Falcão ataca delegado e ‘ameaça’ governo; com ‘desastre’, Câmara censura vídeo

Especial para o VERBO ONLINE

Falcão ao hostilizar a imprensa independente, atacar delegado e ao fazer fala sobre contrato vista como ameaça ao governo para não ser exonerado | Reprodução

ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão da Serra

O secretário de Segurança do prefeito Aprígio (Podemos), Rodrigo Falcão, fez um discurso na Câmara de Taboão da Serra nesta terça-feira (9) em que hostilizou os órgãos de imprensa que elegeu como oponentes apenas por não gostar de notícias veiculadas, distorceu fatos, lançou suspeita sobre o próprio governo com contrato nebuloso e atacou até delegado da cidade. Diante da fala “desastrosa”, o Legislativo, governista, tirou o vídeo da sessão do ar.

Falcão iniciou o discurso, de mais de 30 minutos, com ar de “vítima” e já com a tática de usar a Guarda Civil Municipal para justificar as novas polêmicas que protagonizou, o trancamento de viaturas e proibição aos GCMs até de portar celular. “Tem gente do povo que deveria estar dando apoio à segurança pública ou fazer a sua parte, mas joga contra. E quando a pessoa usa o sangue destes homens que matam e morrem por vocês não é cidadão, é criminoso”, disse.

Ao usar a GCM como “escudo” em seguida, Falcão alegou que Taboão tem “muito a comemorar” por conta de que, pelo “sangue destes homens conseguimos diminuir sobremaneira diversos índices criminais”. Mas, em vez de citar dados e a fonte, atacou a imprensa local, seletivamente. “Foi ressaltado que a segurança zera roubos, porém furtos disparam. Pessoa que faz esse tipo de reportagem quer o que com esses homens [GCM], desqualificar?”, disse.

“Ou criar audiência em cima dos mesmos? Não tem audiência. Juntando todos esses da imprensa podre não dá 10% do que tenho”, continuou Falcão, no primeiro insulto, sem nominar, ao jornal “Atual”, ao blog “Bar & Lanches Taboão” e ao VERBO. Em resposta aos veículos, ele tentou justificar ter tirado a GCM da guarda dos prédios da prefeitura. “Se trabalhássemos tão somente nos próprios municipais, em dois meses, este município se transformaria num caos.”

Depois, Falcão mirou os guardas que escolhe como desafetos. Ao alegar ter ido à Câmara pleitear aposentadoria dos policiais aos GCMs “que já se doaram demais por esta população, que por vezes é ingrata”, ele disse que “não viemos ameaçar nenhum vereador nem o prefeito de parar [greve], como pessoas de dentro da instituição [GCM] que contribuem com a imprensa podre fazem”, quando as acusou de “vazar informações para fazer política” na Guarda.

“Eles gravam o rádio em que você está falando e repassam para a imprensa que é amiga deles. Não é nem imprensa, a que não tem compromisso com a verdade e que não divulga a fonte não faz imprensa, faz fofoca”, atacou Falcão, em afronta à lei – apesar de ser um delegado de polícia – sobre o direito constitucional do sigilo da fonte. Ele ainda insultou o repórter do “Atual”. “Temos um grande representante aqui. Não vou citar o nome do pilantra”, falou.

Falcão ainda fustigou Eliel Miranda, do canal “Azul Marinho”, pelo youtuber ter criticado proibições que baixou ao repercutir texto deste portal, para de novo fazer acusação grave contra GCMs. “Repassaram reportagem para este cara sobre o que estou fazendo com os guardas. Peguei aqueles que pegavam as viaturas no começo do plantão e sumiam para Itapevi, Guarulhos. O contribuinte não paga para irem ‘vagabundear’ em outro município”, alegou.

“Pré-determinei conforme estudos técnicos onde as viaturas podem ficar paradas. Não vão ficar mais em outro município, [GCM] não vai ficar mais dormindo na base. Não são muitos, são cinco ou seis, que já colocamos nos devidos lugares”, prosseguiu Falcão, ao repetir acusação contra uma GCM, a quem assediou moralmente, na realidade. Alegou ainda ter sido ameaçado de morte por um GCM “que estava ‘voando’ [fora da cidade] ou cagando'”.

“Faziam isso ou mandavam mensagem de dentro da Guarda para a imprensa que recebia dinheiro do antigo governo e hoje passa fome”, disse o secretário, em nova fala desrespeitosa. Apesar de agente público, ele apelou à tese que tenta emplacar de que é perseguido pelo VERBO e falou que este repórter “um dia virou para mim e falou ‘enquanto você não me der uma [entrevista] exclusiva, vai ver o inferno que a sua vida vai virar”. Em delírio, Falcão mentiu.

Falcão ainda murmurou que “todos os meses tem de assinar um contrato de R$ 500 mil, R$ 6 milhões anuais”, sobre o videomonitoramento na cidade. “A gente não sabe quem tem acesso ao nosso sistema de inteligência. É o que acontece aqui. Quem firmou esse contrato? Eu não sei, mas sei que tem alguém se locupletando”, disparou, em fala vista como endereçada ao secretário Junior Eckstein (Administração), como ameaça contra ser exonerado do cargo.

Por fim, Falcão atacou o delegado-titular do 1º DP (centro), contrariado após ter ouvido que delegacia não é lugar para fazer política. “O cara do alto da ignorância achou que era política. Fomos registrar ocorrência do vazamento das informações [da GCM], e o senhor disse que não via crime, e se eu quisesse faria com plantonista. Os aluguéis [dos prédios da polícia] são pagos não pelo Estado nem pelo senhor, que nunca fez nada por este município”, disparou.

Após dois esboços de palmas durante a fala inteira, Falcão deixou a tribuna sob grande silêncio, sem aplauso. Os vereadores ficaram atônitos com o potencial de estrago do discurso. A sessão foi suspensa, até esta quarta-feira. O vídeo entrou como “privado” e depois sumiu do canal da Câmara. Procurado, o presidente Carlinhos do Leme (PSDB) não respondeu aos contatos. Só nesta quarta a gravação voltou ao ar, sem nenhuma explicação nem da assessoria.

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