ALCEU LIMA
Especial para o VERBO ONLINE, em Embu das Artes
Em prática idêntica à da gestora anterior dos três prontos-atendimentos da prefeitura de Embu das Artes – a AMG (Associação Metropolitana de Gestão), que foi desligada do serviço após ser identificada como um grupo criminoso e ter os controladores presos pela Polícia Federal -, a organização social (OS) Mãos Amigas atrasa ou não paga os direitos trabalhistas e até não recolhe o Fundo de Garantia aos funcionários demitidos, denunciam ex-colaboradores.
Uma profissional dispensada pela organização há mais de 30 dias procurou o VERBO por ajuda para receber o que tem direito. “Gostaria de fazer uma denúncia. É sobre a empresa Mãos Amigas, que administra a saúde de Embu das Artes. Fui demitida e não recebi meus direitos trabalhistas. O FGTS não está em dia, não estão depositando. E o pessoal que ainda está trabalhando recebeu o pagamento e eu não recebi nada”, afirma a hoje ex-funcionária.
A ex-contratada trabalhou na OS por quase três anos – passou pelas três unidades de urgência e emergência do município (Pronto-Socorro Central, UPA Santo Eduardo e Hospital Leito do Vazame). Mas nem o salário ao fim do mês era pago em dia. “Eu pedi para ser mandada embora por desmotivação no trabalho, atrasos de pagamentos e outras coisas. Mas me demitiram sem justa causa com todos os direitos. Porém, até agora não me pagaram nada”, reclama.
A profissional já cobrou o pagamento pelo menos quatro vezes, no Recursos Humanos da OS. “Dizem que está em tratativa no financeiro. Mas que não tem uma data para me pagar”, conta. Ela conhece ex-colegas que chegaram a receber parte dos valores, mas após muita demora e ainda esperam pelo pagamento integral. “Receberam com muito atraso. Só o dinheiro da rescisão que receberam. Porém, os papéis do seguro-desemprego e FGTS não”, diz.
A reportagem conversou com outra ex-funcionária da OS. Segundo ela, a Mãos Amigas – que assumiu a gestão dos três prontos-atendimentos de Embu em outubro do ano passado – acumula problemas desde a saída da empresa anterior. “Quando a AMG saiu, eles entraram e falaram que iam arcar com tudo. Em novembro, já era para eles fazerem o pagamento do FGTS. Não foi feito e ficou em atraso. A gente olhava no INSS, ia atrás, perguntava”, lembra.
“[Eles falavam:] ‘Ah, vai depositar. Está depositando em montante, não está depositando individualmente’. Acabou que ficou atrasado. No mês passado, eles pagaram referente a novembro, mas ainda está em atraso”, recorda a ex-funcionária. Ela recebeu apenas parte dos direitos devidos. “Eles não me pagaram a multa por atraso da rescisão. Recolheram a multa dos 40%, mas não o FGTS referente a dezembro até os meses em que trabalhei”, afirma.
A má gestão financeira seria crônica. “Aconteceu com todo mundo que saiu. Lembro que na época que estava lá o pessoal da enfermagem foi mandado embora, e eles não recolheram o FGTS. E até agora não foi regularizado”, diz, ao apontar como apenas uma das várias deficiências da gestora. Sobre os “vícios”, ela não vê distinção entre a AMG e a Mãos Amigas. “A diferença é o nome da empresa. Continua tudo igual, os problemas são os mesmos”, declara.
A Mãos Amigas é contratada pelo governo Ney Santos (Republicanos). Em maio, em sessões na Câmara, o vereador Índio Silva (Republicamos) chegou a dizer que a empresa estava sem pagar os direitos de ex-funcionados. Ele fazia oposição a Ney. Índio voltou à base governista e não fiscalizou a OS nem defendeu mais a causa dos ex-empregados da OS. “Estou desesperada. Já procurei vereador, já conversei e nada adianta”, lamenta a profissional sem receber.
OUTRO LADO
O VERBO questionou a Mãos Amigas, por dois e-mails diferentes, sobre atrasar e não pagar os direitos trabalhistas a ex-funcionários. A OS não se pronunciou. Contatado, por meio da funcionária Maiara, o RH também não respondeu. Procurado, Índio Silva ficou em silêncio. Este portal ainda questionou o prefeito sobre o não pagamento por parte da empresa de saúde que contratou – “o que tem a dizer a esses profissionais, mães e pais de família?”. Ney ignorou.