Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomou posse como presidente do Brasil, pela terceira vez, neste domingo, 1º de janeiro, em Brasília, e disse que a democracia foi a grande vitoriosa nas eleições de 2022, que o combate à fome e o respeito à democracia estão entre as prioridades do governo que inaugura, que tem o compromisso de “cuidar dos brasileiros” e “temos que garantir” igualdade salarial entre homem e mulher. Ele recebeu a faixa presidencial de uma mulher negra.
Lula foi empossado oficialmente no Congresso Nacional. Em primeiro discurso, destacou que a decisão das urnas prevaleceu graças a um sistema eleitoral reconhecido pela eficácia na captação e apuração dos votos e que terá como tarefa reconstruir o país – sem citar o antecessor, Jair Bolsonaro (PL). “Sob os ventos da redemocratização, dizíamos: ditadura nunca mais! Hoje, depois do terrível desafio que superamos, devemos dizer: democracia para sempre”, disse.
“Teremos de reconstruir em bases sólidas a democracia em nosso país”, continuou Lula, para ressaltar que a “mensagem ao Brasil é de esperança e reconstrução”. “Os direitos e interesses da população, o fortalecimento da democracia e a retomada da soberania nacional serão os pilares de nosso governo. Este compromisso começa pela garantia de um programa Bolsa Família renovado, mais forte e mais justo, para atender a quem mais necessita”, afirmou.
“Nossas primeiras ações visam a resgatar da fome 33 milhões de pessoas e resgatar da pobreza mais de 100 milhões de brasileiras e brasileiros, que suportaram a mais dura carga do projeto de destruição nacional que hoje se encerra”, explicitou Lula. Além das “injustiças cometidas contra os povos indígenas”, ele disse que revogará o teto de gastos, o que, avalia, gerou impacto negativo no Sistema Único de Saúde. Ele falou em recompor os programas sociais.
Lula considerou o diagnóstico do país realizado pelo Gabinete de Transição estarrecedor. “Desmontaram a educação, a cultura, a ciência e tecnologia. Destruíram a proteção ao meio ambiente. Não deixaram recursos para a merenda escolar, a vacinação, a segurança pública, a proteção às florestas, a assistência social. Desorganizaram a governança da economia”, disse. Ele afirmou que fará uma gestão sem “revanche”, mas que “quem errou responderá por seus erros”.
O presidente afirmou que conversará com os 27 governadores para definir as prioridades e destacou que retomará 14 mil obras paralisadas no país. Em contraponto a Bolsonaro que se gabou em utilizar caneta “popular” na posse, Lula indicou usar uma de fato do povo ao contar que ganhou de presente de um apoiador piauiense na campanha em 1989, em outra alfinetada no ex-presidente – no Piauí Lula teve a maior votação proporcional no país (76% dos votos).
Depois, após a revista às Forças Armadas, Lula, a primeira-dama Rosângela da Silva (Janja), o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e a mulher Maria Lucia (Lu) Alckmin seguiram em carro aberto (Rolls-Royce presidencial), conforme o desejo do petista, ao Palácio no Planalto – o desfile em veículo fechado chegou a ser cogitado por segurança após ações de bolsonaristas radicais. No Parlatório, o presidente reassumiu o compromisso de “cuidar” dos brasileiros.
“Reassumo o compromisso de cuidar de todos, sobretudo daqueles que mais necessitam. De acabar outra vez com a fome”, disse Lula, que se emocionou ao citar casos de pessoas que passaram a procurar ossadas em açougues para comer. “Há muito tempo não víamos tamanho abandono e desalento nas ruas: mães garimpando lixo, em busca do alimento para seus filhos; famílias inteiras dormindo ao relento, enfrentando o frio, a chuva e o medo”, lamentou.
Ao se referir à economia, Lula disse que nas duas vezes que foi presidente nunca foi irresponsável com o dinheiro público, que o Brasil foi reconhecido internacionalmente pelo combate à fome, mas com “total responsabilidade das finanças”. “Nunca houve nem haverá gastança alguma”, garantiu. Ele prometeu ainda atacar o racismo. “Foi para combater a desigualdade e suas sequelas que nós vencemos a eleição. Esta será a grande marca do nosso governo.”
Antes do segundo discurso, porém, em momento considerado grandioso pelo simbolismo, Lula recebeu a faixa presidencial do “povo brasileiro”, simbolizado, em sinal de diversidade, nas figuras de um indígena, de um menino, de uma negra, de uma mulher, de uma pessoa com deficiência, de um operário, de um professor e de um militante político – em desprezo pelo rito democrático, Bolsonaro se recusou a passar a faixa e viajou aos Estados Unidos na sexta-feira.
Subiram a rampa com Lula o cacique Raoni, de 90 anos, o menino Francisco, de 10, o influenciador (que teve paralisia causada por meningite na infância) Ivan Baron, o metalúrgico Weslley Rocha, o professor Murilo de Quadros, os militantes Jucimara dos Santos e Flávio Pereira (participantes da “Vigília Lula Livre”) e a catadora de material reciclável Aline Sousa. A faixa passou pelas mãos de sete pessoas do grupo. Coube a Aline pôr o adereço presidencial em Lula.
No início da noite, Lula empossou os 37 ministros e baixou os primeiros atos, como o pagamento do Bolsa Família de R$ 600 (mais R$ 150 por criança até 6 anos). Às 23h, no palco de shows da festa da posse, ele defendeu a igualdade de direitos entre os gêneros. “Temos que garantir que a mulher ganhe o mesmo salário que o homem”, discursou. Como a posse de presidente passa do primeiro dia do ano para o dia 5, Lula e Alckmin têm mandato até 4 de janeiro de 2027.
VEJA OS MINISTROS EMPOSSADOS DO GOVERNO LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Gabinete de Segurança Institucional: general da reserva Marco Edson Gonçalves Dias
Secretaria-Geral: Márcio Macêdo (PT)
Comunicações: Juscelino Filho (União Brasil)
Integração e Desenvolvimento Regional: Waldez Góes (PDT)
Educação: Camilo Santana (PT)
Minas e Energia: Alexandre Silveira (PSD)
Esportes: Ana Moser
Transportes: Renan Filho (MDB)
Defesa: José Múcio Monteiro
Casa Civil: Rui Costa (PT)
Justiça: Flávio Dino (PSB)
Fazenda: Fernando Haddad (PT)
Portos e Aeroportos: Márcio França (PSB)
Agricultura: Carlos Fávaro (PSD)
Pesca: André de Paula (PSD)
Gestão: Esther Dweck
Relações Institucionais: Alexandre Padilha (PT)
Cidades: Jader Filho (MDB)
Advocacia-Geral da União: Jorge Messias
Controladoria-Geral da União: Vinícius Marques de Carvalho
Turismo: Daniela Carneiro (União Brasil)
Previdência Social: Carlos Lupi (PDT)
Ciência e Tecnologia: Luciana Santos (PCdoB)
Planejamento: Simone Tebet (MDB)
Saúde: Nísia Trindade
Relações Exteriores: Mauro Vieira
Igualdade Racial: Anielle Franco
Indústria e Comércio: Geraldo Alckmin (PSB)
Povos Indígenas: Sônia Guajajara (PSOL)
Mulheres: Cida Gonçalves (PT)
Direitos Humanos: Silvio Almeida
Cultura: Margareth Menezes
Desenvolvimento Social: Wellington Dias (PT)
Meio Ambiente e Mudanças Climáticas: Marina Silva (Rede)
Trabalho: Luiz Marinho (PT)
Desenvolvimento Agrário: Paulo Teixeira (PT)
Secretaria de Comunicação Social: Paulo Pimenta (PT)