Uma jovem com espectro autista severo não verbal aluna do Centro Educacional Armando Vidigal, da Prefeitura de Embu das Artes, voltou da escola e chegou em casa com queixas, no último dia 8. Apesar de a estudante não se expressar por palavras, a mãe Françoeide (Fran) Torres estranhou quando Távila não correspondeu ao toque. Na hora da higiene, a filha chorou. Távila retornou do colégio com quatro dedos quebrados, dois de cada mão. Fran procurou o VERBO.
A aluna da escola no Jardim São Marcos teve os dois dedos do meio e anelar fraturados. “Ela saiu bem de casa. Quando chegou, na perua [escolar], estava reclamando. Entramos em casa, fui pegar na mão dela, ela não segurou na minha mão, dando grito. Fui lavar as mãos dela, e ela continuou a gritar. Foi quando eu vi que a mão estava inchada”, conta Fran. No hospital, foi descoberto que não apenas dois dedos de uma mão estavam quebrados, mas outros dois da outra.
Após socorrer Távila, com o marido, Fran telefonou para a escola para saber o que tinha acontecido com a filha. O sofrimento só estava no início. “Ninguém me atendeu, não tinha ninguém para me responder, para dizer o que houve”, diz. Depois, o colégio disse que “não sabia de nada, que lá não foi”. A diretora chegou a indagar a mãe. “Perguntou o que houve. Eu disse que quem ter que saber o que houve sou eu! A minha filha estava na mão deles e voltou desse jeito”, relata Fran.
A mãe também contatou o responsável pela van escolar para saber se Távila tinha sido machucada durante o deslocamento da escola para casa. Foi no dia 12, sábado. A pessoa foi identificada como Anderson do Carmo. “Eu questionei por qual motivo a empresa ainda não tinha me procurado para falar sobre o caso da minha filha. Ele falou que estava realizando exame médico e ia entrar em contato comigo na segunda-feira [dia 14]. Até hoje não me procurou”, diz.
Fran não teve qualquer explicação do governo Hugo Prado (Republicanos) sobre a lesão de Távila, que nesta segunda-feira faz 20 dias. “Eles não falaram nada até agora. E não me deram nenhuma assistência, eu que tive que fazer toda a correria com a minha filha [ao hospital] e saber o que aconteceu. Esse povo não faz nada, está sendo omisso”, diz. Ela fez boletim de ocorrência na delegacia, submeteu a filha a exame de corpo de delito e vai entrar na Justiça.
Vários pais têm reclamações constantes do atendimento do Armando Vidigal e do transporte escolar desde a gestão do prefeito Ney Santos (Republicanos), inclusive quando Hugo era o vice-prefeito. Távila tem 29 anos e está desde os 3 no colégio. Não é a primeira vez que passa por situação grave. Há cinco anos, ela teve um corte profundo na perna – levou sete pontos – na van e ninguém foi responsabilizado. “Ficou por isso mesmo. Eu nunca levei isso adiante”, lembra Fran.
“Desta vez, não vou ficar calada. Tive minha filha com 17 anos, muito inexperiente e sem saber o que estava acontecendo com ela. Depois de muito tempo, soube da deficiência. Mas – hoje com quase 48 – nunca quebrei a unha da minha filha, sempre [dei] muito amor, muito carinho. Deixo na responsabilidade da prefeitura – ela saiu de casa e foi para a escola -, e ninguém teve o cuidado com ela, de ver quem fez isso. E fizeram com força, nas duas mãos”, diz Fran, indignada.
OUTRO LADO
Procurada, a gestão Hugo não respondeu. Ao SBT, o secretário Clecius Romagnoli (Educação) falou que “apurou” o caso, mas não disse o que houve. Anderson falou com o VERBO: “Irei encaminhar o contato do responsável”. Mas não informou. A empresa é a Adapt Transporte Escolar e tem Erica Sganzela Reis como dona. Porém, segundo este portal apurou, é do grupo de Flavio Augusto Reis, que há anos tem contratos vultosos com a prefeitura e responde a ação civil pública.