Moradores que tiveram árvores soterradas acionam MP contra crime ambiental do governo Aprígio

'Queremos solicitar que a prefeitura de Taboão da Serra repare os danos ambientais e morais; desrespeito com nosso trabalho é surreal', dizem munícipes do Jd. Record

Especial para o VERBO ONLINE

Figueira-das-lágrimas, espécie-símbolo do Estado de SP, uma das vítimas da 'ignorância' do governo municipal, é soterrada em bota-fora de obra no Jardim Record | Divulgação

Moradores e ambientalistas que plantaram 32 árvores nativas da mata atlântica em uma praça no Jardim Record, na esquina da avenida Cid Nelson Jordano com a rua Restinga Seca, em Taboão da Serra, no ano passado, ingressaram no Ministério Público com denúncia de crime ambiental contra a prefeitura. O governo Aprígio (Podemos) derrubou ou soterrou – com montanha de terra e entulho – as mudas em março e abril, sem qualquer aviso aos idealizadores.

Conforme o VERBO informou no último dia 24, os organizadores fizeram pedido de autorização para o plantio das árvores em abril de 2021. Em 3 de maio, a administração confirmou o recebimento. Oito meses depois, os moradores decidiram plantar as mudas. “Na data de 22 de janeiro de 2022 foi realizado um plantio com cerca de 30 voluntários”, diz a denúncia, que ressalta que o governo liberou a ação. “O plantio teve autorização da prefeitura na ocasião”, afirma.

Ao MP, os idealizadores listam 13 espécies plantadas, com respectivos diâmetro e altura, como a jerivá (“Syagrus romanzoffiana”), com dez unidades, a com maior número, e a árvore símbolo do Estado. “Foram mudas caríssimas e, alguma delas, raríssimas, entre elas destaco a muda de ‘Ficus organensis’, clone da figueira-das-lágrimas, árvore considerada a mais antiga de São Paulo. Uma árvore histórica, localizada no bairro Sacomã [na capital]”, diz um dos denunciantes.

Os organizadores enfatizam a importância do exemplar, plantada em Taboão, mas soterrada. “Conseguimos, a muitas custas, um clone desta figueira de um viveiro que conseguiu, com muito estudo e esforço, produzir pouquíssimos clones e disponibilizar para plantios em locais importantes na Grande São Paulo”, afirmam. Depois, a denúncia traz fotos do dia do plantio, “com a união da população local e de muitos voluntários de todas as partes de São Paulo”.

“Mas, para nossa tristeza, no dia 6 de abril de 2023, fomos avisados por moradores de que este plantio estava soterrado por máquinas da prefeitura de Taboão da Serra”, diz um dos autores da denúncia, o ambientalista Hamilton Videira. “Fui de pronto ao local e a cena que vi lembrava um campo de guerra, com nossas mudas reviradas junto aos escombros, montes de terra e pedaços de asfalto”, acrescenta, sobre a praça transformada em bota-fora de obra na região.

O documento mostra foto da figueira-das-lágrimas soterrada e mais oito imagens de mudas destruídas e a montanha de detritos. Os idealizadores fazem apelo aos membros o MP. “Gostaria de solicitar aos senhores a fiscalização deste procedimento desastroso, que simplesmente destruiu o trabalho de mais de 30 voluntários e matou mais de 20 mudas nativas de porte médio e grande, que já estavam adaptadas ao local e se desenvolvendo plenamente”, observam.

Os autores da denúncia – que foi feita em 12 de abril – cobram medidas contra o governo municipal pelo crime. “Queremos solicitar que a prefeitura de Taboão da Serra repare os danos ambientais e morais, salve as mudas que ainda estão de pé (até o momento cerca de 10 ainda podem ser salvas, o restante já foi arrancado pelas máquinas e sumiram”, reivindicam os idealizadores Lincoln Ferreira, Nik Sabey, Sergio Reis e Hamilton, da ONG Anjos da Mata Atlântica.

Os idealizadores do plantio demonstram indignação e perplexidade com o ato do governo municipal. “Salientamos que, com uma simples retroescavadeira, era possível retirar as mudas com cuidado e replantá-las em outro local , mas a prefeitura nem teve o respeito de nos consultar sobre essa possibilidade. O desrespeito com nosso trabalho é surreal e indescritível. Aguardamos vossa atenção. Ficamos no aguardo de uma providência”, dizem os denunciantes ao MP.

OUTRO LADO
VERBO procurou o governo sobre ter soterrado as árvores, no dia 24. A Secretaria de Comunicação não quis responder. O secretário Nílcio Regueira (Meio Ambiente) recusou a ligação. À TV Globo, a gestão disse que via realizar “obras de mobilidade urbana e readequação das vias” no bairro e alegou “que as árvores vão ser replantadas ou compensadas em outros locais”. “Que a prefeitura […] não substitua as espécies raras por espécies comuns”, reclamam os idealizadores.

DENÚNCIA (PÁGINA INICIAL) DE MORADORES E AMBIENTALISTAS CONTRA DESTRUIÇÃO DE PLANTIO DE ÁRVORES NO JD. RECORD PELO GOVERNO APRÍGIO

Imagem – Denúncia de moradores do Jardim Record e ambientalistas ao MP/Reprodução

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