preocupado em ser uma voz contra a guerra. Também no pronunciamento de “apresentação”, ele fez referência à paz, questão central para a humanidade na atualidade, diante dos conflitos entre Rússia e Ucrânia, em Gaza e no Sudão, entre dezenas, em várias partes do mundo. Leão 14 defendeu “uma paz desarmada e uma paz desarmante, humilde e perseverante, que provém de Deus”.
A escolha do 267º pontífice da história da Igreja foi recebida com muita alegria na América Latina, com o vínculo marcante do papa com o Peru. Inclusive, ele se naturalizou peruano. De certa forma, o líder de 1,4 bilhão de fiéis no mundo é mais um latino-americano, após Francisco, em indicação de que os cardeais da região influenciaram na escolha. Dos 133 cardeais que participaram do conclave, estavam 22 latino-americanos. Prevost foi eleito por ao menos 89 cardeais.
Entretanto, no período mais profícuo da trajetória, Prevost enfrentou a principal crise. Em 2023, três mulheres o acusaram de acobertar abuso sexual cometidos por dois padres no Peru, quando ainda eram crianças. A diocese da qual foi bispo nega qualquer acobertamento e afirma que Prevost seguiu os trâmites exigidos pela legislação da Igreja. Após receber formalmente os relatos, encaminhou, no ano anterior, o caso ao Vaticano – que ainda não concluiu a investigação.
Contudo, no Peru, Prevost cobrou desculpas públicas pelas injustiças cometidas durante o governo autoritário de Alberto Fujimori. No início de 2023, ele entregou alimentos a famílias atingidas por fortes chuvas em Chiclayo, em meio a enchente – com os pés em água barrenta, de botas até o joelho. É defensor dos imigrantes. Compatriota que fala espanhol e convocou a “construir pontes com o diálogo” na primeira mensagem, o novo papa é crítico do presidente Donald Trump.