ADILSON OLIVEIRA
Especial para o VERBO ONLINE, em Taboão a Serra
Uma jovem de 19 anos vítima de estupro foi desacolhida de abrigo conveniado pelo governo Aprígio (Podemos) após denunciar negligências no centro, entre elas a de que o espaço é um “depósito humano” com pessoas com mais de um ano no local que não são transferidas e que “um senhor passou uma noite sem conseguir dormir de dor”, com uma grave ferida no abdômen. O idoso citado pela menina, Carlos Roberto Rocha, morreu nesta quinta-feira (14).
O VERBO revelou na segunda-feira (11) que a jovem, estuprada pelo pai, procurou a Coordenadoria da Mulher de Taboão da Serra e foi colocada, apenas para pernoitar, no CPA (Centro de Provisório de Acolhimento), da ONG Sementes do Amanhã, contratada pela prefeitura. No dia seguinte, a coordenadora Gisele Almeida disse que ia conduzir a vítima para fazer exame de violência sexual, mas a levou para um parque e a deixou com hemorragia.
Gisele voltou com a jovem para o CPA. Ela buscou a menina de novo com a alegação de a levar para um abrigo no ABC, mas a conduziu à Coordenadoria da Diversidade Sexual de Taboão. De volta ao CPA, a vítima sofreu outra violência, uma cabeçada de um interno. Dias depois, Gisele retornou ao abrigo para dizer para a menina que não ia ficar mais no local. Ela acabou encaminhada para o Centro Pop, justamente para onde foi mandado o agressor.
Uma moradora procurou este portal para denunciar que Gisele tirou a jovem do CPA e apontou como motivo a menina ter relatado irregularidades no abrigo. “Ela é super protegida do ‘seu’ Aprígio, ela se intitula a assistente social particular do prefeito. E antes ela era funcionária da ONG, entendeu?”, observou. “Como [a menina] falou sobre o horror de coisas que acontecem lá dentro, deram uma bronca nela e falaram ‘você vai ser desacolhida’”, acusou.
Entre as “coisas erradas” no CPA que apontou, a jovem chamou a atenção para a falta de assistência para o idoso. Ele portava uma bolsa de colostomia e estaria há vários dias com a lesão infeccionada – sangrava. “Um dia ficamos da 1 hora da madrugada até as 8 da manhã acordados porque ‘seu’ Carlos não deixou ninguém dormir porque estava com dor. Enfim, ele foi levado ao médico, só no outro dia”, contou a menina, que falou à reportagem no último dia 6.
A jovem denunciou que o idoso – que voltou ao CPA – não poderia continuar no abrigo naquelas condições. O espaço não possui equipe de enfermagem. Apenas depois da queixa da menina, a prefeitura internou o idoso, no domingo (10), no Pronto-Socorro Antena. Na segunda-feira (11), ao falar com a reportagem, a denunciante reforçou o relato da garota. “Tem um senhor no CPA morrendo à míngua. É grave. Ele tem colostomia e não estão cuidando”, afirmou.
A denunciante acusou negligência da gestão. “A Secretaria de Assistência tem ciência, viu?”, disse. O idoso morreu no próprio Antena. Rochinha era conhecido – de muletas, ele antes frequentava a Câmara dos Vereadores. Hoje, a moradora lembrou que a jovem “denunciou na rua para todo mundo ouvir que ele passou dois dias gritando de dor”. “Se tivesse sido cuidado, poderia ter durado mais”, lamentou a menina hoje. Questionado, o governo Aprígio ignorou.