Um guarda civil municipal de Taboão da Serra foi escalado para fazer a proteção da Arena Multiuso sem portar arma e sozinho, sob risco de ser abordado por criminosos ao ser visto como agente de segurança, além de ocupar guarita em condição física deplorável e insalubre, com porta quebrada e mau cheiro. Com situação recorrente de “humilhação” da corporação no governo Aprígio (Podemos) após medidas recentes, o próprio GCM expôs o “desrespeito”, em vídeo.
O GCM teria feito as imagens, no centro esportivo no Jardim Record, na véspera de Natal. Ele conta ter “restrição médica”, ser “readaptado” (orientado a outra função devido a problema de saúde) – “em termos, tenho que estar fardado”, diz. “Mais uma noite de plantão, graças a Deus, guiado por Deus. Estamos aqui no posto [na guarita], onde não tem iluminação, a porta está totalmente quebrada. […] É que vocês não sentem o cheiro, mas está um fedor da disgrama”, relata.
“Aí o guarda tem que puxar o plantão sozinho, desarmado, né?”, continua o agente, para mostrar a arena e a viatura – o luminoso ligado (“é determinação”, diz) e a placa (QIV 5920). Ele chega a chamar a atenção do chefe do Executivo. “E assim a gente vai, pela misericórdia de Deus. Aí eu falo: cadê o senhor, prefeito Aprígio, para ver uma coisa dessa? Eu tenho família, sou guarda há 15 anos, mereço um pouco de respeito, consideração, que não tem nenhuma”, critica.
“Más condições de trabalho, salário baixo, tirando o pouco que a gente tem – foi tirado o 14º salário, não foi pago o dissídio, não é [sic] pago as promoções”, lista o GCM, ao citar abono não compensado por Aprígio. Em seguida, ele denuncia a ordem do comando que expõe os agentes. “Os readaptados, a maioria, estão ficando nos postos fixos sozinho. São sete ou oito postos fixos em que ficam um GCM sozinho. Onde já se viu isso em segurança pública?”, diz.
“Eu não sei quem foi que orientou ele [Aprígio], mas isso está totalmente errado, colocando a integridade física, moral e mental… [colocando] em risco a vida do agente de segurança pública, do guarda municipal”, arremata o GCM. Ele diz que só tem de recorrer à proteção divina. “Só Deus mesmo na causa. Eu agradeço a todos. Deus nos abençoe. Um feliz Natal a todos”, finaliza. O GCM foi identificado como Igor Chaves. O VERBO não conseguiu falar com ele.
Guardas de Taboão estão indignados pelo GCM ter sido posto só e desarmado. “Se tiver uma briga, troca de tiro, como vai se defender, com o dedo? Nem tonfa [cassetete] usa, não tem um spray de pimenta, uma taser [arma de choque]. Não tem nada! Vai se defender entrando em luta corporal, e se o cara [agressor] tiver armado? Do jeito que está a arena [abandonada], não tem o mínimo de condições de um guarda trabalhar ali”, disse um GCM que procurou este portal.
“Já que quer colocar, que fossem dois [guardas]. Mas que tivesse iluminação, tivesse tudo ‘ok’ [na arena]. Não é correto colocar alguém com restrição. No caso, é administrativo [trabalhar internamente]”, acrescentou, ao se atentar ainda à restrição do colega. O agente criticou o fato de a GCM Eliana Gonçalves, como secretária-adjunta, estar à frente da pasta de Segurança – aliada de Rodrigo Falcão, ela foi mantida no cargo mesmo com a exoneração do secretário.
.”Para um guarda assumir o posto de secretário de Segurança tem que ser feita uma peneira muito grande, [tem que ter] desde o conhecimento empírico – faculdade, pós-graduação – até o técnico. Não tem como assumir se não souber lidar com os próprios agentes, ter o mínimo de empatia, se colocar no lugar do outro, saber que as pessoas têm família, se não souber fazer estatística, logística. É revoltante. A Guarda de Taboão está acabada”, observou o agente.
OUTRO LADO
Este portal questionou o governo Aprígio, por meio do secretário Arnoldo Landiva (Comunicação), sobre a situação precária em que o GCM foi colocado para trabalhar – “Qual a explicação para direcionar um guarda civil municipal para plantão na Arena Multiuso na guarita sem energia elétrica, com porta quebrada, mau cheiro, e sozinho e desarmado, a mercê de criminosos?”, perguntou. A secretaria não se manifestou, avessa a prestar esclarecimentos à população.
A reportagem ligou para o comandante da GCM, Nivaldo Menoci. Ele demonstrou saber do protesto do guarda. “Foi antes do Natal”, disse. Mas pediu para falar com a Comunicação. “Eles repassam todos os dados que forem necessários. Peço desculpas”, disse, sobre como a secretaria deveria trabalhar. Ele foi informado de que a pasta não respondeu. “Então vou informar a eles que o VERBO entrou em contato comigo para procederem a informação”, disse. Não houve retorno.
VEJA PROTESTO DE GCM COLOCADO NA ARENA SOZINHO E DESARMADO PELO GOVERNO APRÍGIO