Tribunal atesta má gestão de Ney e rejeita contas, mas vereadores aprovam após ganhar cargos

Somados a 9 da base aliada, 7 vereadores que se diziam 'independentes' e opositor desertor aprovaram atos de ex-prefeito de 2021, apesar de festival de irregularidades

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Zé do Piscinão, Léo Novais, Bobilel Castilho, Ricardo Almeida e Abel Arantes, que, com outros 12, ficaram contra parecer técnico do TCE-SP e aprovaram contas de Ney | Reprodução

O Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP) atestou a má gestão de Ney Santos (Republicanos) e reprovou as contas do então prefeito referentes a 2021, mas os vereadores de Embu das Artes que se diziam “independentes” garantiram a aprovação após negociarem com o prefeito Hugo Prado (Republicanos) – que era vice de Ney – e ganharem cargos na prefeitura. A votação das contas de Ney do primeiro ano do segundo mandato ocorreu nesta quarta-feira (30).

O TCE-SP apontou um festival de irregularidades na gestão de Ney. Em síntese, o então prefeito deixou um déficit de R$ 41,6 milhões. Porém, o relator do julgamento, o vereador João Rabada (União), aliado de Ney, deu parecer favorável às contas do ex-prefeito, mesmo ao reconhecer o descontrole das finanças. Após apresentação do relatório – feita por Gideon Junior (PV), que demonstrou ter grande dificuldade de leitura -, os vereadores da oposição elucidaram as deficiências do governo.

“As contas do Ney Santos foram rejeitadas porque em 2021 ele deixou um déficit na prefeitura de R$ 40 milhões. […] O ano [atual] é 2025, e o município deve a médicos, enfermeiros, comissionados que não receberam rescisão, 13º”, disse Abidan Henrique (PSB). Ele citou que Ney fez seis reparcelamentos de repasses ao Embuprev (previdência dos servidores) na gestão passada. “Ele recolhe do servidor, porém, não paga a parte patronal. Foram 21 meses de atraso”, criticou.

Ele abordou ainda dados da educação e saúde, inclusive o desvio de verba contra covid-19 detectado pela Polícia Federal. “O Tribunal de Contas apontou um déficit de quase 20% de vagas de creche, 1.400 crianças sem ter acesso ao básico. E não é por acaso que em 2021 foi descoberto o maior escândalo de corrupção na nossa cidade, com a operação ‘Contágio’. Ney Santos e sua corja desviaram R$ 30 milhões do que poderia ser leito e vacina para a população”, afirmou Abidan.

Uriel Biazin (PT), após frisar que relatório do TCE-SP é eminentemente técnico, chamou a atenção também para o apontamento de “atrasos e não recolhimento de contribuições com pagamento de multa e juros” por parte da gestão Ney ao Embuprev. Ele reportou que a corte de contas notou “divergências em dados contábeis e da dívida ativa do município”, que Ney apresentou balanços irreais ou maquiados, e ainda “uso indevido de despesa de licitação”, entre outros pontos.

Já os vereadores aliados de Ney não citaram nenhuma realização do então prefeito como justificativa para refutar o parecer do TCE-SP. Eles teriam tido como motivo o fato de que Ney foi um mandatário que não construiu sequer uma creche, escola ou unidade básica de saúde não apenas em 2021, mas nos 8 anos de gestão. Sem argumentos, os governistas decidiram mirar o tribunal até com falas consideradas insólitas e inusitadas, mesmo admitindo não serem técnicos.

Léo Novais (PL) alegou que os vereadores são os que podem julgar as contas de um prefeito por serem “o parachoque do problema e [saber] onde precisam ser feitos os remanejos de verbas”. Em aparte, Zé do Piscinão (PP) disse ser “histórico aprovar as contas do melhor prefeito que existiu na cidade”. Ele falou que Ney “mudou tudo, mudou completamente”, mas sem citar qualquer realização, e “apelou” ao chamar de feito Embu ter superado, segundo ele, 300 mil habitantes.

O vereador Bobilel Castilho (MDB) fez pior, recorreu a “fake news”. “Todos os prefeitos que passou [sic] por esta cidade, o tribunal rejeitou as contas”, disse, ao citar Geraldo Cruz (PT), e político de Taboão da Serra, Fernando Fernandes (PSDB). Na verdade, Geraldo e Fernando tiveram todas as contas aprovadas. Ricardo Almeida (Republicanos) foi além, sugeriu que a má gestão de prefeitos é culpa do órgão técnico. “O papel do Tribunal de Contas é justamente ‘dar pau'”, disse.

Somados aos nove dos 10 vereadores governistas – com a sentida ausência de Betinho Souza (Republicanos) -, os sete eleitos na coligação de Hugo, mas que fingiam ser “rebeldes”, e Gideon, que era da coligação da oposição, aprovaram as contas de Ney de 2021, por 17 a 3. Apenas Abidan, Uriel e Diego Paixão (Podemos) rejeitaram. Os oito “ex-independentes” ficaram contra o parecer técnico do TCE-SP após negociarem cargos no Executivo, em articulação escancarada.

Na própria sessão, Ricardo deixou a Câmara para ser subprefeito. Após a aprovação das contas de Ney, o irmão de Gideon, José Milton, foi nomeado secretário por Hugo. Na sessão, o próprio presidente Abel Arantes (SD) confessou, tranquilamente, ter um “apadrinhado” indicado na Pró-Habitação após Dedé (Republicanos) também deixar a vereança para assumir a pasta. Ney teve a quinta conta rejeitada – todas as julgadas até agora -, apesar de aprovada pela Câmara.

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