O vereador Sandro Ayres (PTB) culpou o secretário Allan Mohamed (Planejamento e Gestão Estratégica) por ter sido achincalhado em público pelo prefeito Aprígio (Podemos) durante conversa com guardas municipais de Taboão da Serra e chamou o membro do primeiro escalão do Executivo de “vagabundo”, na sessão na terça-feira (30). Outros vereadores fizeram discurso em apoio a Sandro e chegaram a fazer chacota sobre a origem étnica do secretário.
Guardas foram à prefeitura na quarta-feira (24) falar com Aprígio para reivindicar redução da jornada e benefícios, mas o prefeito não estava. Dezenas de GCMs ficaram no páteo até serem recebidos. Um agente – que não seria da cidade – postou um vídeo em que disse que a GCM estava “parada” e o prefeito havia confirmado reunião marcada por vereadores – da Comissão de Segurança -, “porém, não compareceu e mandou falar que não ia atender a Guarda Municipal”.
Quase quatro horas depois do horário marcado, no entanto, Aprígio apareceu. Ele alegou que não sabia da reunião e se voltou contra os vereadores presentes, da comissão – Sandro, o presidente, Anderson Nóbrega (MDB) e Joice Silva (PTB). “Vocês – não sei se é para criar nome, para puxar saco – marcam uma reunião com os guardas, ninguém me avisa. Tenho agenda para cumprir, e sei agora quando vi na rede social um guarda dizendo que eu fugi da reunião”, esbravejou.
Sem querer ouvir Sandro, Aprígio chamou os vereadores de desleais. “Não é justo eu ser apunhalado pelas costas, alguém para fazer política, fazer média com vocês marcar reunião [sem comunicar]. “Eu vou dizer uma coisa para vocês – vereador, [se] gostar, goste; se não, engula assim mesmo: vereador não decide o problema de vocês. O problema de vocês é problema do Executivo, e se o Executivo não resolver, é problema com a Justiça. O vereador não resolve”, disparou.
Visivelmente constrangido com o “esculacho” diante de muitos GCMs, Sandro reagiu publicamente na sessão, mesmo quase uma semana depois – não “engoliu”, ao contrário do que Aprígio quis. Durante a permanência dos GCMs na prefeitura, Aprígio vistoriava a obra de uma calçada e estaria com o secretário. Allan teria mostrado o vídeo do GCM a Aprígio, e “pilhado” o prefeito, colocando os vereadores contra o Executivo, ao sugerir que desgastavam o governo.
“Quando a gente recebe aqui a Guarda é porque quer trabalhar para melhorar a segurança da cidade. Agora, um secretário vagabundo foi levar o vídeo [do GCM] lá para o prefeito para poder dar todo esse transtorno à Câmara! Eu me senti ofendido!”, disse Sandro, exaltado. “Senhor Allan Mohamed, o secretário popstar que só fica na internet fazendo videozinho, o senhor é secretário tem que cuidar das coisas do planejamento, e não jogar vereadores contra o prefeito”, reagiu.
Sandro alegou que Allan teve tal atitude por querer ser vereador e chegou a apelar que secretário não tem que visar o Legislativo. “Ele [um secretário] é assessor do prefeito, não tem que se deslumbrar em querer cargo na Câmara. É o que está acontecendo. A gente vê só secretário papagaio de pirata atrás do prefeito. Querendo ser mais que vereador! Ele [Aprígio] foi conduzido erroneamente por um popstar que não se preocupa em fazer o trabalho dele!”, vociferou.
Joice chamou Allan de “oportunista”. Ela não citou o nome do secretário, mas fez evocações com ironias, inclusive com menção a iguaria árabe, origem do gestor. “Não caímos em armadilhas, em planejamentos mal planejados de pessoas que, em vez de planejar o futuro do governo, estão planejando a destruição, a discórdia. Mas não vão conseguir. Vão ter que comer muito quibe para aprender a fazer política”, disse ela, um dos vereadores mais próximos a Aprígio.
Enfermeiro Rodney (PSD), visto como um vereador que também faz defesa “cega” de Aprígio, indicou querer triturar o secretário, igualmente irônico. “Me solidarizo com o Sandro Ayres. A Joice fez também uma fala muito importante. Mas eu vou continuar comendo quibe, que é muito bom”, disse. Allan teria sofrido o revés por ser considerado “pegajoso” – é tido com “muito bajulador” do prefeito -, mas virou alvo da fúria parlamentar ao ser visto como “concorrente”.
OUTRO LADO
Indagado pelo VERBO ainda durante a sessão, Allan não quis falar. “Tomei conhecimento por terceiros de que alguns membros do Poder Legislativo citaram meu nome. Como eu não tive a oportunidade de assistir na íntegra, prefiro não me manifestar neste momento”, disse. Mais de 24 horas depois, na noite desta quarta-feira (31), ele se pronunciou. “Já estou tomando as medidas judiciais cabíveis e me manifestarei apenas nos autos dos processos que ingressarei”, disse.