Vereadores ‘de Aprígio’ rejeitam contas de Fernando, mas confessam voto político

Especial para o VERBO ONLINE

Luzia admite rejeitar contas de Fernando por picuinha do passado; demais 11 aliados de Aprígio também não citaram nenhum dado de falha de gestão | Reprodução

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra

Os vereadores de Taboão da Serra – todos da base do prefeito Aprígio (Podemos) – reprovaram na última terça-feira (29) as contas do governo de Fernando Fernandes referentes a 2016, por unanimidade, mesmo com a prestação do ex-prefeito aprovada pelo Tribunal de Contas do Estado. Mas, além de contrariarem parecer do TCE (órgão técnico), os parlamentares admitiram ter dado voto político – Luzia Aprígio (Podemos) chegou a confessar votar por picuinha.

Visivelmente interessados em reprovar as contas de Fernando, vereadores eleitos na coligação de Aprígio ditaram a votação e pressionaram o presidente Carlinhos do Leme (PSDB) a proceder a tramitação. André Egydio (Podemos) cobrou a apreciação do documento que produziu, pela rejeição. “Eu solicito que Vossa Excelência coloque a apreciação, que cada um faça seu voto com relação ao relatório. É o trâmite que a gente tem que seguir”, disse.

Carlinhos rebateu, sutilmente. “Eu entendi, é a legalidade”, disse, para lembrar que “o Tribunal de Contas deu parecer favorável” à gestão Fernando. Em seguida, Anderson Nóbrega (MDB) foi à tribuna também pressionar pela votação. “Houve um relatório da Comissão de Finanças e Orçamento. O relator, Dr. André Egydio, junto com o então vereador Wanderley Bressan, orientou para que fossem rejeitadas as contas do ex-prefeito Fernando Fernandes”, disse.

Após Anderson já adiantar voto pela reprovação das contas do desafeto Fernando, Carlinhos iniciou a votação e, ao microfone, expôs que Ronaldo Onishi (DC) e Marcos Paulo (PSDB) – dois “beneficiados” na gestão passada, com indicação da cônjuge e do pai como secretários, respectivamente – não estavam no plenário e pediu para serem chamados. Egydio aumentou a “exposição” e começou a declarar voto “enquanto a gente aguarda os vereadores”.

“Encaminho, com minha coerência. Fiz parte da oposição ao governo Fernando, apontei várias falhas. E no relatório apontei várias situações que foram viciosas, aconteceram repetidamente. Meu voto é contrário”, disse Egydio, que, porém, em 2016 era da base do ex-prefeito. Mas ele não citou nenhum dado concreto, e admitiu voto não técnico. “Apesar de apresentar vários pontos, estamos julgando politicamente as contas do ex-prefeito”, confessou.

“Aprigiano”, enfermeiro Rodney (PSD) disse que viu no relatório “irregularidades” na saúde, mas também não citou nenhuma. Como Anderson e Egydio, ele fez questão de lembrar que Bressan – que foi secretário na gestão Fernando – assinou pela rejeição das contas. Carlinhos anunciava o voto de cada vereador. Com sete vereadores eleitos no grupo político do ex-prefeito, ele sugeriu que “em alguns momentos algumas votações” eram surpreendentes.

A votação, porém, “emperrou”. Anderson entrou em cena de novo e pediu reunião no plenário. Em seguida, Onishi, Gallo (Republicanos), Érica Franquini (PSDB) e Joice Silva (PTB) resolveram votar, contra as contas de Fernando – os três últimos também eram aliados do ex-prefeito. Carlinhos foi cobrado a votar também por um colega e se irritou. “O senhor não vai me interpelar, vereador. É regimental. Se fosse para aprovação, o presidente votaria”, reagiu.

Se ainda restava dúvida de que os vereadores votaram por motivação política, a mulher do prefeito desfez, inclusive confessou reprovar as contas por vingança – sobre divergências iniciadas 25 anos atrás. “Quando o ex-prefeito saiu pela primeira vez candidato, o ‘seu’ Aprígio montou dois caminhões e todos os carros de som e deu um galpão para ele guardar tinta. Depois, ele ganhou e não ofereceu ao ‘seu’ Aprígio ‘quer varrer rua?’. Nem isso”, disse Luzia.

Ela prosseguiu com a justificativa insólita. “Quando não precisava mais, ele [Fernando] começou a perseguir o ‘seu’ Aprígio. Foi uma perseguição muito grande que tivemos. Isso dói na alma, não é nem no coração: era o baianinho que ia voltar para o Nordeste a pé; que não ia concretizar a cooperativa; que não ia conseguir acabar o primeiro prédio. Não contente, ele pediu para bloquear na Justiça R$ 200 milhões dos associados, não foi nem do ‘seu’ Aprígio”, disse.

A vereadora e primeira-dama ainda admitiu, literalmente, rejeitar a prestação de Fernando por “política”. “Então, ex-prefeito Fernando Fernandes, o que o senhor não tem é gratidão. Depois que o ‘seu’ Aprígio fez pelo senhor, olha o ‘pago’ que o senhor deu a ele. Por isso votei contra as contas do senhor! Isso aqui é política, ‘tá’? Votei contra e voto contra quantas chegarem aqui! Porque meu marido sofreu muito e até hoje sofre”, falou Luzia, em voto irracional.

Após a conclusão da votação, Carlinhos alegou que Fernando não se defendeu sobre o relatório – feito pelo opositor Egydio. “Não tivemos ninguém para poder defendê-lo, mas a gente deu total prazo”, disse. Na realidade, a presidência ia votar as contas no dia 22, mas alterou para a terça seguinte e teria inviabilizado a defesa do ex-prefeito. O VERBO procurou Fernando sobre ter tido as contas rejeitadas pela Câmara. Ele tem espaço aberto para se manifestar.

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