ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra
Apenas três dias depois de acusar que guardas civis municipais de Taboão da Serra davam “perdido” e “pegavam viaturas e sumiam para outro município”, o secretário de Segurança do prefeito Aprígio (Podemos), Rodrigo Falcão, foi acompanhar uma ocorrência em outra cidade, em Itapecerica da Serra, na sexta-feira (12), em pleno horário de expediente. Falcão ainda levou com ele pelo menos dois funcionários da prefeitura, sendo um agente da Guarda.
Falcão foi a Itapecerica até o local onde foram encontrados 39 cães e sete gatos carbonizados, no bairro da Aldeinha, no início da manhã. Ele próprio fez uma “live”, dentro do carro, a caminho do endereço, preocupado com a “audiência”. “[Esperar o] Pessoal começar a entrar aí, vamos ver se o sinal está bom”, disse. “Notícia estarrecedora, aqui em Itapecerica da Serra, colocaram fogo em 20 cachorros!”, reportou, sem informação correta sobre o fato.
“Nossa equipe já está se deslocando até o local”, prosseguiu Falcão, ao mostrar no banco traseiro um GCM e um comissionado – pelo menos mais um homem estava no carro. Consultadas por este portal, fontes do Executivo apontam que o GCM é Felipe Gonçalves Roque, que foi “promovido” a assessor especial e virou “segurança” de Falcão, e o livre-nomeado é Ciro Nykiel de Rezende, que tem cargo de coordenador, mas atua como assessor do secretário.
Falcão fez outra transmissão, já no lugar da ocorrência, na rua Monte Alegre, na área rural de Itapecerica. “Chegamos no local aqui. Cerca de 20 cães [queimados]”, disse, ao informar ainda erroneamente o número de animais mortos, sem a perícia ter chegado ao endereço. “Pessoal da GCM de Itapecerica também está no caso junto com a gente […]. Vamos ficar aqui até colocar esse desgraçado que fez isso na cadeia”, disse Falcão, como se o fato fosse em Taboão.
Um servidor da própria pasta de Segurança taboanense logo ao ver a primeira “live” chamou a atenção para a presença de Falcão em ocorrência alheia à de competência de secretário. “O cara com GCMs de Taboão em carro da GCM de Taboão indo fazer operação de delegado em Itapecerica da Serra”, disse. Um livre-nomeado do governo Aprígio também reprovou. “Se ele é [da administração] de Taboão, o que está fazendo em Itapecerica?”, questionou.
Um morador usou o vídeo da primeira “live” de Falcão para, sobre a imagem, inserir questionamento sobre a ida do secretário para atender ocorrência alheia ao município de atuação. “GCM [de] Taboão da Serra SP fazendo rondas em Itapecerica. Será que isso é correto?”, denunciou. Falcão é delegado da Polícia Civil, mas pediu licença para assumir a Secretaria de Segurança, em agosto do ano passado. Desde janeiro de 2021, porém, ele já “mandava” na pasta.
Outro servidor também criticou a “aparição” do secretário de Segurança de Taboão em outra cidade. “Quis se autopromover, como tem feito desde antes de assumir o cargo”, disse, ao sugerir que o titular da pasta faz política no cargo. Na primeira “live”, Falcão citou um deputado estadual que agora é candidato a deputado federal. “O cara mal consegue cuidar das questões de segurança da cidade e quer fazer média em outro município”, completou.
Na terça-feira (9), em tribuna da Câmara dos Vereadores, ao tentar justificar a questionável tática de manter carros da GCM parados em seis pontos na cidade (cinco no centro expandido), sem poder sair para patrulhar, Falcão disse que “peguei guardas que pegavam as viaturas no começo do plantão e sumiam para Itapevi, Guarulhos”. “O contribuinte não paga para irem ‘vagabundear’ em outro município”, disse, em acusação vista como jogo de cena.
Um GCM de Taboão lembrou o discurso de Falcão. “Ué, ele não disse na Câmara que os guardas ‘voavam’ fora do município e que era um absurdo por que os munícipes ficavam desamparados?”, reprovou. Falcão ainda alegou que a GCM tinha que atuar como “polícia”, que não podia cuidar dos prédios municipais, senão, “em dois meses, este município se transformaria num caos”. Contudo, ele e pelo menos um GCM foram se “ocupar” em outra cidade.
O GCM ainda abordou a necessidade de Falcão atender um caso em outro município – em local distante cerca de 30 quilômetros. “Lá não tem polícia?”, disse, irônico. Questionado qual a justificativa para o secretário ir acompanhar uma ocorrência fora de Taboão, e ainda com pelo menos dois funcionários, dos quais um GCM, quando deveriam estar a serviço da população que paga impostos à prefeitura e o salário dos servidores, Aprígio ficou em silêncio.
IMAGEM DE ‘LIVE’ DE FALCÃO A CAMINHO DE ITAPECERICA, COM SERVIDORES, EM DENÚNCIA DE MORADOR