Doda pôs diretor de UBS de fachada para ganhar R$ 8 mil para elevar ‘rachadinha’

Especial para o VERBO ONLINE

Doda, Ney, Hugo e Ely; o então vereador pôs assessor diretor de UBS para ganhar R$ 8 mil, mas era guarda patrimonial, para faturar mais 'rachadinha' | Divulgação

ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes

O ex-vereador de Embu das Artes Doda Pinheiro (Republicanos) não se contentou em “rachar” o salário de cabos eleitorais, apoiadores e familiares na Câmara e na Prefeitura e pôr um sobrinho como chefe-de-gabinete “fantasma” para embolsar integralmente o maior salário entre os subordinados no Legislativo e usar o cartão-alimentação do parente. Ele fez esquema para empregar um assessor com remuneração de diretor de UBS sem ocupar o cargo.

Há 1 ano o VERBO revela que Doda fez fortuna no governo Chico Brito (2013-2016) e, principalmente, na gestão Ney Santos (2016-2020). Ao exigir parte do salário de cada vez mais apoiadores e cifras maiores, ele embolsou valor que soma, por baixo, R$ 3 milhões. À Justiça Eleitoral, ele declarou patrimônio quatro vezes maior em apenas quatro anos, de R$ 262 mil (2016) para R$ 996.784,19 (2020), mas, segundo um ex-assessor, afanou muito mais.

O agente político que foi o homem de confiança de Doda por quase dez anos é quem revela que o então vereador partiu para outra “modalidade” do esquema, mas não sem deixar de visar a “rachadinha”. Doda começou a investida ainda em meados de 2017, logo no primeiro governo Ney, a quem passou a apoiar para continuar a usufruir da prática criminosa iniciada na gestão anterior. Mas intensificou a partir de 2018, com as eleições para deputado.

Doda viabilizou faturar mais financeiramente ao fechar com Ney apoio aos então candidatos a deputado federal e estadual do prefeito, Ely Santos e Hugo Prado, respectivamente, irmã e principal aliado (à época presidente da Câmara Municipal) de Ney. “[Doda falou:] Você vai para a prefeitura […]. Você vai trabalhar à noite, e de dia pauleira [fazer campanha política]. Quando tiver eleição [em 2018], vamos ter que eleger os dois’. Falei: ‘Demorô'”, contou.

Para não ficar dúvida, a reportagem questionou: “Os dois…?”. “Ely e Hugo Prado”, confirmou o hoje ex-assessor de Doda. Com a adesão ao “projeto” eleitoral de Ney, o vereador logo ganhou mais cargos do prefeito, além daqueles só por aderir à base de governo. “Ele começou com cinco. Isso já foi de cara, porque ele apoiou o ‘homem’ [Ney]. Logo conseguiu dois, três. Quando chegou próximo da eleição, ele conseguiu colocar mais. Aí foi aglutinando”, disse.

O ex-assessor ainda explicou como se dá a compra de apoio político. “Na política nada é de uma vez. O cara [prefeito] tem dez cargos para dar. Dá cinco. Os outros cinco, ele [o vereador] vai conquistando com a sua fidelidade”, disse, para voltar ao caso concreto. “O cara [Ney] foi sentindo firmeza na fala, ele [Doda] se colocou como coordenador da campanha [de Ely e Hugo] – [simulou fala de Ney] ‘tá aqui, Dodinha, mais um, mais dois carguinhos'”, completou.

Segundo o ex-assessor, diferentemente da época do governo Chico, Doda passou a abocanhar até 70% do salário de funcionários que empregou na prefeitura após “acertar”, combinar a “rachadinha” com os que aceitavam a condição, sob pressão. “Com certeza. Quando ele foi para o Ney [para a base], o cargos, tudinho, ele sentou primeiro. Aí já era ele que sentava [combinava]. Nas outras eu participava. Quando ele era ‘imaturo’, eu ficava ouvindo tudo”, disse.

Ele era informado, porém, que Doda mantinha o mesmo “modus operandi”. “Tinha vez que eu ia buscar o dinheiro [da ‘rachadinha’]”, disse. “Como assim?”, questionou a reportagem, atrás de detalhes. “Ué, quando chegava o dia 30, às vezes, ele falava ‘[dizia o nome do cabo eleitoral], hoje estou na correria, leva fulano lá [no gabinete para pegar o dinheiro], espera em tal lugar, combina com ele, liga para ele’. [Eu que] Ia fazer a ‘sacolinha'”, contou, rindo.

Doda tanto seguia o mesmo “script” que estava cada vez mais “maquiavélico”. O então vereador conseguiu vaga para o assessor na prefeitura à noite para que durante o dia fizesse “assistencialismo” para ele em vista do terceiro mandato. Mas foi além da “ousadia”. “Eu estava exercendo a função de guarda patrimonial numa escola, no Valdelice [Aparecida Prass, no Parque Pirajuçara], mas o meu cargo era outro. Eu era diretor de posto de saúde”, revelou.

O então assessor tinha o cargo, ficticiamente, apenas para justificar o salário que ia receber, era nomeado para UBS de fachada. “Eu poderia exercer como diretor de qualquer posto de saúde. Agora, se vou trabalhar à noite, vou ser guarda patrimonial. Mas não. Para fazer jus ao que ganhava, eu tinha que ir com diretor ‘no nome’, mas a função…”, explicou-se. Pelo menos, ele não teria sido funcionário “fantasma”, garantiu. “Cumpri direitinho, não faltava”, falou.

“Um guarda patrimonial não ganha nem R$ 2 mil. Eu era um guarda patrimonial e ganhava R$ 8 mil. É, o negócio é doido”, disse o ex-assessor, ao admitir a “tramoia”. Doda já tem conhecimento da “confissão” sobre a corrupção que praticou. Após reportagens de que tinha enriquecido com a “rachadinha”, ele entrou na Justiça contra este portal. Ganhou em primeira instância, mas perdeu em decisão colegiada e desistiu do processo – com o escândalo revelado.

OUTRO LADO
Até 2018, o secretário de Saúde de Embu era José Alberto Tarifa. Questionado sobre o ex-assessor de Doda ser um diretor de UBS de fachada, ele alegou desconhecimento. “Os diretores das unidades de saúde, todos trabalhavam e exerciam suas funções corretamente. Entretanto, nunca tive acesso à folha de pagamentos, quem gerenciava era a Secretaria de Recursos Humanos. A propósito, que eu saiba, nenhum deles era assessor de vereador”, disse.

Após este portal informar que o agente político confessou que, quando assessor de Doda, era nomeado diretor de UBS, mas nunca ocupou o cargo, era guarda patrimonial e apenas embolsou os R$ 8 mil, Tarifa aí indicou não ter responsabilidade. “Eu não assinava nomeações. Era a Gestão de Pessoas, acho que era um pastor. […] Não lembro o nome”, disse. Questionado sobre o esquema para obter apoio de Doda aos candidatos que lançou, Ney ficou calado.

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