O governo Aprígio (Podemos) soterrou – com uma montanha de terra – 31 árvores nativas da mata atlântica plantadas por moradores e ambientalistas em uma praça no Jardim Record, na esquina da avenida Cid Nelson Jordano com a rua Restinga Seca, periferia de Taboão da Serra. A administração destruiu 18 espécies, como jerivá, figueira-brava, jatobá, paineira-rosa, pau-viola, ingá-mirim, manacá-da-serra, jequitibá-lilas, mutambo, e revolta a comunidade local.
A plantação das mudas foi idealizada pelo morador Lincoln Fausto Ferreira, membro da ONG Anjos da Mata Atlântica. O grupo Novas Árvores por Aí desenhou o projeto. A execução foi feita pela ONG e outros coletivos que atuam pela recuperação do bioma em áreas urbanas. Outros moradores participaram do mutirão. Em abril de 2021, os organizadores pediram autorização para plantio à prefeitura, que só uma semana depois, em 3 de maio, confirmou o recebimento.
Oito meses se passaram e o governo não respondeu sobre o pedido. Em janeiro, os moradores decidiram plantar as mudas, o que teve custo – foi preciso usar máquinas. “Se for falar em valores, foram investidos mais de R$ 15 mil aqui só em mudas, mais mão de obra, mobilização da comunidade, e de pessoas de fora”, explicou Lincoln ao “SP 1” (TV Globo). “Foram uns 40 voluntários, toda a população ao redor participou”, disse o ambientalista Hamilton Cezar Videira.
Quando já estavam grandes, as espécies foram derrubadas, em março e neste mês. “Simplesmente, a prefeitura, depois de um ano, passou por cima de tudo. Acabou com tudo, não nos deu nenhuma informação sobre o que está acontecendo. […] Toda a população tinha essas árvores aqui com uma estima muito grande. Todo mundo cuidava. […] Então, não é apenas uma perda ambiental. É uma perda social, todo mundo está triste com o que aconteceu”, disse Hamilton.
Soterrada na praça transformada em bota-fora de obra na região, uma das mudas vítimas da “ignorância” do poder público municipal é um exemplar da espécie símbolo do Estado de São Paulo, desde o século 19, a figueira-das-lágrimas – a árvore-mãe, localizada na capital, na região do Ipiranga (zona sul), tem cerca de 240 anos e é a última “testemunha” viva da Independência do Brasil, sob cuja copa os imperadores dom Pedro 1º e dom Pedro 2º já descansaram.
“É uma árvore icônica da Grande São Paulo”, disse Hamilton ao “SP 1”. “É uma raríssima ‘ficus organensis’, nativa da mata atlântica. Poucos clones foram feitos da árvore-mãe, que tem cerca de 200 anos, e é a mais antiga que se tem registro na cidade de São Paulo. Esses poucos clones foram plantados em poucos locais espalhados pela Grande São Paulo. Um deles é esse que a prefeitura de Taboão da Serra acaba de soterrar”, falou o paisagista ao blog “Bar & Lanches Taboão”.
OUTRO LADO
O VERBO procurou o governo Aprígio sobre ter soterrado as árvores plantadas pelos moradores no Jardim Record. A Secretaria de Comunicação não quis responder. Também contatado, o secretário Nílcio Regueira (Habitação e Meio Ambiente) recusou a ligação e desligou. Ao “SP 1”, a administração disse que vai realizar “obras de mobilidade urbana e readequação das vias” no bairro e alegou “que as árvores vão ser replantadas ou compensadas em outros locais”.
Os ambientalistas reprovam. Ao “Bar & Lanches”, eles disseram que plantaram “mudas de excelente qualidade, espécies raras, com até 5 metros de altura, algumas com até 100 quilos” e “que já estava fortes no local”. “Que a prefeitura replante exatamente como estava, que não substitua as espécies raras por espécies comuns”, cobram. Um funcionário da própria pasta de Meio Ambiente lamentou. “Falta de planejamento e respeito com a população. Só tiro no pé”, disse.
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